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41ª Mostra Internacional de SP: Zama

Este filme faz parte da 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Para mais resenhas do festival, clique aqui. Uma promessa não cumprida. Essa é uma das possíveis definições para Zama (2017). Após um intervalo de 9 anos desde seu último longa de ficção, a renomada Lucrecia Martel retorna às telonas na direção desse novo …

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Este filme faz parte da 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Para mais resenhas do festival, clique aqui.

Uma promessa não cumprida. Essa é uma das possíveis definições para Zama (2017). Após um intervalo de 9 anos desde seu último longa de ficção, a renomada Lucrecia Martel retorna às telonas na direção desse novo filme, já indicado ao Oscar para tentar uma vaga para a Argentina na categoria de filmes estrangeiros. Seria fantástico, não fossem sua imprecisão e vazio narrativo. Apesar de toda a expectativa em torno do filme, o que vemos é, na verdade, uma história cansativa.

Zama conta a história do oficial da Coroa Espanhola Don Diego de Zama (Daniel Giménez Cacho). Nascido na América do Sul, ele está insatisfeito sobre o local onde está estagnado e busca uma transferência para Buenos Aires. Para isso, ele precisa que seus superiores enviem uma carta ao rei solicitando essa transferência e que a carta à coroa retorne. Enquanto aguarda, Zama precisa se submeter a qualquer atividade que lhe encarreguem, para que nada possa atrasar ainda mais sua solicitação. Ao perceber o fracasso de sua tentativa, ele se une a um grupo de soldados para seguir explorando terras distantes atrás de um grande criminoso que atemoriza a todos, Vicuña Porto.

Daniel Cacho na pelo do oficial Zama, na espera de algo que parece nunca chegar. Foto: Divulgação.

A história de Zama tem muito potencial e realmente poderia ser um grande filme. Contudo, a morosidade no enredo o torna muito maçante, ao ponto de sua narrativa perder o sentido. Chegamos a nos questionar porque o filme passa tanto tempo nessa infindável enrolação. Toda a história do protagonista em suas tentativas falhas de retornar a Buenos Aires permanece sem qualquer alteração. Nessa exaustiva eternidade, o protagonista passa a sua frustração ao telespectador – que também tem a sensação de esperar anos pelo desenrolar de toda a história. Talvez toda esse tom estável tenha uma motivação especial. No entanto, é realmente uma luta manter-se interessado o tempo todo.

O filme investe em muitas cenas vazias, apenas explorando o tranquilo cenário que nos convida a pensar mais sobre aquilo que vemos, sem qualquer grande dilema a ser resolvido. Gravado na Argentina, acerta ao recriar o século XVIII, reconstruindo vilas e casas arcaicas, sem exageros anacrônicos. Os figurinos são, também, muito bem executados, fazendo jus à época em questão. A representação é correta e agradável, na medida do possível.

Mas a monotonia – que persiste – só é interrompida com a presença do renomado ator brasileiro Matheus Nachtergaele. A partir de sua primeira aparição, já na metade final, o entusiasmo e carisma de sua personagem unem-se a um novo tom que o filme adquire, pouco mais dinâmico, nas cenas de perseguição e exploração em meio a natureza. Nachtergaele, como de costume, traz às telonas uma atuação à altura de tudo que já fez em sua carreira. Impecável, o ator transpassa o mistério de sua personagem, cheio de enigmas e com uma personalidade intrigante que, ainda assim, consegue cativar a simpatia de quem assiste. Certamente, é um dos pontos altos do filme com o acréscimo de ser um atrativo extra ao público brasileiro, já familiarizado com o ator, que é ícone em nosso cinema nacional desde O auto da compadecida (2000).

Em uma das cenas do filme mais bonitas visualmente, vemos a exploração de uma linda paisagem, exaltando a beleza sul-americana. Foto: Divulgação.

Outro ponto que merece ser mencionado, é a fotografia do filme. Como já mencionado, os belos cenários evocam muitos momentos de admiração. Os ângulos e enquadramentos encarregados de enaltecer ainda mais a natureza do nosso continente, resultam em uma ótima combinação. Apesar de não inovar tanto nessa questão, Zama consegue fugir a um padrão, utilizando-se de diversas variações não tão usuais, mas que contribuem para essa contemplação do belo.

Embora a intenção de Lucrecia Martel tenha sido entregar um filme menos narrativo e mais imersivo, mais sensorial, o produto final é algo raso – para não dizer “sem graça”. Defini-lo como “chato” seria também muito agressivo e injusto, afinal, ele é mais do que isso. A grande lacuna em seu enredo pode ser um convite a apreciação de todo seu contexto artístico. Portanto, Zama pode não agradar em certos aspectos, mas devemos dar uma chance aos outros. Estes outros aspectos nos convencem de que apesar de ser uma promessa não cumprida e uma expectativa quebrada, o filme tem muito mais a oferecer.

 

Trailer com legendas em inglês:

por Gabriel Bastos
gabriel.bastos@usp.br

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