Por Victor Aguiar
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“A gente tem que mostrar que a cultura tá aqui, tá viva.” A frase do líder indígena Ninawa Inu Huni Kui, da tribo dos Huni Kuin, consegue ilustrar, da forma mais breve possível, o objetivo de “Guerreiros da Floresta”. Produzida pela TV Futura em parceria com a produtora Santa Rita Filmes, a série possui 13 episódios, cada um com 25 minutos de duração. Como proposta, busca mostrar, de forma humanizadora, a vivência e algumas das dificuldades enfrentadas por três diferentes povos indígenas da região Norte do país: os já mencionados Huni Kuin, distribuídos entre 22 aldeias no interior do Acre; os Paiter Suruí, localizados no interior de Rondônia; e os Yanomami, detentores de uma das maiores populações originárias restantes no país e habitantes do interior de Roraima, em região de fronteira com a Venezuela.
Ao entrar nesse universo, a atenção de quem assiste já é captada, desde o começo do primeiro episódio, pela elevada qualidade estética e de produção do programa. Este traz ao espectador imagens belíssimas da Floresta Amazônica e dos povos apresentados, feitas de forma inovadora pelo uso de drones e outras tecnologias. O resultado final é um “tempero” visual que, se não essencial, adiciona muito ao conteúdo apresentado.

[Créditos: Henrique Mourão e Magno Gomes]
Essa mesma dinâmica humanizadora nos leva ao principal objetivo da série: mostrar, para as pessoas de fora, a vida nas aldeias e os esforços empregados para a sobrevivência desses povos e de suas tradições. Tal processo é executado de forma a gerar a empatia necessária para que a população em geral crie consciência a respeito do desmantelamento das já enfraquecidas estruturas de proteção aos indígenas. Para o líder Almir Suruí, as maiores armas dos povos originários hoje são exatamente o diálogo e a comunicação, elementos que a série valoriza e busca desenvolver.

[Créditos: Henrique Mourão e Magno Gomes]
Entre os Paiter Suruí, a situação também é grave: diante de um cenário de forte agressão ambiental em função da atividade agrícola predatória da região, os líderes desse povo se viram obrigados a tomar alguma atitude. Dessa forma, foi formulado um plano de 50 anos, com foco em uma gestão de desenvolvimento socioambiental, que combatesse os danos causados pela exploração desordenada. Com a assistência de várias tecnologias e diversas parcerias (até com o Google), os Suruí têm conseguido gerar renda através de uma produção agroecológica orgânica, além de promover o reflorestamento de áreas devastadas e controlar a ação de madeireiros ilegais.
Para os Yanomami, um dos principais alvos do discurso antidemarcações que tem como expoente o presidente Jair Bolsonaro, a missão também é a de combater a ação dos agentes externos apresentados. Vítimas históricas da influência do homem branco, viram sua cultura perder espaço entre as últimas gerações, e agora buscam uma retomada através não só de festas, eventos extremamente importantes para os Yanomamis, mas também pelo registro escrito. Na série, o xamã Davi Kopenawa dá como exemplo, entre muitos outros, uma obra de sua própria autoria: “A Queda do Céu”, um testemunho autobiográfico e manifesto contra a destruição da Floresta Amazônica.

[Créditos: Henrique Mourão e Magno Gomes]
Dentro do contexto em que vivemos, produções como essa são extremamente importantes para enaltecer a necessidade da preservação dos patrimônios nacionais natural e cultural, bem como da defesa de populações que se encontram ameaçadas. Representantes do poder político como Bolsonaro ou o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, não por acaso se omitem a respeito desse lado da história, e conhecer as dificuldades enfrentadas por diferentes povos é essencial não só pelas razões já citadas, mas também pelas reflexões que podem ser feitas a partir desses relatos em relação a nossos valores e práticas. Portanto, não há público específico para “Guerreiros da Floresta”, e é possível aprender muita coisa dentro de cada episódio, fazendo valer cada um dos 25 minutos.
O Sala33 também cobriu a coletiva de imprensa deste seriado, acesse o texto aqui.