Este filme faz parte da 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Para mais resenhas do festival, clique aqui.
Premiada no 68º Festival de Berlim, Marta Hernaiz Pidal mostra um estilo singular de fazer cinema em The Chaotic Life of Nada Kadić (Kaoticni Zivot Nade Kadic, 2018). Numa coprodução entre México e Bósnia, a diretora mexicana capricha na dose de sensibilidade ao abordar a vida caótica de uma mãe solteira e sua filha, diagnosticada com uma forma de autismo.
A obra surpreende desde o início por seu tom extremamente intimista e natural, às vezes se aproximando até mesmo de um estilo documental. Tudo faz sentido depois que, extasiados de curiosidade pela história, pesquisamos e descobrimos que as duas figuras que vemos na tela são mãe e filha na vida real. Ambas não atrizes, concordaram em dar um tom fictício à suas vidas, embarcando na ideia da diretora que faz um belíssimo trabalho no cinema experimental — principalmente quando se dedica a nos familiarizar com o caos da vida de cada uma das personagens.
Nada Kadić enfrenta os dramas usuais das mães solteiras; o abandono, o descaso, a dupla jornada extremamente exaustiva, a solidão, a falta de compreensão e empatia por parte de quem a cerca, a falta de dinheiro, a casa bagunçada, a logística complicada de criar um ser humano sem a ajuda de outro alguém. Mas nem todo esse caos consegue apagar a alma sonhadora da jovem, que ainda cantarola suas músicas favoritas e sonha em mudar de cidade, ter uma vida melhor.
O filme se destaca especialmente ao nos conectar com o caos presente na mente de Hava. A pequena inquieta parece atormentada por um incêndio em sua mente. A câmera parece partir de seu ponto de vista e nos envolve naquele universo frenético e particular de sons e imagens que a faz gritar, girar, correr. Em certos momentos, a vontade é de segurá-la no colo numa tentativa de trazer calmaria e paz.
A trama se desenvolve quando Nada decide fazer uma viagem de carro pela Bósnia com a premissa de visitar parentes e respirar novos ares. Apesar de todos os problemas envolvidos na viagem, sorrisos escapam ao ver a dupla desbravando novos cenários. Sempre juntas, se entendendo apesar de todo o caos.
De fato, o que mais encanta é a forma como, cada uma com suas próprias complicações e complexidades, mãe e filha são refúgio uma para outra. Em meio a tanto caos, é em pequenos carinhos do cotidiano conturbado e na calmaria rara da brisa gelada das paisagens percorridas de carro que a simplicidade do amor pode se manifestar.
Confira o trailer abaixo:
por Giovanna Stael
giovannastael@usp.br