Este filme faz parte da 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Para mais resenhas do festival, clique aqui.
A Favorita (The Favorite, 2018), pode parecer, à primeira vista, um filme pautado em intrigas femininas, vestidos bonitos, perucas de época e cenários deslumbrantes, mas ele vai além e aborda questões que precisam ser discutidas.
O enredo do longa situa-se na Inglaterra do século XVIII. Nesse período, o país estava em guerra com a França, e as questões políticas dessa guerra são usadas como plano de fundo para o desenvolvimento da trama.
A Rainha Anne (Olivia Colman) governa a Inglaterra com a ajuda da Duquesa Marlbourogh (Rachel Weisz), sua fiel conselheira. Até o momento da chegada de Abigail (Emma Stone), uma prima da Duquesa, que balança as emoções e relações dentro do castelo.
Abigail chega com o intuito de conseguir um emprego por intermédio de sua prima, já que sua família perdeu status graças aos excessos de seu pai. Ela, inicialmente, parece uma boa moça com intenções reais de ajudar e logo consegue a confiança da Duquesa.
Estando mais próxima da rainha, Abigail começa a colocar em prática seus planos para conseguir um status melhor dentro da corte. Mas para chegar a uma posição maior, ela precisa tirar a personagem de Weisz do seu caminho. Até aqui, parece que o filme vai apenas repetir o velho padrão de uma pessoa que perdeu sua influência e quer voltar a uma hierarquia mais alta.
No entanto, Abigail descobre que o relacionamento de Anne com sua prima não é apenas de amizade, e na verdade as duas tem um caso. Esse talvez seja um dos pontos mais altos do filme: a forma como ele aborda a homossexualidade com naturalidade e seriedade, não de uma forma clichê ou com piadas ofensivas e desagradáveis. A nova criada, então, se aproxima da Rainha e abala as estruturas de um relacionamento já conturbado.
Abigail mexer com as bases do relacionamento graças as frágeis emoções da rainha. A criada mostra-se hábil em usar o temperamento inconstante da monarca a seu favor e coloca-a contra a sua, até então, fiel conselheira e amante.
A Duquesa se vê em uma posição difícil, na qual a rainha já não é mais facilmente manipulada por ela. O filme mostra o tempo inteiro os jogos de manipulação ocorridos no período, o que não se difere muito dos tempos atuais. Além disso, ele retrata muito bem o quão é fácil ser manipulado por alguém quando as relações não são apenas profissionais, mas também pessoais.
Outro aspecto importante no longa é seu enredo. Ele não deixa cair na mesmice e surpreende o espectador todo tempo. As cenas são completamente diferentes de tudo que eu já tinha visto, misturando bom humor e assuntos sérios, com muita criatividade no roteiro e sem deixar a peteca cair.
A qualidade das cenas talvez se deva às atrizes incríveis que interpretam muito bem os papéis principais da trama. A performance das três não deixa a desejar, elas trouxeram vida às personagens com desenvoltura. Os cenários muito bem construídos também ajudaram o espectador a entender melhor qual era o plano de fundo da história.
A Favorita aborda sexualidade, guerra, saúde mental, violência e manipulação de uma maneira criativa e inovadora, sem que quem assista tenha a sensação de estar vendo mais do mesmo. O filme demonstra que é possível trazer temas atuais que são muito explorados de forma inovadora, basta usar a criatividade.
A Favorita estreia no Brasil no dia 24 de janeiro de 2019. Veja o trailer:
Por Thaislane Xavier
thaislanexavier@usp.br