Guerra do Vietnã, do Iraque, veteranos e um título em inglês que remete à bandeira americana. Pode se preparar que lá vem mais um filme estadunidense cegamente patriota e de entediar qualquer não-cidadão da “terra da liberdade”. Ou não? Superando qualquer expectativa nesse sentido, A Melhor Escolha (Last Flag Flying, 2017) questiona o orgulho norte-americano exagerado através de três personagens caricatos e põe em xeque as inúmeras intervenções militares do país nas últimas décadas.
A trama se passa em 2003, quando o único filho de Larry “Doc” Shepherd (Steve Carell) é morto no Iraque durante a guerra. Recém viúvo e agora completamente sozinho, Doc rastreia seus antigos companheiros de Marinha durante a Guerra do Vietnã, Sal Nealon (Bryan Cranston) e Richard Mueller (Laurence Fishburne), para que o ajudem com o funeral. Essa situação leva a muitos momentos humorísticos e outros tantos conflituosos decorrentes das enormes mudanças sofridas por cada um dos três personagens principais desde a última vez em que se viram. Somados aos choques entre militares antigos e novos que ocorrem algumas vezes durante o longa, tais acontecimentos contribuem para uma excelente comédia dramática.
Parte do sucesso de A Melhor Escolha está no modo como a personalidade contrastante dos protagonistas é explorada. Surpreendentemente (ou não, considerando que Doc acabou de perder a esposa e o filho), Carell é o que menos faz graça durante o filme todo. Em um evidente estado de vulnerabilidade, seu personagem serve como uma espécie de “protegido” dos outros dois veteranos que, por causa das grandes diferenças de estilo de vida – um é dono de bar e o outro é pastor – criam entre si uma inofensiva rivalidade. Nesse sentido, a relação entre Doc, Sal e Mueller se assemelha muito à figura do “anjinho e diabinho” em cada ombro de uma pessoa e figura como um dos pontos mais marcantes do longa. Há, inclusive, uma cena na qual Cranston e Fishburne se colocam literalmente um de cada lado de Carell, expondo conselhos opostos sobre certa situação.
Mas com certeza o que diferencia o filme de um modo positivo é a sua crítica com relação às guerras americanas. Já partindo de três personagens levemente desiludidos depois da polêmica envolvendo a Guerra do Vietnã, da qual participaram, A Melhor Escolha guia os três veteranos em um caminho de mais decepções. Dessa maneira, mentiras contadas pelo governo e outras atitudes dúbias tomadas por ele são o suficiente para incitar o desgosto dos protagonistas com os comandantes do país. Isso acaba influenciando algumas decisões tomadas ao longo da história até o ponto em que, contrariando algumas expectativas construídas durante a narrativa, o filme chega à conclusão de que é possível amar seu país mesmo não concordando com alguns ideais de seus governantes.
A Melhor Escolha estreia em território nacional no dia 22 de março. Confira o trailer abaixo:
por Bruno Menezes
brunomenezesbaraviera@gmail.com