Por Beatriz La Corte (beatrizlacorte@usp.br)
O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) foi fundado em 1863 em Genebra, Suíça. Essa organização humanitária faz parte de uma articulação ainda maior chamada “Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho”, que se estende por mais de 190 países.
História da organização e princípios
No ano de 1859, um empresário suíço chamado Henry Dunant testemunha os horrores da Batalha de Solferino na Itália, em que milhares de soldados ficaram feridos sem nenhuma assistência. Comovido pela experiência, o empresário e mais quatro cidadãos de Genebra criam o Comitê Internacional de Socorro aos Militares Feridos, que posteriormente seria conhecido como Comitê Internacional da Cruz Vermelha.
No ano seguinte, foi assinada a Primeira Convenção de Genebra, um código que abordava o tratamento humanitário dos feridos em combate. Esse tratado foi um grande marco no desenvolvimento do Direito Internacional Humanitário (DIH).
Para Dunant, um dos valores do CICV deveria ser a ajuda humanitária, independentemente da filiação militar do indivíduo. Essa ideia foi teorizada em seu livro Uma Lembrança de Solferino. A Suíça, país natal do empresário, já havia estabelecido uma cultura de neutralidade desde o século XVII, o que facilitou a assimilação dos ideais e a credibilidade da organização em meios de guerra.
Em 1965, o CICV oficializou os seus princípios orientadores: humanidade, imparcialidade, neutralidade e independência. O primeiro trata-se de oferecer dignidade humana aos envolvidos em guerra. O último refere-se à autonomia das decisões do Movimento. O segundo e terceiro, entretanto, são um pouco mais complexos.
Em entrevista ao 23º Curso de Jornalismo em Guerra e Violência Armada, organizado pela OBORÉ, parceira da Jornalismo Júnior, Daniel Muñoz-Rojas, fonte oficial do CICV, explica a imparcialidade e a neutralidade da organização. Daniel comenta que o trabalho humanitário da organização não pode favorecer nenhuma das partes nas guerras e nem participar dos debates relacionados ao conflito armado. Para ele, o CICV parte de uma posição diplomática, dialogando com ambos os lados, independentemente do contexto.
Daniel exemplifica que, no contexto do conflito árabe-israelense atual, a organização mantém diálogo tanto com as Forças Armadas de Israel, quanto com os líderes do Hamas e Hezbollah. “O CICV não é uma organização que vai tomar um posicionamento político ou falar sobre a justificativa de um conflito armado, o norteamento sempre será a humanidade, para assim, manter a neutralidade na guerra”.
O representante do CICV também comenta a importância do trabalho sigiloso realizado pela organização. Ele explica que o sigilo é uma estratégia da organização para continuar tendo acesso aos lugares de detenção e à atuação respeitada no meio da guerra. Para isso, o Comitê mantém uma “relação bilateral e confidencial com os envolvidos na guerra”. Dessa maneira, a organização conquista a confiança dos participantes e dialoga com maior facilidade durante os conflitos.
“Nós não somos uma organização militarizada. As únicas armas que nós temos são o diálogo, a diplomacia e a persuasão.”
Daniel Muñoz-Rojas
[Imagem de capa: Reprodução/SaMi]