por Bianca Kirklewski
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Este filme faz parte da 39ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Para conferir a programação completa clique aqui
A 2ª Guerra Mundial acabou, mas deixou resquícios não apenas sócio-psicológicos como também físicos: milhares de minas foram abandonadas, enterradas em locais como a Dinamarca, país no qual se passa o tocante filme Terra de Minas (Under Sandet, 2015).
Para desarmar as bombas, são designados soldados alemães prisioneiros. O longa foca na história de um pequeno grupo de jovens assustados, responsáveis por desengatilhar as minas terrestres de uma praia dinamarquesa. Com a face ainda suja da poeira de batalhas, os rapazes transparecem o medo da incerteza que os aguarda em terras desconhecidas. A sorte responsável pela sobrevivência na guerra poderia se esgotar a qualquer toque em falso, e suas mortes seriam anunciadas apenas como resíduos finais de um conflito já encerrado. Por se tratarem de inimigos naturais, a vida alemã não era artigo prezado aos que se encontravam nos arredores. Afinal, todo aquele que serviu ao exército nazista era um monstro por natureza, não?
Sargento Carl é o nome do responsável por orientar e vigiar os soldados. Seco, duro e solitário (características básicas de qualquer bom militar), o dinamarquês sentia repulsa por aqueles germânicos. Ao menos, inicialmente.
De baixo dos capacetes, se escondiam olhos tomados por lágrimas de dor, temor, fé e anseio. Lágrimas que eram seguradas às forças para que não dissolvessem a carapaça de destemor formada subitamente pela densa vivência de corpos adolescentes. Ao notar tal angústia, o sargento aos poucos se rende em compaixão.
Mas era preciso ter cautela e evitar o desenvolvimento de qualquer tipo de sentimento mutuo. Não só por parte do militar, mas dos próprios companheiros prisioneiros. A incerteza do retorno de mais um dia de trabalho na praia era elevada a cada morte, e qualquer sentimento de luto poderia turvar a menos ampla das visões de esperança. Contudo, algumas ligações afetivas eram inevitáveis: no grupo, constava-se a presença de dois irmãos gêmeos. Inseparáveis, defendiam-se sem pudor e lutavam um pelo outro como se lutassem por si mesmo. Pela dinâmica e andamento do filme, pressagia-se logo de início que algo de trágico aconteceria ao menos com um dos irmãos. Sensação que atormenta (ainda mais) o telespectador ansioso.
Terra de Minas incomoda, angustia, entristece. Toca. A cada cena de desmantelamento (são muitas, porém incansáveis), a tensão sentida pelo público cresce. Passamos a aceitar progressivamente e com menos resistência as inevitáveis mortes. E como que vítimas de um estresse pós-traumático, notamos, a cada cena mais longa, nosso subconsciente se preparando para não sermos pego de surpresa com uma nova explosão.
O longa faz ainda algo pouco ordinário, se tratando de um filme de guerra: coloca-nos na torcida pelos alemães. Afinal, são apenas crianças que gritam por suas mães quando se machucam ou têm medo.
Assista ao trailer: