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Para educar crianças feministas – por uma infância sem padrões de gênero

Em 2017, o dicionário Merriam-Webster elegeu ‘feminismo’ como a palavra do ano. Segundo o editor Peter Sokolowski, a busca por ela aumentou 70% se comparado com 2016. De certo, muita coisa mudou desde que Chimamanda Ngozi Adichie proferiu o discurso “We should all be feminists” (em português, todos deveríamos ser feministas) no TEDxEuston, em 2012. …

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Em 2017, o dicionário Merriam-Webster elegeu ‘feminismo’ como a palavra do ano. Segundo o editor Peter Sokolowski, a busca por ela aumentou 70% se comparado com 2016. De certo, muita coisa mudou desde que Chimamanda Ngozi Adichie proferiu o discurso “We should all be feminists” (em português, todos deveríamos ser feministas) no TEDxEuston, em 2012. Cada vez mais mulheres reivindicaram seu lugar de fala, denunciaram abusos e desigualdades. A internet foi um meio importante, mas o movimento não se limitou a ela, afinal, marchas de mulheres também aconteceram em várias cidades do mundo.

Ainda há um longo caminho a ser percorrido e a educação das crianças tem um papel importante para mudanças futuras. Em um trecho de Sejamos Todos Feministas (Companhia das Letras, 2015), a adaptação do discurso de Chimamanda, a autora afirma que “precisamos criar nossas filhas de uma maneira diferente. Também precisamos criar nossos filhos de uma maneira diferente” para ter um mundo mais justo. E é isso que ela propõe em Para Educar Crianças Feministas (Companhia das Letras, 2017).

O livro é a versão de uma carta de Adichie para uma amiga de infância que teve uma filha e pediu conselhos para criá-la de um modo feminista. O resultado é um pequeno manifesto com 15 sugestões para criar os filhos sob esta perspectiva, visando uma infância – uma vida e um futuro – com menos padrões de gêneros. Logo de início, a escritora admite que a tarefa não foi fácil. Ao contrário do discurso, que foi baseado em sua experiência pessoal como mulher e nigeriana, o manifesto foi fruto de sua observação – como babá, tia e amiga – em relação à criação de crianças próximas a ela.

Muitas das atitudes recomendadas por Chimamanda se voltam para a criação de meninas, como não falar do casamento como uma realização ou aspiração e ensinar a menina a não se preocupar em agradar. No entanto, o livro não pode ser descartado para quem é mãe de menino. Reconhecer que existem diferenças na criação entre os gêneros estimula a reflexão e isto é a base para uma mudança.

Um dos pontos ressaltados por Adichie é de que tudo começa com a igualdade entre pai e mãe. Na maioria das famílias, a mulher é a principal responsável pela criação dos filhos, um reflexo da sociedade machista e patriarcal. A escritora, em dado momento, escreve que “pai é verbo tanto quanto mãe” e de que é função dele exercer a paternidade e dividir as tarefas. Muito do que as crianças aprendem é fruto da observação, e elas facilmente compreendem comos os papéis estão estabelecidos.

Na introdução, Chimamanda ressalta que todos os tópicos que aponta são apenas sugestões, que podem vir a ser colocados em prática ou não, assim como não pode garantir que elas irão funcionar. No meio tempo entre a carta e a publicação do manifesto, Chimamanda se tornou mãe, também de uma menina, e viu como exercer tais ensinamentos nem sempre é fácil. Ela, entretanto, se propôs a tentar, assim como sua amiga.

Para Educar Crianças Feministas é um livro pequeno, mas com um conteúdo significativo. A leitura é válida para qualquer pessoa que seja próxima a uma criança, e não apenas aqueles que são pais. A contribuição principal é a reflexão que estimula sobre a importância da educação para a construção de uma sociedade mais justa e igual.

Por Beatriz Arruda
beatriz.arruda12@gmail.com

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