Este filme faz parte da 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Para mais resenhas do festival, clique aqui.
O documentário de Marcus Lindeen, A Balsa (The Raft), se baseia no diário do antropólogo Mexicano, Santiago Genovés. As anotações contam do período de seis meses em que o pesquisador esteve à bordo de uma barca que atravessou o atlântico com 11 pessoas em seu interior, no ano de 1973.
Genovés tinha como área de pesquisa o comportamento humano, mais especificamente, a violência. E, depois de presenciar avião em que estava ser sequestrado por criminosos, desenvolveu um experimento com o objetivo de entender o que leva as pessoas a serem violentas. Para isso, ele seleciona indivíduos de vários lugares do mundo, com características muito distintas e propõe que eles convivam no pequeno ambiente de uma balsa enquanto atravessam o atlântico.
Como muitas imagens foram gravadas dentro do barco, ao longo da experiência, Lindeen contou com um enorme material para seu filme. Esses vídeos, então, acompanhados pela narração das anotações de Santiago, conseguem cativar ainda mais o expectador.
Por se tratar de um documentário, a obra conta com os clássicos depoimentos que ajudam a contar a história. Nesse caso, porém, o diretor inova ao gravar essas entrevistas de modo não tradicional. Para isso, ele montou uma réplica exata da embarcação em um estúdio, e convidou as pessoas que participaram dessa experiência mais de 40 anos atrás para reviver aquele momento. Os seis participantes que estão vivos até hoje compareceram, e compartilharam sentimentos já quase esquecidos.
A narração da história começa com os preparativos para a tal aventura, nesse momento as imagens intercalam entre a preparação da balsa original e a montagem de sua réplica no estúdio. Assim, na medida em que o narrador fala o que seria necessário para uma viagem desse tipo, as personagens são apresentadas. É o caso da comandante da embarcação, escolhida por ter sido a primeira mulher a se formar com o título de capitã da marinha, da médica, escolhida por já ter participado de guerras, e assim por diante.
A maior parte do filme se passa dentro de uma balsa, seja ela a mais antiga ou a mais recente, mas em momento algum o restrito cenário é incômodo. Lindeen trabalha com uma variedade de enquadramentos e intercala muito bem as filmagens antigas com as mais novas.
Outro ponto importante da experiência e relembrado depois pelos participantes que visitaram a réplica da balsa era a divisão dos tripulantes. Na embarcação foram colocados cinco homens e seis mulheres. Para efeito de pesquisa, Santiago colocou as mulheres no comando, com a responsabilidade de executar tarefas normalmente realizadas por homens, enquanto estes ficam com os afazeres costumeiramente exercidos por mulheres. Ele queria ver se assim aquele grupo de pessoas estaria mais ou menos suscetível à violência.
No fim das contas, a experiência serviu mais para o autoconhecimento de Génoves do que efetivamente para entender a violência e encontrar formas de se atingir a paz mundial. Cada um dos participantes ficou com algo dessa experiência, alguns voltaram normalmente a suas rotinas antigas, outros consideram o que aconteceu durante aquele período como uma das coisas mais importantes de suas vidas.
O filme faz parte da 42º Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e ganhou o prêmio do Melhor Filme no CPH:DOX 2018. Sua última exibição acontecerá no dia 27/10, ainda dá tempo de conferir. Confira o trailer (em inglês):
por Maria Laura López
laura_lopez.8@usp.br