Quatro amigas, na faixa dos 60 anos, veem suas vidas mudarem completamente após a chegada de um novo livro no Clube de leitura: o best seller Cinquenta Tons de Cinza. Do jeito que elas querem (Book Club, 2018) traz essa premissa básica mas vai muito além da comédia.
Em termos de direção e fotografia, não existem muitos aspectos que merecem ser destacados. Entretanto, isso ocorre porque o que tem maior destaque é o roteiro bem escrito e a história que ele conta. O longa consegue divertir e ao mesmo tempo envolver o espectador em um enredo muito atual.
Uma das principais discussões levantadas é a forma como as pessoas enxergam o processo de envelhecimento, principalmente no que diz respeito ao sexo e a relacionamentos amorosos. Um dos trunfos do filme está no fato de que esses assuntos são debatidos de uma perspectiva feminina. Cada uma das quatro amigas apresenta um dilema, que é debatido de forma descontraída e divertida, sem em nenhum momento ser ofensivo ou preconceituoso.
Diane (Diane Keaton), por exemplo, é uma mulher que perdeu o marido há muito tempo e tem a vida controlada por suas duas filhas. Tendo como justificativa a idade da mãe, elas passam a determinar o que Diane pode e não pode fazer. Essa situação serve de gancho para muitos momentos cômicos que, nas entrelinhas, fazem quem assiste pensar no assunto. Quantos filhos já não discutiram com seus pais por achar que eles não poderiam fazer determinada atividade, ou ter determinada atitude, só por que não seria “apropriado” para a idade deles? O interessante do longa é que ele quebra essa situação. As amigas passam a tomar atitudes mais ousadas com o intuito de realmente aproveitar a vida, cada uma à sua maneira.
Carol (Mary Steenburgen) está casada há mais de 35 anos e vê sua vida íntima com o marido esfriar, em função disso busca mudar a situação. Sharon (Candice Bergen) é uma juíza que ainda não conseguiu se desligar do marido, já divorciado e de casamento marcado com uma mulher muito mais jovem. E por fim Vivian (Jane Fonda) é uma mulher independente, dona de um hotel, desapegada de relacionamentos que busca apenas sexo sem compromisso.
As cenas de comédia são muito boas. As piadas e situações cômicas vão desde sutilezas, como o trocadilho entre “Moby Dick” e Christian Grey, até situações mais escrachadas. Além disso, as metáforas usadas em forma de piada trazem um humor mais inteligente para a história.
Todas as personagens passam por mudanças que subvertem as atitudes que o espectador esperaria delas. Ao longo da história cada uma passa por um processo de desconstrução, mesmo que mínimo. Sharon, por exemplo, começa a se arriscar a usar aplicativos de relacionamento. Já Vivian e Diane se permitem viver uma história de amor.
Um dos únicos problemas do roteiro é tratar as protagonistas através de estereótipos: a mulher que gosta apenas de encontros casuais, a mulher que vive exclusivamente para a família, a que é a esposa exemplar e a que vive para o trabalho e não acredita em relacionamentos na idade em que se encontra. Apesar disso, o filme consegue fluir bem graças às grandes atuações. Todas as atrizes conseguem entregar exatamente o que suas personagens exigem, da maneira mais engraçada possível.
O espectador sabe exatamente para onde o filme caminha, e mesmo com um final clichê ele entrega exatamente o que se propõe. É um clichê bem executado. Do jeito que elas querem promete arrancar muitas risadas do público e, ao mesmo tempo, fazer quem assiste pensar sobre alguns temas para além das telas do cinema.
O filme chega aos cinemas no dia 14 de junho. Confira o trailer aqui:
por Marcelo Canquerino
marcelocanquerino@gmail.com