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‘A Outra Máquina’: o cientista que racionalizava tudo, até o amor (em partes)

Essa obra de ficção científica brasileira é um terço envolvente, um terço engraçada e outro terço romântica

SCI-FI
23 set 2022 | Por Alessandra Ueno (aleueno@usp.br)

O e-book A Outra Máquina, publicado em 2022 pela editora nacional Dame Blanche, é uma novela em prosa. Escrita por Márcio Moreira, ela é uma pesquisa, uma antologia de poemas e um roteiro, tudo junto, como diz o autor em seu blog.

A história envolve três personagens centrais: Crisântemo, o cientista; Carolina, a esposa dele, e o Tempo, o conceito. Sim, nessa obra, o Tempo é um personagem e ainda fala!

A narrativa começa com Carolina saindo de casa, deixando Crisântemo sozinho. O cientista só percebe a ausência da esposa dias depois, quando certas situações da rotina não faziam mais sentido — como acordar na cama sozinho, não ter com quem comer strogonoff toda sexta-feira —, racionalmente falando, já que ela não estava lá. Procurando por Carolina, Crisântemo fala com a própria mãe e descobre que ela precisava de tempo, é quando começam os questionamentos e a percepção da falta que Carolina fazia.

O cientista queria saber por que Carolina o deixou e como isso aconteceu. Essa mudança não encaixava em suas equações físicas, todas as variáveis se  tornaram sua esposa, sua mente já não conseguia pensar em outra coisa, senão a amada.

A imagem mostra um bloco de notas com uma citação do livro "A Outra Máquina". Lê-se: "O corpo dele ia, todo ângulos retos. O corpo dela voltava, onda quebrando na areia".
Citação do livro A Outra Máquina. [Imagem: Divulgação/ Tumblr: aquelemarciomoreira]

Mas a situação muda quando o pensamento de que o Tempo cura tudo aparece.

“Havia uma teoria pouco acreditada, publicada em 1637 por um físico holandês, segundo a qual o Tempo seria capaz de curar todas as dores. E, se isso fosse mesmo verdade, por que esperar? Ele mesmo poderia colocar essa teoria à prova e construir um dispositivo tal que acelerasse seu processo de cura.”

Crisântemo decide criar uma Máquina do Tempo. A partir desse ponto, o personagem Tempo aparece e leva o cientista em uma viagem imersiva. Com essa experiência, ele compreende o amor em partes, porém, mais do que compreendia no começo: quando ele era só batimentos cardíacos elevados e a equação “acordar todos os dias ao lado de Carolina”. A aventura o leva para o passado, o passado mais longe ainda e até para antes da criação do universo.

Tinha tantas questões [para o Tempo]: como ele se sentia quando queriam matá-lo? Ele era mesmo dinheiro e, caso fosse, qual era a taxa de câmbio do minuto para o real?”

A imagem mostra um bloco de notas com uma citação do livro "A Outra Máquina". Lê-se: "Dados referentes a seu uso de aplicativos de conversa e sua predileção por mingau de aveia (Tabela 37) também confirmam que, de fato, o Tempo é muito antigo".
Citação do livro A Outra Máquina. [Imagem: Divulgação/ Tumblr: aquelemarciomoreira]

A escrita do autor é leve e fluida. Ele usa bastante a linguagem científica porque o foco é a narrativa do cientista, o que é muito interessante, pois serve como um recurso imersivo da história. Mas não se assuste! A presença de trocadilhos e piadas deixam toda a parte sobre física, matemática e afins divertida (é difícil, mas o livro consegue muito bem).

Eu não digo nada, só passo por aí e as pessoas apontam, ‘vê lá, o Tempo correndo‘”

O enredo é relaxante, cômico e, em partes, romântico. “Em partes” porque Crisântemo é um pouco confuso quanto aos seus sentimentos, mas, com o avançar do livro, isso muda bastante. Em A Outra Máquina, não há reviravolta ou tensão como em muitas obras de ficção científica, mas o autor consegue manter o leitor atento à história pela tranquilidade que traz. Várias frases no decorrer da trama saltam aos olhos por serem muito bonitas. Ao terminar de ler, o leitor vai refletir sobre a própria história, a própria linha do destino e o próprio Tempo.

“— Esquecer não é uma tarefa que você executa — respondeu o Tempo com displicência. — Afinal, pensar em esquecer ainda é lembrar.”

*Imagem de capa: divulgação/Editora Dame Blanche

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