Ver Natalie Portman no elenco de um filme é geralmente um atrativo para ir aos cinemas. Seu talento, consagrado em 2011 com o Oscar de Melhor Atriz por Cisne Negro (Black Swan, 2010), é admirável; ao ponto de conseguir salvar da total ruína o novo longa Vox Lux 一 O Preço da Fama (Vox Lux, 2019).
A história começa num tom um tanto quanto dramático, ao fazer uso de um recurso pouco usual: o narrador. O espectador é apresentado à história de Celeste (papel inicialmente interpretado por Raffey Cassidy e depois por Portman), menina comum — como o próprio narrador descreve — mas que sobreviveu a uma tragédia de proporções horripilantes. Após atentado em sua escola, no qual todos os alunos de sua sala foram assassinados, Celeste foi a única sobrevivente, apesar do tiro em seu pescoço.

A jovem Celeste num ambiente completamente novo: o estúdio de gravação [Reprodução]
Mas essa suposição não se confirma. Ainda outros dois atentados são mostrado ao longo do filme e apesar de relevantes para marcar momentos na vida da protagonista, são apenas isto: marcos temporais. Qualquer que tenha sido o objetivo de Corbet ao apresentar tanta violência, o tema se perde no enredo.
Depois do trágico acontecimento, que é o ponto inicial para o desenvolvimento da história, o espectador pode entender melhor como nasce a estrela de Vox Lux. A carreira musical de Celeste se inicia de forma simples, com uma canção composta em conjunto com sua irmã Eleanor (Stacy Martin). Ao cantá-la na cerimônia em homenagem aos jovens assassinados, a transmissão televisiva faz com que o mundo das irmãs se transforme completamente.

Jude Law enquanto um produtor musical focado, porém pouco especial para a trama [Reprodução]
A partir daí, o longa explora o início da carreira da jovem, de apenas 14 anos. A relação próxima com a irmã — e seu distanciamento abrupto, a seriedade e também os deslizes provenientes da própria juventude. Até esse ponto, há o sentimento que a narrativa seguirá certo eixo, embora o espectador já esteja certamente agoniado para ver Natalie Portman, que demora a surgir na trama.
A passagem de tempo repentina é, contudo, um susto. Ao mesmo tempo em que se deseja ver logo a estrela do filme, o modo como isso é feito — de forma tão rápida — assusta. De uma hora para a outra, vê-se uma Celeste adulta, vastamente conhecida e claramente com problemas de temperamento, que não pareciam estar presentes na personagem mais nova.

A diva pop e sua filha Albertine, que é interpretada pela mesma atriz da jovem Celeste [Reprodução]
Atuação esta que é a salvação de todo o filme. De fato, sem o porte de uma atriz como essa, o filme seria apenas mais um na extensa lista das grandes produções que não conseguem alcançar o resultado almejado. O design de produção e a edição de som perfeitos não seriam suficientes para salvar Vox Lux, embora sejam aspectos admiráveis do longa.

A atuação de Portman é o fato mais remarcável da obra [Reprodução]
Bom, ao menos, há a possibilidade de reviver um pouco da Natalie Portman de Cisne Negro, sendo esse talvez o maior triunfo de Vox Lux. O filme estreia no dia 28 de março. Confira o trailer:
por Maria Eduarda Nogueira
mariaeduardanogueira@usp.br