por Maria Beatriz Barros
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Este filme faz parte da 39ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Para conferir a programação completa clique aqui
“Na falta de diálogo, a arte tem a função de discutir, colocar o dedo sobre questões complexas, mais precisamente com a intenção de fazer todos pensar” diz o diretor Lorenzo Vigas, entrevista a BBC após o longa Desde Allá (From Apart, 2015) ter sido premiado com o Leão de Ouro no Festival de Cinema de Veneza, sob vaias do público. “Essa é minha responsabilidade como cineasta, e eu acho que a estou cumprindo com este filme”, completa. O drama social trata de questões de necessária discussão, como a homofobia e o machismo na sociedade latino-americana contemporânea, mas peca ao priorizar efeitos estilísticos.
O enredo é construído sob relação de Armando (Alfredo Castro), um homem de meia idade e Elder (Luis Silva), um jovem de rua. Perambulando pelas ruas de Caracas, o primeiro oferece dinheiro a meninos mais novos para que estes tirem a roupa na frente dele, enquanto se masturba. Ele repele fortemente qualquer contato físico. Elder aceita a proposta do homem, mas ao chegar na casa dele, se veste de preconceitos, acaba insultando, agredindo Armando e roubando seu dinheiro. Por conta da miséria que vive, tanto social quanto emocional, o menino acaba aceitando outras investidas e ambos acabam construindo uma inesperada relação.
Os conflitos internos e impulsos de Elder são o que movem o filme, mas nem sempre eles são claros a quem assiste. No início, ele claramente se aproxima de Armando pelo dinheiro. Depois, parece que ele está de fato se deixando envolver, mas ainda com segundas intenções. Quando ele, de fato, se apaixona, hesita por conta dos preconceitos sociais.
O longa trata também do arquétipo do pai venezuelano, o machista que delega a criação dos filhos à mulher e cria um vácuo m relação aos filhos, criados na carência. Também é abordada a relação entre duas pessoas de “mundos” diferentes, os cenários sociais na América Latina que partilham de elementos comuns. Vigas comenta o porque da opção por dois homens como protagonistas, em meio a outros conflitos já tratados, “me pareceu mais interessante e também mais terrível pelo final. Há ainda a repercussão social, pela Venezuela ter uma sociedade muito machista e homofóbica.”
É de acordo geral que a arte tem como função revolucionar a sociedade, todo resto é entretenimento. Apesar de todas as explicações dadas pelo diretor a sua obra, o erro de Desde Allá (From Afar, 2015) é concluir o filme de uma forma tão inesperada que desestrutura todo o enredo. Apesar da importância dos temas tratados, não só para a sociedade venezuelana, mas mundial, o cena final é a mais impactante, e é ela que gera questionamentos internos que perdurarão na memória dos espectadores toda vez que lhes for evocado o filme, não as questões problemáticas levantadas durante o mesmo.
A produção de Lorenzo Vigas é a escolhida para concorrer uma vaga no Oscar de 2016 na categoria “Melhor Filme Estrangeiro”, e ao julgar pela reação do juri em Veneza, ele possui grandes chances.