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Da pena à película: Fitzgerald no cinema
CINÉFILOS
07 out 2014 | Por Jornalismo Júnior

de Jullyanna Salles
salles.candido@gmail.com

Francis Scott Key Fitzgerald foi um grande escritor do século XX. Pertencente à “geração perdida”, grupo assim nomeado por Gertrude Stein por, ao fim da primeira guerra mundial, refugiar-se na França a fim de dar espaço a discussões filosóficas, desenvolvimento da criatividade e criações artísticas. Ao lado dele, juntam-se nomes como Ernest Hemingway e T. S. Elliot, na literatura, e Pablo Picasso e Salvador Dalí, nas artes plásticas. Ao longo dos anos, algumas das obras de Fitzgerald foram materializadas no plano cinematográfico, dando ainda mais força para a perpetuação de seu trabalho e aumentando a gama de interpretação de suas histórias. O Cinéfilos foi procurar, entre alguns dos livros e películas, a sensibilidade sóbria do escritor que não escondia seus excessos com a bebida, tampouco a ironia com sua pena.

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O Grande Gatsby

O livro foi lançado em 1925 e é considerado o maior e melhor sucesso de F. Scott Fitzgerald. O romance conta a história de um milionário, Jay Gatsby, sob a narração de seu vizinho, Nick Carraway. Jay esconde um passado composto de mistérios e emoções, um presente tumultuado com festas gigantescas e um futuro milimetricamente planejado. É feita uma crítica sobre a high society da época através de um caso de amor com desfecho inusitado. O enredo fala sobre dinheiro, aparências e jogos de interesses sociais de forma sutilmente irônica, mas sem comprometer a seriedade do assunto.

As adaptações para o cinema foram inúmeras. A começar por uma versão muda em 1926, dirigida por Herbert Brenon. Em 1949, Elliott Nugent produziu o que seria a segunda versão do filme, de um total de quatro.

Francis Ford Coppola se aventurou na construção de um roteiro novo para a história em 1974, com a direção de Jack Clayton. Interpretando o protagonista, Jay Gatsby, reconhecemos o então galã Robert Redfort. É possível analisar algumas tendências estéticas nesse filme, como a aplicação de reflexos nas cenas, feita através de espelhos ou à margem de lagos. Também observa-se a fidelidade às falas do livro, que são cuidadosamente reproduzidas, vígula a vírgula. É necessário reconhecer, nessa produção, uma timidez na trilha sonora. É difícil notar o fundo musical, sempre apresentado com bastantes limitações e sem muito destaque, a não ser nas passagens que ilustram as festas promovidas por Gatsby.

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A mais recente adaptação foi realizada em 2013, pelo diretor Baz Luhrmann. O longa impressiona pela produção visual. Os cenários, figurinos e sets são incomparáveis com as versões anteriores. As únicas indicações ao Oscar foram, justamente, Melhor Design de Produção e Melhor Figurino. Além disso, é necessário frizar os cuidados com a trilha sonora, mesclando tendências dos anos vinte a composições atuais e exclusivas de bandas como Florence and the Machine e The xx, além de um single escrito por Lana Del Rey em conjunto com o próprio Luhrmann. O contemporâneo e o clássico musical formam uma trilha de alta qualidade. O roteiro não foi alterado de forma significativa, muitos dos diálogos originais também foram mantidos. Entretanto, deve-se destacar as interrupções feitas pelo narrador-personagem, Nick Carraway (Tobey Maguire). Elas são responsáveis por facilitar o entendimento dos acontecimentos por aqueles que não leram o livro. Além disso, são capazes de aproximar o público, no cinema, do registro literário e do próprio escritor a medida que expõem os pensamentos de Nick e caminham junto com o espectador, convidando-o a adentrar aquele mundo.

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O Curioso Caso de Benjamin Button

Trata-se de um conto, lançado em 1922 por Fitzgerald. A história fala sobre um homem cuja vida desrespeita o ciclo cronológico de envelhecimento. Benjamin nasce idoso e termina seus dias como um bebê. O tom fantástico da obra não é suficiente para descartar a melancolia em que ela é embebida. No conto, o sarcasmo e a ironia são marcantes e registram uma comicidade ligeiramente mórbida. A adaptação para o cinema foi realizada por David Fincher em 2008. Com quase três horas de duração, o filme é capaz de prender a atenção do espectador do começo ao fim, obrigando-o a se adentrar na trajetória de vida inversa do protagonista, interpretado por um Brad Pitt e uma maquiagem surpreendente e merecedora do Oscar conquistado no ano seguinte.

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É necessário observar, entretanto, a pouca fidelidade entre o conto e o filme. Se o eixo do envelhecimento contrário é levado à risca para a adaptação cinematográfica, ele pode ser considerado também um dos poucos aspectos inalterados. O registro literário aponta um enredo mais cômico e menos dramático. Nos cinemas, o que se viu foi um grande romance, baseado em um tom sério e sóbrio, apesar da fantasia. Contudo, não é possível descreditar o longa de Fincher. Uma das alterações do diretor foi a adição de um núcleo com um asilo, onde Benjamin foi cresceu. No livro, o protagonista não é abandonado pelo pai, tampouco é orfão de mãe e, portanto, é criado pelo casal. Essa mudança acrescentou histórias paralelas fundamentais a vida de um homem e detalham o que Fitzgerald deixa no ar. A essência do conto literário foi alterada, mas resultou em uma produção de muito valor, se não confirmado pelas 13 indicações ao Oscar e 5 ao Globo de Ouro, que seja pelo quase consenso de aprovação por parte do público.

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O Último Magnata

O livro foi lançado em 1941, um ano após a morte de Fitzgerald. A edição final só foi possível a partir de seu manuscrito interminado e suas anotações. A história narra a trajetória de Monroe Stahr, um produtor de filmes de Hollywood com muito reconhecimento. O protagonista é completamente comprometido com o trabalho até que um caso de amor o leva a excessos antes devidamente controlados.

Foi Elia Kazan o responsável pela direção do longa-metragem que conta com nomes ilustres no elenco como Jack Nicholson e Robert De Niro. O último, interpretando o jovem Monroe Stahr, retrata muito bem a mudança que o personagem sofre ao decorrer da história. Muito ponderado e inteligente a princípio, De Niro consegue surpreender nas cenas de inconsequência de Stahr. Tal qual na obra literária, o leitor, e agora espectador, deixa de reconhecer o produtor cinematográfico competente e passa a enxergar um homem tomado pela incerteza e pessimismo. O Último Magnata, 1976 (The Last Tycoon) foi lançado em preto e branco e é muito interessante para acompanhar a carreira dos atores presentes nele e que, hoje, atingiram níveis de reconhecimento relevantes dentro no cinema.

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Fica claro que, se tratando de um escritor talentoso como F. Scott Fitzgerald, jamais será fácil realizar a adaptação dos registros literários para a sétima arte. Entretanto, a apropriação cinematográfica de enredos tão ricos como os que o autor expôs pode ser muito positiva no sentido de ampliar os horizontes da interpretação, ou mesmo do desenvolvimento do roteiro. O cinema e a literatura podem andar juntos e são capazes de viver em uma relação de mútuo benefício. Seja expandindo e disseminando a obra do escritor por outros meios, ou despertando interesse pela história original.

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O Cinéfilos é o núcleo da Jornalismo Júnior voltado à sétima arte. Desde 2008, produzimos críticas, coberturas e reportagens que vão do cinema mainstream ao circuito alternativo.
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