por Pedro Graminha
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2009, a fronteira inicial. Nesse ano, o cineasta J.J. Abrams ressuscitou a franquia Star Trek nos cinemas, entregando um filme muito bem construído, com boas referências à série original, mas com autonomia e personalidade particulares. O resultado foi um sucesso imediato – de crítica e público – fazendo com que a franquia ganhasse fôlego para receber continuações. Se o primeiro filme fez sucesso graças ao roteiro e a nova roupagem dada ao universo criado por Gene Roddenbery, seu sucessor, Além da Escuridão – Star Trek (Star Trek Into Darkness, 2013) destacou-se, sobretudo, pela excelente atuação do britânico Benedict Cumberbatch, que deu vida à um vilão poderoso e, definitivamente, roubou toda a atenção do filme. Neste ano, a franquia tenta um novo salto em direção ao sucesso com um filme pretensioso, ao menos em seu título, Star Trek Sem Fronteiras (Star Trek Beyond, 2016).
Justin Lin, de Velozes e Furiosos, assina esse novo episódio que não só não consegue transcender qualquer limite, como se resvala nas muralhas impostas pelo clichê. Se os filmes anteriores tiveram seus instantes de individualidade e brilhantismo, nesse temos a constante impressão de um “mais do mesmo”. Todo o apresentado em tela já foi visto e revisto em tantos outros filmes de ficção científica e ação. Não que o filme seja ruim, mas o fato aqui é que este não consegue empolgar, nem mesmo na maioria das sequências de ação. Existem alguns bons momentos que salvam o longa, sobretudo aquele em que é prestada uma homenagem ao ator Leonard Nimoy, o Sr. Spock do seriado de TV, falecido este ano. Outro momento interessante, mesmo que simples e discreto, é quando é revelado a homossexualidade do personagem Sr. Sulu, interpretado por Jonh Soo. É uma cena delicada e curta, mas poderosa ao mostrar que a franquia está disposta a se adequar aos novos tempos.
De maneira antagônica a seu sucessor, talvez a maior fraqueza desse novo episódio seja o seu vilão. Mesmo interpretado pelo excelente Idris Elba, sua figura não convence. Não se trata de um problema de atuação, mas sim da construção do personagem. Além de ser um antagonista típico, as motivações que o levam a fazer tudo o que fez não são fortes o suficientes. O vilão que deveria representar uma personificação do mal e um mistério, parece ser mais uma figura mesquinha, ressentida, do que qualquer outra coisa. E nesse instante, o peso da atuação de Cumberbatch se agiganta. Se o vilão do britânico ganha cada vez mais força no decorrer do longa, o de Elba a perde, ao serem reveladas suas motivações e objetivos.
O cinema possui uma relação intima com a realidade, que ao mesmo tempo dá força à sétima arte e funciona como uma condenação. Muitas vezes, o “tempo do cinema” não pode se prender ao “tempo do mundo”, sendo necessárias algumas mentiras para forjar uma “outra” realidade, que nosso cérebro releva de maneira subconsciente. Por exemplo, sempre que uma personagem precisa de um táxi, este está passando precisamente naquele instante. Mas neste novo Star Trek existem muitas sequências em que precisamos deliberadamente relevar essas farsas para permitir que a narrativa funcione (em um certo momento, o personagem de Chris Pine, o Capitão Kirk, dispara em uma motocicleta por um planeta extremamente pedregoso, com uma facilidade que chega a ser cômica).
Star Trek Sem Fronteiras é um filme que usa da atmosfera nostálgica típica de um episódio da série para conquistar os fãs. Para eles, a experiencia pode até ser interessante, mas analisando esse filme como uma obra cinematográfica e uma sequência de dois bons filmes, ele deixa a desejar. Faltou propulsão para ultrapassar os limites. Resta agora saber se os filmes posteriores irão conseguir se afirmar ou repetirão as falhas deste. 2016, a fronteira final?
Confira o trailer!