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Tão americano que dói, ‘Campeões’ é perfeito para assistir em uma sala de espera

Remake de um filme espanhol de 2018, a versão de Hollywood perde todo o charme do original em roteiro e direção cronicamente previsíveis

Campeões (Champions, 2023) gira em torno da jornada de um time de basquete de pessoas com deficiências intelectuais, formado por um elenco amável de atores extremamente carismáticos. Apesar dessa característica positiva, o caráter genérico de boa parte da direção, roteiro e cinematografia fazem do longa um exercício de previsibilidade. A comédia é fria e, o drama, isento de tensões reais, uma vez que a sucessão de eventos fica óbvia durante todo o filme. Os aspectos formais são genéricos e pouquíssimos criativos, e isso fica ainda mais evidente quando a adaptação hollywoodiana é comparada à calorosa e hilária versão original espanhola, Campeones (2018).

Antes de discorrer sobre os aspectos negativos do filme, é preciso reconhecer aquilo que há de positivo nele. Primeiro, é admirável a recusa do longa de infantilizar ou transformar em “diversidade corporativa” as personagens com deficiências intelectuais no longa. Elas conseguem ganhar corpo e se tornam até mais genuínas que o próprio protagonista e seu interesse amoroso. Também é elogiável como o filme lida com o capacitismo, sem tornar o tema um empecilho absoluto à vida das personagens com deficiências, ao mesmo tempo em que renega a fórmula leviana de “com o poder da amizade vencemos tudo”. 

Apesar de ser classificado como uma comédia, Campeões é incapaz de se comprometer ao ridículo e ao patético, o que transforma situações absurdas em lições de vida tiradas de um livro de auto ajuda. A transformação é uma tendência comum na comédia mainstream dos EUA, mas ainda é extremamente irritante presenciá-la ininterruptamente durante duas horas. Uma das características mais amadas da versão espanhola de 2018 é a comédia física e, por vezes, absurda, que se perde totalmente na norte-americana quando é trocada por piadas prontas de sitcom.  Além disso, o longa falha com sua cinematografia, que é tão básica que parece ter sido gerada por inteligência artificial. 

A faceta dramática também não tem nenhum compromisso com a intensidade. O filme tenta emocionar em toda sua duração, o que força uma caracterização de feel good movie. Porém, é difícil criar um envolvimento genuíno com um protagonista que não convence o espectador de sua evolução. O carisma estranho do treinador Marcus (Woody Harrelson) é soterrado pela jornada de herói mais óbvia possível. Alex (Kaitlin Olson), interesse amoroso do protagonista, também não acrescenta com sua estética de cool girl saída de uma moodboard de outono do Pinterest de 2012. Seu irmão, Johnny (Kevin Iannucci), por outro lado,  entrega mais potência dramática em sua relação amistosa com Marcus do que sua irmã com o envolvimento amoroso. É mais cativante ver Johnny superar seu medo de água e tomar um banho para salvar um camundongo do que assistir a semi metamorfose do treinador, que dura o filme inteiro.

O clímax dramático do filme acontece no segundo tempo do jogo final de basquete da temporada. [Imagem: Divulgação/Universal]

Acima de tudo, o filme é radicalmente inofensivo, raramente saindo do padrão audiovisual norte-americano atual. Por esse motivo, não é possível considerá-lo ruim, apenas medíocre. É um filme nostálgico, que traz o espectador de volta ao começo da adolescência. Afinal, ele gera a sensação de assistir à Sessão da Tarde (1974-) na televisão da sala de espera de um consultório de ortodontia enquanto se pensa na cor de elástico que será usado do aparelho no próximo mês.

O filme já está em cartaz nos cinemas. Confira o trailer:

*Imagem de capa: Divulgação/Universal

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