Por Sabrina Brito
No Brasil, existem cerca de 24,5 milhões de portadores de deficiências físicas. Nota-se que as vidas dessas pessoas tendem a ser dificultadas pela falta de acessibilidade a locais públicos, pela exclusão e pelo preconceito, por exemplo. Alguns especialistas afirmam que, em alguns desses casos, a prática de exercícios físicos pode ajudar a melhorar a qualidade de vida dessas pessoas. Ter um bom acompanhamento psicológico também é um recurso muito valioso, sobretudo para vítimas de acidentes que culminaram em danos permanentes. Algumas atividades combinam o atendimento físico com o mental, ajudando pessoas de todo o mundo a melhorarem suas vidas nesses dois âmbitos. Um ótimo exemplo dessas atividades é a equoterapia.
A Associação Brasileira de Equoterapia, cuja sigla oficial é ANDE-Brasil, foi fundada no ano de 1989 com fins filantrópicos. Seus principais objetivos são oferecer essa forma de terapia como meio de reabilitação, educação e inserção social para melhorar a qualidade de vida daqueles que possuem deficiências ou apresentem necessidades especiais. Além de oferecer congressos e cursos em diversas cidades do Brasil, essa entidade mira o reconhecimento internacional, por meio de publicações, eventos e projetos únicos.
A história do tratamento
Especula-se que a equoterapia tenha surgido na Grécia Antiga, quando Hipócrates, conhecido pela alcunha de “pai da Medicina”, citou no seu livro “Das Dietas” a equitação como uma forma de regenerar a saúde. Ao longo dos anos, essa forma de tratamento foi se tornando cada vez mais popular, sobretudo após a Primeira Guerra Mundial, quando foi recomendado a soldados uma reabilitação através do apoio do cavalo. Apesar de ter sido disseminada no Brasil no ano a partir de 1989 em Brasília, esse tipo de procedimento terapêutico só foi oficialmente reconhecido pelo Conselho Federal de Medicina do país em abril de 1997.
O funcionamento da terapia
Segundo a ANDE-Brasil, essa prática se resume ao método terapêutico e educacional que utiliza o cavalo para uma abordagem interdisciplinar dentro das áreas de saúde, educação e equitação, buscando o desenvolvimento biopsicossocial de indivíduos com deficiência e/ou portadores de necessidades especiais.
Seus benefícios incluem a melhora do fortalecimento e tônus muscular, o alinhamento e controle da postura, o desenvolvimento da coordenação motora e o aprimoramento do equilíbrio, além de promover sensações de bem-estar, autoconfiança, melhora da autoestima e da socialização e a superação de medos e traumas.
A equoterapia e a paraplegia
Um dos tipos mais graves de deficiência física é a paraplegia, que consiste na paralisia das pernas e da parte inferior do tronco. As principais causas dessa deficiência, que afeta dezenas de milhões de pessoas ao redor do mundo, são os acidentes de veículos motorizados, como carros e motocicletas. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), entre 250 e 500 mil indivíduos sofrem lesões na coluna vertebral a cada ano.
É muito comum para pessoas paraplégicas desenvolverem algum tipo de depressão. Em um estudo realizado entre 1973 e 1984 com mais de nove mil pessoas, mais de 6% se suicidou ao final do período de 11 anos. Isso mostra que a condição física desses pacientes é muito influente em sua condição mental e psicológica – ou seja, ainda que o estado físico da pessoa esteja o melhor possível após o acidente, um acompanhamento terapêutico é essencial para manter o bem-estar.
A equoterapia abrange também o tratamento para paraplégicos, que pode ser muito benéfico para o paciente. Através do movimento tridimensional proporcionado pelo cavalo, ela auxilia na ativação dos receptores sensitivos que enviarão informações ao sistema nervoso central. Este, por sua vez, enviará uma resposta aos receptores motores, causando, assim, um estímulo à musculatura afetada pela lesão. Desse modo, o corpo do paciente acaba beneficiado.
Instituições e entidades
Existem várias ONGs voltadas à equoterapia. Nelas, podem ser atendidos indivíduos portadores de necessidades especiais ou com dificuldades emocionais, crianças com problemas escolares, entre outros. Dessa forma, o tempo passado com o cavalo pode ajudar pessoas com os mais diferentes tipos de necessidades a se sentirem melhor, tanto fisicamente quanto psicologicamente.
Na ONG brasileira Passo Amigo, por exemplo, já foram postos em prática projetos voltados ao público infantil e ao público adolescente que ajudaram os jovens com dificuldades psicológicas a melhorarem sua autoestima, confiança e sociabilidade com sucesso.
Já nos Estados Unidos, uma das maiores entidades especializadas na prática da equoterapia é a Wings of Hope que, em 21 anos, tem conseguido ajudar, graças à importante participação de voluntários, centenas de pessoas com condições especiais. Assim, essa organização é capaz de atender aos desejos e às necessidades de pessoas desde os 3 até os 78 anos, faixa etária na qual se encaixam todos os seus pacientes.