Por Hellen Indrigo (hellenindrigoperez@usp.br)
Estreia nesta quinta-feira (16) a aguardada sequência de O Telefone Preto (The Black Phone, 2021), que conquistou o público em seu ano de lançamento ao transitar entre doses equilibradas de terror e suspense. Com a promessa de ser um capítulo ainda mais aterrorizante do que seu antecessor, O Telefone Preto 2 (The Black Phone 2, 2025) traz como pano de fundo as perturbações emocionais que os personagens enfrentam após os acontecimentos do primeiro longa.
O filme tem como eixo uma tentativa insegura de reconstrução do núcleo familiar dos protagonistas, que amadurecem em torno das lembranças de violência do primeiro longa. A narrativa explora as rachaduras em uma falsa tranquilidade, que parece se equilibrar na corda bamba, enquanto cada personagem lida com a lembrança dos eventos traumáticos a seu próprio modo.
Quatro anos depois de escapar do Sequestrador (Ethan Hawke), o jovem Finney (Mason Thames) recorre à violência e às substâncias psicoativas para suprimir as marcas que restaram do período em cativeiro. Enquanto isso, sua irmã Gwen (Madeleine McGraw) ainda convive com uma rejeição a seus sonhos clarividentes e descreve a si mesma de forma recorrente como uma ‘esquisita’. Parte dessa insegurança surge pela influência do pai da família (Jeremy Davies) que, apesar de agora recorrer à sobriedade, ainda apresenta relutância em aceitar as visões da filha.

Porém, ao contrário do que os personagens tentam afirmar, os sonhos de Gwen passam bem longe de ser ‘apenas sonhos’ e tornam-se os grandes protagonistas dessa continuação. À medida em que a garota passa a enfrentar crises de sonambulismo e a ter pesadelos lúcidos que envolvem garotos mortos de forma brutal em um acampamento cristão chamado Alpine Lake, aspectos pouco explorados no primeiro filme retornam para a construção de um suspense intrigante — mas que não entrega tudo o que promete.
Indo além de simples visões, os sonhos de Gwen são capazes de romper fronteiras, conectando-a vividamente com os fantasmas das crianças assassinadas e com acontecimentos macabros de décadas atrás. Ao tomarem consciência de que as mortes brutais dos garotos escondem segredos sobre o passado de sua própria família, os irmãos seguem em uma jornada frenética para redescobrir suas próprias origens, sem imaginar que acabariam presos em uma armadilha.
Desde os primeiros minutos, o filme utiliza artifícios sutis para sugerir o retorno do Sequestrador, sádico assassino em série que foi morto por Finney. A exploração da abertura entre o universo dos vivos e dos mortos, já apresentada anteriormente, é uma boa jogada. Se as vítimas do psicopata encontraram meios de se fazerem ouvidas, parece lógico que o seu próprio espírito descubra uma forma de retornar para uma vingança.

Com o apoio de ótimos efeitos visuais e da excelência de Pär M. Ekberg na direção de fotografia, a trama constrói uma tensão palpável que quebra-se apenas em momentos pontuais de alívio cômico. Os pesadelos incessantes de Gwen e o tocar cada vez mais recorrente de um telefone quebrado são uma ponte envolvente até o esperado encontro entre Finney e o espírito de seu antigo sequestrador.
Quando o personagem de Ethan Hawke finalmente domina a cena, torna-se impossível ignorar a potência por trás de seus gestos calculistas. Como de costume, a máscara que recobre seu rosto e esconde as expressões faciais acrescenta um toque de obscuridade a um vilão já imprevisível, mas que agora retorna com as marcas do frio cortante do inferno.
Por outro lado, os pontos positivos do filme também são um prenúncio de sua maior falha. O mistério que envolve as juras de vingança do Sequestrador, o passado das crianças assassinadas e o elo familiar que conecta os irmãos a Alpine Lake, cria a expectativa para um desenvolvimento arrebatador. A capacidade de envolver o espectador na tensão em torno dos personagens poderia ser algo estritamente favorável, não fosse pela dificuldade que o longa enfrenta em entregar um encerramento digno do que se propôs.

Pouco depois do início da segunda metade, uma enxurrada de revelações serve como uma escada para o conflito final. Embora as questões levantadas sejam coerentes, a quantidade de assuntos abordados no curto espaço de tempo gera a sensação de que alguns deles foram submetidos a um desenvolvimento corrido demais.
A utilização da evolução psicológica dos personagens, através da jornada de superação dos medos e inseguranças dos protagonistas, é um dos pilares do terror e resulta em boas cenas dramáticas, que destacam a atuação de Mason e Madeleine. Porém, ao focar também de forma apressada na luta dos irmãos contra os próprios traumas, o longa parece minimizar a tensão que havia sido alimentada até o momento e foge da promessa de se consagrar como absolutamente assustador.
Apesar de não contar com um encerramento necessariamente mal feito, o filme não consegue produzir cenas finais com impacto o suficiente para serem memoráveis. A resolução dos conflitos não apresenta nada que não seja previsível: um tiro no pé de uma produção marcada por tantos traços de originalidade e que poderia explorar muito mais os ótimos atributos de Ethan Hawke em cena. Apesar de ser uma experiência instigante ao espectador, a impressão que fica ao início do rolar dos créditos é a de que O Telefone Preto 2 chegou apenas ‘quase lá’.

O Telefone Preto 2 já está em cartaz nos cinemas brasileiros. Confira o trailer:
*Imagem de capa: Divulgação/Universal Pictures
