Intocáveis (Intouchables, 2012), é um filme francês, baseado na história real de um rico empresário e seu novo assistente pessoal, que cumpre a função de maneira pouco ortodoxa e certas vezes pouco profissional, com a ausência de uma hierarquia intrínseca a muitas relações profissionais. É sobre a reconstrução da realidade e da personalidade dos protagonistas, em um aprendizado mútuo.
Seu mais novo remake, Inseparáveis (Inseparables, 2017), traz uma roupagem argentina a obra, e ela não é muito inovadora. O olhar latino tem Oscar Martinez como Felipe, tetraplégico após cair de um cavalo, e Rodrigo de la Serna — conhecido e premiado como um dos protagonistas de Diários de Motocicleta (2004) — como Tito, um recém contratado cuidador, cujas características configuram a diferença notável dessa adaptação: elas diferem das do intérprete europeu do personagem, que é um homem negro, sendo que quem inspirou a obra, e dá vida a ele dessa vez, é um caucasiano — que representam 90% da população argentina. Essa questão pode suscitar uma discussão a respeito do reforço de estereótipos quanto ao homem submisso e pouco educado na versão anterior e na futura reedição americana (com Kevin Hart no papel). Ao desviar desse modelo, o diretor Marcos Carnevale, mesmo que aparentemente sem a intenção, reinventa a perspectiva de uma maneira significativa.
Suas inovações param por aí. O conjunto do filme reúne a mimetização das sequências que garantiram o sucesso do original, com pequenas adaptações culturais para se adequar ao país que o produz, e com a adição de inúmeros trejeitos na construção de Tito, recaindo no exagero e tornando o personagem extremamente desagradável em muitos momentos. Além disso, a personalidade seca do Felipe francês foi substituída por uma mais maleável, o que também faz com que o roteiro perca um pouco de sua força, em que o conflito entre duas personalidades fortes e seus traumas causava impacto.
A finalidade de refazer um filme que ainda é contemporâneo em sua versão original seria compreensível sob a justificativa de um aperfeiçoamento ou uma discordância quanto a visão artística. No entanto, Inseparáveis não parece propor nada além de uma consolidação da crise criativa das indústrias cinematográficas. É inevitável comparar e questionar a todo momento o porque o filme se esforçou apenas para traduzir os diálogos para o espanhol. A importância de acrescer produções da América do Sul ao mercado não deveria ser sinônimo de criar um cinema descartável. O potencial do elenco é desperdiçado em uma refacção que falha em conquistar.
Inseparáveis estreia nos cinemas no dia 1 de junho.
Trailer legendado:
por Pietra Carvalho
pietra.carpin@hotmail.com