O enredo da adaptação do livro homônimo de Lauren Oliver, Antes Que Eu Vá (Before I Fall, 2017) nos conta a história de Samantha Kingston, que vive um Valentine’s Day perfeito: é umas das garotas mais populares da escola, tem 3 amigas inseparáveis, possui o namorado mais desejado de todas e esta será sua grande noite. Contudo, ao sofrer um acidente de carro,encontra-se presa na margem entre a vida e a morte, vivendo repetidamente o seu último dia viva. Por mais que não pareça importar o que ela faça para tornar o dia diferente, todas as manhãs são as mesmas. A não ser que ela mude tudo.
Em meio a essa onda de filmes adolescentes que apostam na alta carga emocional como A Culpa é das Estrelas (The Fault In Our Stars, 2014) e Se Eu Ficar (If I Stay, 2014), a trama de Antes que Eu Vá consegue reunir elementos típicos do gênero, mesclando com referências de clássicos adolescentes mais descontraídos. A obra dirigida por Ry Russo-Young (Nobody Walks, 2012) é uma história que busca emocionar permeada por um mistério que nos mantém entretidos nos 99 minutos de duração. O longa cumpre o que se propõe a fazer: entreter, sensibilizar e nos deixar com uma reflexão após o término.
A atriz Zoey Deutch está na pele da protagonista e cumpre a proposta de nos envolver em sua trama, muitas vezes nos fazendo torcer para que ela consiga mudar seu fim, contudo peca ao convencer como uma jovem na faixa dos 17 anos (Alô Hollywood! Vamos usar atrizes mais novas?). O romance se desenha em torno de Sam e acompanhamos o amadurecimento da personagem que a cada dia que revive encara com novo ângulo detalhes que passavam omissos no seu cotidiano, notando que ela não era uma boa pessoa como acreditava ser. Um ponto alto do enredo é a relação de Samantha com sua irmã mais nova, Izzy (Erica Tremblay). A dupla possui muita química em cena e protagonizam cenas singelas que nos comovem. Percebemos que quanto mais Sam relembra sua infância (suas atitudes ingênuas com seus pais e amigos), juntamente com o estreitamento do laço com sua irmãzinha, ela consegue resgatar a si mesma daquela personalidade que ela esculpiu com a adolescência.
A trama tenta intensamente nos inserir no universo juvenil e recai num emaranhado de clichês ao tratar os porquês do limbo que Sam fica presa. Bullying, padrões de aparência, preconceitos, divórcio dos pais, pressão social, sexo e qualquer outro tema que se encaixe na realidade adolescente o longa usa como tema, o que termina por desenvolver de forma rasa cada problemática. Diferentemente dos filmes do gênero, em que a mocinha cai em si nos 15 minutos finais e resolve mudar tudo, o longa esforça-se em adentrar inúmeras facetas de Sam e corrigi-las pouco a pouco conforme progride, causando a sensação certas vezes de que aquele seria seu fim, mas na manhã seguinte surge uma nova questão para a protagonista corrigir.
Lindsay, vivida por Halston Sage, melhor amiga da protagonista e abelha rainha das garotas, é uma personagem que carrega traumas da infância e a reflexão na adolescência acarreta um pouco na vida de cada personagem. Em volta do quarteto, uma série de problemas são levantados sem serem aprofundados, mal aproveitando as personagens coadjuvantes, e deixando pontas soltas. O romance com Rob (Kian Lawley) funciona como suporte para a temática de sexualidade, que é facilmente esquecida no primeiro terço do filme, tornando-se irrelevante para o público e até mesmo para Sam. No entanto, a introdução do personagem Kent Mcfuller (Logan Miller), que ganha espaço pouco a pouco no filme, é um gancho para as memórias de si mesma e traz à tona o lado bonzinho da jovem. Essa recuperação de autenticidade funciona como escape para a repetição do último dia e a saída do estado de limbo.
A ambientação do longa usa o combo óbvio para torná-lo melancólico: está sempre cinza e chuvoso. Isso se reflete na paleta de cores frias usada em quase todo o filme. Vale ressaltar a cena do confronto entre Juliet Sykes (Elena Kampouris) e as jovens, o uso da luz vermelha como referência ao clássico Carrie – A estranha, cria também a atmosfera de tensão e opressão que a cena transmite. Outro ponto positivo é a cena final, em que na floresta é criado um espaço em que residem vida e morte em uma linha fina que separam os dois, tornando até mesmo o encontro poético.
O longa estreia dia 18 de maio nos cinemas. Trailer legendado:
por Larissa Santos
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