A Copa do Mundo Feminina de 2023 ainda não começou, mas já é histórica para as Filipinas. Pela primeira vez, elas conseguiram a tão sonhada classificação. Com bons resultados conquistados recentemente e medidas para a profissionalização de mulheres no país, as atletas filipinas esperam conquistar o apoio da torcida para irem longe no torneio.
Surgimento da seleção
O futebol feminino começou a ser organizado nas Filipinas depois da criação da Associação Filipina de Futebol Feminino, em 1980. A seleção nacional surgiu junto com a primeira Liga de Futebol Feminino do país. A pioneira foi Cristina Ramos, primeira presidente da associação, que também fez parte da seleção durante seis anos.
No ano seguinte, o primeiro torneio oficial foi disputado pela equipe, a Copa da Ásia de Futebol Feminino, sediada em Hong Kong. Com três derrotas na fase de grupos — para as anfitriãs, Singapura e Índia —, o time não avançou para o mata-mata.
O resultado mais expressivo foi conquistado em 1987, nos Jogos do Sudeste Asiático, um evento que reúne diversos esportes e que é organizado pelos Comitês Olímpicos Nacionais da região a cada dois anos. Porém, as Filipinas disputaram a modalidade do futebol feminino com apenas dois outros países: Tailândia e Singapura. Sem conquistar nenhuma vitória, foram premiadas com a medalha de bronze.
Caminhada rumo ao mundial
O primeiro passo para alcançar a almejada classificação para a Copa do Mundo foi a contratação do técnico australiano Alen Stajcic. Amplamente reconhecido como um dos melhores treinadores do mundo, ele conseguiu uma vaga nos mundiais de 2015 e de 2019 em seu trabalho anterior, na seleção feminina da Austrália.
Técnico Alen Stajcic durante treinos da seleção das Filipinas em 2022 [Imagem: Reprodução/Instagram @pilipinaswnt]
O treinador iniciou o seu trabalho em outubro de 2021. Três meses depois, começou a disputa da Copa da Ásia de Futebol Feminino, com sede na Índia. O regulamento foi modificado de modo que 12 times pudessem avançar ao mata-mata — antes, eram oito. Por essa razão, o torneio serviu como fase final da classificação do continente asiático para a Copa do Mundo. As cinco melhores seleções estariam diretamente classificadas e outras duas teriam mais uma chance na disputa de uma repescagem intercontinental.
Na fase de grupos, as Filipinas ficaram no grupo B e suas adversárias foram a Tailândia, a Indonésia e Austrália. Em três jogos, elas conseguiram duas vitórias, contra as tailandesas e as indonésias — por 1 a 0 e 6 a 0, respectivamente —, e uma derrota, contra as australianas — pelo placar de 4 a 0. Classificadas para as fases eliminatórias com a segunda melhor campanha, enfrentaram a seleção de Taipé Chinês, que representa Taiwan.
No tempo regulamentar da partida, a equipe filipina cedeu o empate nos minutos finais da partida. Durante a disputa por pênaltis, as duas defesas da goleira Olivia McDaniel e a conversão do último pênalti por Sarina Bolden, foram responsáveis pela classificação para as semifinais do torneio e para a Copa do Mundo Feminina.
Jogadoras filipinas comemorando a histórica classificação [Imagem: Reprodução/Instagram @pilipinaswnt]
O feito também representou a primeira classificação da equipe para as semifinais da competição. A adversária foi a Coreia do Sul, que ganhou a partida por 2 a 0. Mesmo assim, as Filipinas chegaram à 54ª posição no ranking de seleções femininas da Fifa — a melhor posição conquistada até aquele momento.
Resultados expressivos
O compromisso seguinte das atletas filipinas foi nos Jogos do Sudeste Asiático, em maio de 2022. A seleção fez parte do Grupo A, ao lado do Vietnã — atual campeão — e do Camboja. Após vencer a partida contra as cambojanas e perder para as vietnamitas, a equipe avançou para as semifinais, onde acabou eliminada pela Tailândia. A última partida do torneio foi contra Mianmar, na disputa pelo bronze. As Filipinas conseguiram a vitória por 2 a 1 e repetiram sua melhor campanha, a de 1987.
Outro grande resultado foi conquistado no Campeonato Feminino do Sudeste Asiático, sediado nas Filipinas. Mais uma vez, a equipe ficou no Grupo A, ao lado da Tailândia, da Austrália, de Singapura, da Malásia e da Indonésia. Com quatro vitórias e uma derrota, a seleção avançou para o mata-mata, enfrentou o Vietnã, venceu por 4 a 0 e chegou à final. A adversária foi a Tailândia, que já havia conquistado quatro títulos. Porém, isso não foi um problema e, com o apoio da torcida, as Filipinas ganharam por 3 a 0 e conquistaram seu primeiro título em um torneio de seleções oficial.
Filipinas durante a cerimônia de premiação de seu primeiro troféu conquistado em um torneio oficial [Imagem: Reprodução/Instagram @pilipinaswnt]
Destaques da equipe
Em 2017, quando a seleção das Filipinas era comandada pelo técnico inglês Richard Boon, um training camp — local afastado de possíveis distrações no qual treinamentos são realizados — de três meses foi realizado nos Estados Unidos. Foi uma tentativa de recrutar jogadoras para a equipe. Por conta disso, muitas atletas que hoje atuam pela seleção nasceram no país americano.
Uma dessas atletas é a meio-campista Sarina Bolden, que se destacou quando fazia parte da equipe feminina da Universidade Loyola Marymount. Ela foi chamada para o training camp e chamou a atenção de Boon. Uma das artilheiras da seleção com 22 gols em 36 jogos, Bolden também contribui com passes precisos devido a sua capacidade de controlar o meio de campo. Atualmente, joga pelo Western Sydney Wanderers, da Austrália.
Sarina Bolden antes de partida contra Mianmar, em maio deste ano [Imagem: Reprodução/Instagram @pilipinaswnt]
Outra goleadora é Quinley Quezada, que também tem 22 gols marcados. Nascida na Califórnia, chamou a atenção do antigo técnico filipino por suas atuações pela equipe do Highlanders, da Universidade da Califórnia em Riverside. A atacante pode desempenhar diversas funções ofensivas, desde mais recuada para o meio até mesmo jogar pelas laterais do campo. A atleta atua pelo Red Star Belgrade, da Sérvia.
Quinley Quezada durante a preparação para enfrentar a seleção da Malásia em maio deste ano [Imagem: Reprodução/Instagram @pilipinaswnt]
Já na defesa, as Filipinas podem contar com a jovem zagueira Reina Bonta, contratada recentemente pelo Santos. Formada em Cinema pela Universidade de Yale — com um curta-metragem premiado pelo público —, a defensora chama a atenção pelo bom trabalho com os pés e por disputar cada bola, sem desistir com facilidade dos lances.
Reina Bonta durante treinos com a equipe do Santos [Imagem: Reprodução/Instagram @reinabonta]
*Imagem de capa: Reprodução/Instagram @pilipinaswnt