Por Bianca Caballero
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No filme O Mordomo da Casa Branca (Lee Daniels’The Butler, 2013) nos é contada a história do mordomo fictício Cecil Ganes (Forest Whitaker) – homem que passa sua vida servindo brancos e, na maior parte dessa, o faz trabalhando nos bastidores da Casa Branca, onde permanece durante sete mandatos, de 1957 a 1986. Lá, acompanha de perto as negociações e tensões por trás da luta pelos direitos civis dos negros norte-americanos.
Desde pequeno, Cecil aprende a ser submisso aos brancos, sendo primeiramente um “negro da casa” e tornando-se em seguida mordomo, profissão que exerceria pelo resto da vida. Trabalhando sempre de modo impecável, assume dentro do trabalho uma feição diferente da que possue fora desse, o que permite que ele obtenha tanto sucesso em seu cargo. Acostumado a tal situação, Cecil é um homem que por muito tempo não demonstra indignação diante daquilo vive. Aceita tal submissão e não se envolve com os movimentos que lutam pelos direitos dos negros na sociedade norte-americana.
Principalmente enquanto trabalha na Casa Branca, o que o filme nos mostra é um mordomo muito dedicado ao que faz e que demonstra respeito pela grande maioria dos presidentes com os quais convive. Porém, tal dedicação exacerbada faz com que ele esteja mais presente na Casa Branca do que em sua própria casa. Essa ausência, que na realidade é comum na vida de diversas pessoas, independente da proximidade com tal casa, leva Cecil a enfrentar uma série de problemas. Ele se torna mais distante de sua família e principalmente de sua mulher Gloria Ganes (Oprah Winfrey).
Entretanto, o que pode ser apontado como maior e mais importante conflito apresentado no filme é o estabelecido entre Cecil e seu filho Louis (David Oyelowo). O garoto apresenta uma oposição ao perfil do pai, pois, desde jovem, se mostra indignado com a segregação existente na sociedade a sua volta e demonstra vontade de se opor a essa, algo desestimulado por um pai temeroso pela vida de seu filho. Ao entrar na faculdade, alia-se a um grupo que luta pelos direitos civis e ao começa a participar de tais movimentos não os abandona mais.
Assim, o filme apresenta uma perspectiva diferente sobre um momento muito importante da história dos Estados Unidos. Ele nos coloca diante do ponto de vista de um homem que passa seus dias ao lado das pessoas que mantêm o sistema como ele funciona, Cecil presta serviços para estes e, em muitos casos, nutri forte respeito por aqueles estão no poder. Entretanto, esse mesmo homem possui um filho que luta todos os dias por uma causa nobre, se sujeitando a ser preso e por sua vida em risco em nome de princípios nos quais acredita. Dessa forma Cecil vive, e nós acompanhamos, dois bastidores da luta racial norte-americana. O daqueles que comandam o país e o daqueles que se sacrificam em nome da luta.
Ao longo do filme, o que observamos é um momento de mudanças. Ao lado de uma sociedade norte-americana que sofre transformações, acompanhamos a vida de um homem que também terá sua forma de pensar alterada. A lição de filho para pai exibida no longa deixa ainda mais emocionante uma época tão importante da história dos Estados Unidos.
Ainda que fictício, o filme foi inspirado no artigo do Washington Post, “Um Mordomo Bem Servido Por Essa Eleição” (A Butler Well Served By This Election), escirto por Wil Haygood em 2008.