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42ª Mostra Internacional de SP: Sofia

Este filme faz parte da 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Para mais resenhas do festival, clique aqui. Da diretora e roteirista marroquina Meryem Benm’Barek-Aloïsi, o filme Sofia, que estará na programação da 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, é impactante. Tendo ganhado o prêmio de Melhor Roteiro em Cannes este ano, …

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Este filme faz parte da 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Para mais resenhas do festival, clique aqui.

Da diretora e roteirista marroquina Meryem Benm’Barek-Aloïsi, o filme Sofia, que estará na programação da 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, é impactante. Tendo ganhado o prêmio de Melhor Roteiro em Cannes este ano, na seção Um Certo Olhar, o filme nos mostra um pouco da realidade do Marrocos, distante da nossa mas não tão diferente.

(Imagem: Memento Films Distribution)

Sofia é uma jovem marroquina de classe média que descobre que está grávida somente quando entra em trabalho de parto. O problema é que ela é solteira, e no Marrocos, o sexo fora do casamento é crime, punido com um mês a um ano de cadeia. Ela corre o risco de ser presa, e para que isso não aconteça precisa entregar os documentos do pai da criança ao hospital e provar ser casada. Como isso não é possível, sua família suborna as autoridades para que esqueçam do ocorrido e não coloquem Sofia na cadeia. Eles também vão atrás do pai da criança, pretendendo arranjar um casamento entre os dois e restaurar a honra da família.

Sofia e sua família procuram pelo pai da criança buscando salvar a honra da família. (Imagem: Memento Films Distribution)

Uma personagem que também merece destaque é Lena, prima de Sofia. As duas são bem diferentes, devido ao fato de Lena vir de uma classe social mais privilegiada. Esse contraste está presente o tempo todo, inclusive nos idiomas falados por elas. Enquanto Sofia fala melhor o árabe, língua oficial do país, Lena domina também o francês, mais falado pelos mais ricos. É possível perceber isso atentando-se às situações: os médicos e a família de Lena falam francês, os moradores da periferia e a família de Sofia se comunicam em árabe. Porém, podemos perceber que ambos estão presentes no dia a dia dos marroquinos, pois todos se entendem na mistura das línguas. É algo bonito de se ver. Vários diálogos e até frases que misturam os dois idiomas tornam-se quase cômicos, além de muito interessantes. Essa miscelânea de traços culturais é a verdadeira riqueza. Quanto ao contraste social e às desigualdades, isso te lembra algum país?

Apesar de não parecerem tão próximas no início da história e do grande contraste social entre elas, Lena e Sofia se unem e tornam-se uma verdadeira família, ao invés de apenas parentes. O desenvolvimento dessa amizade entre as duas é lindo, e ultrapassa essas diferenças. É Lena quem diagnostica a gravidez de Sofia, e não desiste de ajudá-la. Leva a prima para dar à luz, procura o pai da criança e até ajuda a cuidar da sobrinha. Elas se mantêm lado a lado até o fim. O que as primas têm em comum? Ambas as mulheres são personagens fortes e determinadas. Aliás, em todo o enredo não há personagens masculinos muito marcantes e as mulheres roubam a cena. Esse foi o objetivo de Meryem Benm’Barek-Aloïsi, que em entrevista concedida à Rádio França Internacional afirmou que queria mostrar heroínas árabes ao invés de retratar essas mulheres como vítimas de um sistema patriarcal, como se faz muito até hoje.

A ainda incipiente diretora Meryem Benm’Barek-Aloïsi, elogiada por sua maturidade como roteirista. (Imagem: Siegfried Forster/RFI)

Outro ponto interessante sobre o qual fala a diretora e roteirista é a sua tentativa de mostrar a realidade do Marrocos contemporâneo. Segundo ela, por ser um país muito turístico, muitos povos ocidentais conhecem o Marrocos sem conhecê-lo de verdade. Meryem diz que as escolhas de cenários e figurinos foram feitas com cautela para fugir de clichês, estereótipos e exotizações. “É um país muito seduzente, muito bonito, com paisagens magníficas, uma arquitetura muito bonita, mas às vezes é preciso saber virar as costas para a beleza”. Com certeza esse objetivo também foi atingido, e o longa cria na cabeça dos espectadores uma imagem um pouco mais verdadeira do Marrocos, ao invés de deixar impressões romantizadas e exóticas de países árabes, como fizeram algumas novelas brasileiras.

Finalmente, podemos apenas concluir que o filme de fato merece o prestígio que recebeu. Além do roteiro muito elogiado, outros detalhes merecem destaque. A fotografia foge dos ângulos óbvios e mostra vários detalhes. Com beleza e sensibilidade, ela ajuda a compor melhor o drama do longa metragem. A atuação de todos os atores também é impecável. Sofia consegue transmitir ao espectador emoções reais, e faz com que nos sintamos dentro da história. O longa também nos convida a pensar sobre os temas que aborda, como amor, casamento, moral, hipocrisia, família, sexo, estupro, amizade, entre outros. Também não se pode deixar de elogiar a beleza dos trajes usados na cena do casamento marroquino, que eram deslumbrantes podem agradar muito ao olhar. Eles também serviram para provar que a beleza também existiu e foi bem dosada no longa metragem. O final do filme vem de repente, batendo a porta em nossa cara, e nos deixa repensando aquilo em que acreditamos. Será que é tudo real? Longe de um final feliz, ao fim de Sofia somos obrigados a nos deparar com a verdade. Ela é dura, mas no final das contas, sabemos que é preciso encará-la.

A 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo vai até o dia 31 de outubro. Confira o trailer (francês):

 

por Marina Faleiro Caiado
marinafcaiado@usp.br

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