Tecnologias em sala de aula trazem novos desafios e perspectivas aos professores
Por Marcelo Correia
marcelocorreiajornalista@gmail.com
A educação vive um momento de transformação. Escolas, professores e alunos ainda devem responder juntos à primeira grande questão do século 21: as novas tecnologias da informação e comunicação podem efetivamente conferir um ganho de qualidade à educação pública no país?
A expectativa dos educadores e da sociedade é de que as novas tecnologias se mostrem ferramentas eficientes na atualização das práticas pedagógicas e na promoção de melhores relações sociais no ambiente escolar. As escolas da rede pública há anos disponibilizam aos docentes laboratórios equipados com computadores e, em alguns casos, até mesmo salas de aula multimídia. Ambos ainda se perguntam qual a fórmula para trabalhar em sala de aula os conteúdos pedagógicos e de cidadania que são mediados por essas tecnologias.
Uma antiga pergunta em busca de novas respostas
Os governos estaduais e municipais vêm tentando inserir essas ferramentas em um quadro já deficitário do sistema de ensino público. A professora Elaine Lopes, que leciona em escolas da rede estadual no município paulista de Mogi das Cruzes, explica: “Nos anos de 1999 e 2005, o governo do estado realizou grandes investimentos em programas de computador e capacitação dos professores”.
Segundo o assessor André Theodoro, da Secretaria de Educação do Guarujá, foram implantadas no município salas de aula com modernas lousas digitais de grandes dimensões. A curto prazo, de acordo com a declaração, esses materiais proporcionarão a interação dos alunos a partir de suas carteiras, com a aquisição de mesas digitalizadoras, as chamadas tablets, que se conectarão aos equipamentos da sala.
Porém, essas iniciativas mais serviram para evidenciar outra realidade: as escolas públicas não estão estruturadas para incorporar a tecnologia em seus programas de ensino. Há grande resistência por parte dos próprios professores em utilizá-los em aula, mesmo entre os mais jovens, e a consequência é que os maiores prejudicados são os alunos, que se formam com um nível ainda mais defasado em relação aos alunos das escolas particulares.
A qualificação do professor como alternativa
Um caminho que se aponta consiste em inverter a lógica que centra o problema na tecnologia, como fator determinante das novas relações, e humaniza o seu uso. Isso é possível ao se focar as relações humanas na construção de conhecimento por meio dos computadores pessoais. Neles, aluno e professor atuam em um contexto que vai além da interação com o computador, no qual o mediador entre o aluno e o universo do conhecimento é o professor.
Esse direcionamento se iniciaria por meio da qualificação dos professores para o uso eficiente dos recursos tecnológicos em sala de aula. “O computador, para mim, é uma ferramenta pedagógica”, afirma André Dorizotti, professor da rede municipal de Embu-Guaçu, na Grande São Paulo.
O “desinteresse é principalmente do professor pela tecnologia em aula, que muitas vezes não tem nem e-mail”, como sintetiza a professora Elaine Lopes. A situação poderia se inverter com um programa continuado de capacitação e suporte pedagógico das instituições e do sistema de ensino público.
Tecnologia cidadã
Atualmente lecionando em uma escola de educação especial, a experiência do professor André vem mostrando que a tecnologia é uma ferramenta importante para a atualização das práticas pedagógicas e até mesmo para a promoção de cidadania ao melhorar as relações sociais no ambiente escolar. Para Dorizotti, as aulas no laboratório de informática servem como complemento acelerador da aprendizagem, principalmente para alunos com problemas motores e dificuldade cognitiva. O ambiente se transforma e a turma passa a vivenciar junta a oportunidade de construir o conhecimento de uma nova forma. Ao digitalizar no computador as letras, os alunos com deficiências motoras podem materializar o processo de alfabetização, o que aprenderiam apenas por memorização oral, no método tradicional de ensino.
Já quando lecionava para alunos regulares do ensino fundamental, Dorizotti estimulava exercícios de escrita baseados nas relações sociais entre os alunos, “desenvolvendo atividades de redação utilizando mídias digitais, como a troca de e-mails entre os jovens e de mensagens de texto por mensageiro instantâneo, em laboratório”. Prática formativa que resultou na construção colaborativa de conhecimento e, surpreendentemente, na extensão da convivência entre os colegas de sala para além da escola e do período de aulas – os alunos começaram a manter contato escrito também no período de férias, mesmo com as diferenças de realidades sociais entre eles e com a distância física dos lugares onde moram ou passam as férias.
A professora Elaine Lopes usa semanalmente a sala de aula com recursos multimídia e o laboratório de informática para o ensino fundamental. Ela ficou satisfeita ao notar a “grande frequência que seus alunos com baixo desempenho e dificuldade disciplinar na sala de aula tradicional se destacam e procuram ajudar outros alunos no laboratório”, demonstrando uma acentuada melhoria na convivência da turma ao interagirem também nesse ambiente.
Segundo Elaine, isso se explica porque as tecnologias são parte do processo de formação cognitiva dos alunos nascidos na era da internet e da informática. Isso aponta que o uso de programas de computador e sites de pesquisa na internet são competências pedagógicas que devem ser contempladas no sistema de ensino para promover não só a inclusão digital, mas também permitir o desenvolvimento dessas capacidades intelectuais e sociais.