Estás me matando Susana (2018) é inspirado no livro “Ciudades Desiertas”, publicado no México na década de 80. Talvez por isso o filme trate de forma tão arcaica um tema tão atual. Eligio (Gael García Bernal) e Susana (Verónica Echegui) estão passando por uma crise matrimonial. Ele não parece dar valor a sua esposa até que acorda um dia e percebe que ela o abandonou, sem deixar nenhum recado ou pista. Eligio, então, começa a investigar o possível paradeiro de Susana, e descobre que ela partiu para os Estados Unidos a fim de fazer um curso de literatura. O mexicano embarca no primeiro avião para Iowa a fim de encontrá-la e tirar satisfações.
O filme de Roberto Sneider gira em torno do conflito e da dualidade entre o casal. Ele possui ideias e comportamento machista, sufocando Susana ao mesmo tempo em que não lhe dá a devida atenção e respeito. Ela parece ter princípios feministas, porém não consegue se desvencilhar do que sente por Eligio. Ao abordar um tema tão importante, já que relacionamentos entram em crise por conta do machismo frequentemente, é de se esperar que o diretor suscitasse uma reflexão ou ensinasse uma lição ao protagonista, o que não ocorre. Esperamos o filme todo para que Elígio aprenda sua lição, porém não fica claro para o espectador o que o diretor tinha em mente ao abordar o assunto.
O filme pode ser considerado uma comédia, pois é assim que todos os absurdos que Eligio fala e faz são tratados: como uma simples piada. Ele exige de Susana fidelidade e reage de forma agressiva quando percebe que ela pode estar interessada em outra pessoa, mesmo que ele a traia constantemente e passe o filme todo flertando com outras mulheres. A própria Susana o caracteriza como o típico “machão mexicano”. A carreira dela, seus pensamentos e suas motivações em largar o marido são deixados de lado a todo instante, o longa parece ser tão centrado em Eligio quanto o próprio.
Outro aspecto abordado de forma leve no filme é o modo como os estadunidenses enxergam os mexicanos. A todo momento, agem como se estivessem fazendo um favor ao permitir a estadia de Eligio. Ele não enxerga as coisas desta forma, e não deixa passar as oportunidades de dar respostas grosseiras aos comentários xenófobos,omo quando ouve “Bem vindo a América”, e dispara: “eu já estava na América”.
O ritmo do filme é leve e a história tinha tudo para ser trabalhada e resolvida de outra forma. O que acontece, porém, é um certo irritamento do espectador com Eligio, enquanto internamente torcemos para que sua esposa consiga logo se livrar dele. Mesmo que os dois possuam cenas de romance, eu gostaria de avisar Susana que este caso não vale a pena.
O trailer do longa você pode ver aqui:
por Fernanda Pinotti
fsilvapinotti@usp.br