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40ª Mostra Internacional de SP: Belos Sonhos

Este filme faz parte da 40ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Para mais resenhas do festival, clique aqui. Marco Belocchio surgiu no cenário audiovisual internacional com De Punhos Cerrados (I pugni in tasca), em 1962. Na época, o filme saiu com o segundo prêmio mais importante do Festival de Locarno, o que deu …

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Este filme faz parte da 40ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Para mais resenhas do festival, clique aqui.

Marco Belocchio surgiu no cenário audiovisual internacional com De Punhos Cerrados (I pugni in tasca), em 1962. Na época, o filme saiu com o segundo prêmio mais importante do Festival de Locarno, o que deu visibilidade para que seus próximos títulos, como A China Está Perto (La Cina è vicin, 1967) e O Monstro na Primeira Página (Sbatti il mostro in prima pagina, 1972) também trilhassem caminhos semelhantes. Contemporâneo a grandes nomes da segunda leva de vanguardistas italianos, como Federico Fellini e Michelangelo Antonioni, Belocchio costuma ser lembrado pela sensibilidade política que imprimia em seus filmes. Hoje, aos 77 anos de vida, ele é homenageado e abre a 40ª Mostra Internacional de São Paulo com Belos Sonhos (Fai bei sogni, 2016). A promessa, infelizmente, não poderia ter sido mais frustrante.

Passado em três momentos temporais diferentes, o filme conta a história de Massimo (encabeçado por Valerio Mastandrea), que após perder a mãe num suposto ataque fulminante, tenta superar o ocorrido e levar uma vida normal. O problema surge logo na montagem do filme, que entrecorta os três tempos de maneira confusa e desinteressante. Em diversas situações, quando começamos a despertar empatia por um dos Massimos, o filme corta e desenvolve a narrativa de outro. Sem dúvidas, os cortes em cenas de clímax são estruturas bastante eficazes e recorrentes no cinema. A questão é que aqui passamos longe de sequer principiar o conflito, quanto mais o clímax, o que faz com que nos sintamos indiferentes aos dilemas do protagonista.

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Além disso, o roteiro cria continuamente situações apáticas e desconexas na tentativa de atribuir alguma complexidade psicológica ao protagonista. No meio da projeção, Massimo passa, por exemplo, de jornalista esportivo à correspondente de guerra num intervalo de três cenas, para fazer uma crítica periférica ao jornalismo que fabrica e manipula suas imagens, e simplesmente esquecer, na cena seguinte, que o filme havia alguma vez tratado de uma batalha armada. Num outro momento, ele deixa sua suposta namorada no carro para atender um ricaço que quer que ele escreva a biografia dele. De repente, a polícia bate à porta, o homem se suicida, e Massimo sai a procura da namorada, mas quando a acha, se afasta e some. As duas personagens não voltarão a ser mencionadas. Em outras palavras, várias das cenas não possuem relação nenhuma com a trama principal, senão criar um melodrama momentâneo.

Melodrama este, aliás, que volta diversas vezes ao último adeus da mãe no começo do filme a fim de evocar um sentimentalismo barato. Não bastando, em um desses momentos, o roteiro ainda inclui uma cena em que as dores do protagonista, repetidas diversas vezes ao decorrer da projeção, são transcritas numa carta de resposta que ele mesmo escreve a um leitor que reclama da mãe. O que faltava dizer era algo do tipo: “Não sei se vocês já repararam, mas eu sofro muito. Tenham dó de mim, por favor!” E é claro que o longa precisaria incluir uma sequência de cortes mostrando várias pessoas lendo e se emocionando com a carta, com direito a trilha sonora melosa ao fundo.

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Por conta da infinidade dessas cenas, o filme acaba também sendo bem arrastado. O pior, no entanto, é o desfecho, que além de conter a grande (e óbvia) revelação, parece interminável, emendando cena atrás de cena, nunca sabendo quando encerrar. Além de tudo, as passagens finais não se decidem entre conciliar ou desconfortar, preferindo alternar entre as duas de forma bastante esquizofrênica.

É claro que para completar um típico melodrama, um casal precisa se formar; e Belos Sonhos não deixa a desejar, presenteando-nos com mais um momento forçado. Mas quando toda a cafonice já parecia ter sido esgotada, uma cena numa piscina de salto ornamental ainda tenta comover ecoando a morte da mãe. No entanto, tudo que conseguimos fazer é rir; não dos belos sonhos que a mãe havia prometido a Massimo, mas os belos tombos.

<a href="https://www.youtube.com/watch?v=PRi_u1iZ4DQ">https://www.youtube.com/watch?v=PRi_u1iZ4DQ</a>

por Natan Novelli Tu
natunovelli@gmail.com

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