Por Letícia Pelistrato (leticiapelistrato.ski@usp.br) e Livia Bortoletto (liviafb@usp.br)
Na manhã de 26 de setembro, último dia da Semana do Jornalismo, os estudantes puderam acompanhar uma conversa sobre assessoria de imprensa e o seu papel na comunicação. Mediado pelos repórteres da Jornalismo Júnior Gustavo Santos e Nicolas Sabino, o debate contou com a presença de Flávia Sobral, jornalista, empreendedora e profissional de comunicação corporativa, e Tânia Teixeira, jornalista com vasta experiência em assessoria de imprensa no Banco do Brasil.
As palestrantes começaram ao esclarecer qual é o papel de um assessor de imprensa: construir relacionamentos. Ele é responsável por analisar quais novidades ou aspectos apresentados pelo assessorado podem ser noticiados na imprensa e divulgar essas informações aos veículos de comunicação. “Ele é a ponte entre as marcas e a redação”, explica Tânia. Para ela o que torna alguém um bom assessor é a manutenção do compromisso com a verdade. Flávia complementa ao dizer que é essencial respeitar o trabalho dos jornalistas para os quais divulgam as informações, e não insistir para que a notícia sobre o seu cliente seja publicada.
Jornalista pode ser assessor de imprensa
As palestrantes comentaram sobre a ideia de que assessoria de imprensa não é uma profissão a ser exercida por jornalistas. Segundo Flávia, os jornalistas, devido à sua capacidade de detectar o que pode ou não ser noticiado, são as pessoas ideais para perceber esses aspectos em uma empresa ou em uma personalidade pública. Flávia reforçou que é crucial agir com transparência e saber distinguir o que é relevante ser noticiado sobre o assessorado ou não.

Em seguida, elas explicaram quais os princípios básicos que devem guiar o assessor de imprensa quando precisa tomar decisões rapidamente, como em situações de crise. Tânia aponta que, em primeiro lugar, o assessor deve agir com transparência e só divulgar o que for necessário. Ela exemplifica com a situação que vivenciou quando, em 2009, o avião da Air France que viajava do Rio de Janeiro à Paris desapareceu: “a assessoria não poderia falar que a empresa não sabia de nada. Como um avião sumiu do radar e a Air France não sabe de nada? Ela estaria mentindo, e isso faria com que a empresa perdesse reputação”.
Comunicação e tecnologia
Flávia e Tânia também explicaram quais as diferenças entre jornalismo, relações públicas e publicidade e propaganda. Tânia explicou que a área da Comunicação é muito ampla e os seus diferentes eixos se misturam. Contudo, para ela, o jornalista é aquele que sabe buscar informações para produzir um texto. Já o profissional de relações públicas é mais direcionado aos relacionamentos, seja para organizar eventos ou aproximar o poder público de uma empresa. Enquanto isso, o publicitário é aquele que trabalha com a construção de imagens de pessoas, seja ela verdadeira ou não.
Flávia complementa ao dizer que a comunicação tem que ser vista como matéria de si mesma, e que o jornalismo, a publicidade e as relações públicas são ferramentas dessa área. E ambas reforçam a importância de que os profissionais da área saibam operar em todos esses nichos.
“Vale tudo para eu colocar o meu assessorado na mídia? Não, não vale. Não vale a tua reputação.”
Flávia Sobral
Assim como faz com seus alunos, Flávia orientou os futuros profissionais a se reinventarem junto da mudança. Para isso, a construção de um jornalista multidisciplinar deve contar com o estudo da tecnologia, do funcionamento do algoritmo e, principalmente, da inteligência artificial. “Vocês precisam saber como usar IA, SEO (Search Engine Optimization, ou Otimização das Ferramentas de Busca, em português), link building (uma estratégia de SEO), algoritmo e palavras chave”, explica.
Tânia compartilhou os efeitos positivos e negativos das redes sociais no trabalho, e esclareceu que vê a ferramenta como uma aliada. Falou sobre a diferença na velocidade de execução do trabalho, e como isso afeta a profundidade das informações que são noticiadas. “Antes eu tinha dois dias para preparar um comunicado, hoje tenho quinze minutos”, comentou. Completou a fala ao afirmar que a falta de profundidade de um trabalho feito em minutos permite que um problema seja rapidamente esquecido pelo público, antes mesmo que possa ser investigado e questionado.
Assessoria de Imprensa na prática
“Secos e Molhados”, a primeira banda do cantor Ney Matogrosso, fez parte da lista de clientes de Tânia. Ao ser questionada sobre o assunto, as convidadas conversaram sobre diferentes áreas para assessorar. Teixeira afirmou preferir trabalhar para empresas a artistas, por conta da dificuldade de se adaptar à rotina e ao gosto pessoal de cada famoso. Entretanto, destacou que é delicioso trabalhar com arte, como uma verdadeira válvula de escape. Para ela, “a arte é o alimento da alma.”
A fim de mostrar a prática da assessoria, os mediadores lançaram uma atividade descontraída e envolvente para as convidadas: supondo que a Jornalismo Júnior foi acusada de divulgar fake news e, mesmo a acusação sendo falsa, o público acreditasse, como elas iriam gerenciar essa crise para limpar a reputação da empresa? As assessoras responderam que resolveriam por meio da comunicação constante e transparente com o público. Segundo elas, trata-se de uma situação simples, que “em uma semana já seria resolvida e a imagem da Jornalismo Júnior voltaria ao normal”, concluíram.

Após a estabilização da “crise”, veio a rodada de perguntas do público. Um dos temas levantados foi a dúvida sobre os conflitos de interesse do assessor ao trabalhar em casos que colocam princípios éticos em jogo, como quando empresas realizam greenwashing. Flávia respondeu que o compromisso do assessor é apurar profundamente a verdade dentro de uma empresa. Tânia completou com o exemplo de pessoas que se veem obrigadas a escolher entre permanecer no emprego ou abrir mão de princípios éticos: “Mas é um grande conflito. ‘Vou ter que defender uma marca que tem denúncia de trabalho análogo à escravidão? Que verdade vou levar para as pessoas?’”, explicou.
[Imagem de capa: Maria Luísa Lima/Jornalismo Júnior]
