Por Giovanna Martini (m.martini@usp.br) e João Pedro Teles Galante (joaoteles@usp.br)
Na tarde desta quarta-feira, 10 de setembro, a FEA Sports Business, empresa júnior vinculada à Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da USP (FEA-USP), promoveu um evento que contou com a presença de Mauro Beting – jornalista, escritor e comentarista esportivo. De forma bem humorada, a palestra abordou a vivência acadêmica e a trajetória profissional de um dos maiores nomes do jornalismo esportivo.
Trajetória acadêmica
O jornalista – com passagem pela TNT Sports, SBT, Jovem Pan, entre outros – começou a fala com sua trajetória de vida. Citando o início de sua carreira acadêmica, na USP, onde cursava Direito no período da manhã, enquanto à noite, estudava jornalismo na Faculdades Integradas Alcântara Machado (FIAM). Além disso, trabalhava na Bandeirantes na parte da tarde, já tendo um direcionamento e um foco maior na área que realmente sonhava: o jornalismo. O comentarista relembrou também sua habilidade como goleiro na juventude, sendo titular em diversas modalidades esportivas debaixo das redes.
Beting continuou a palestra sem esconder sua motivação e inspiração pelo jornalismo desportivo: o Palmeiras. O clube alviverde foi o responsável por impulsionar o surgimento de um dos maiores jornalistas esportivos do país ao provocar nele o sentimento de paixão, pertencimento e união: foi graças a esse amor pelo time que surgiu em Mauro Beting o interesse em aprender, entender e estudar mais sobre o futebol.
“Meu amor incondicional pelo Palmeiras fez com que eu amasse e sonhasse em trabalhar com jornalismo desportivo, principalmente com o futebol’’
Mauro Beting
Após breve introdução sobre sua carreira, Beting comentou sobre os diversos projetos e grupos que faz parte: TNT, SBT, XSports, Estadão, Milton Neves 100 Mi Mi Mi, eFootball e o Futebol Interativo. Também abordou algumas conquistas pessoais: sua loja de camisas retrô, a RETRÔGOL, sua posição como Curador no Museu da Seleção e no Museu Pelé, sua participação na final da UEFA Champions League e mais recentemente na sua nova atividade, como celebrador de casamentos.
Debate e Opiniões
Para Beting, o futebol é único. É um esporte que tem importância fundamental para questões políticas, históricas e geográficas. “O futebol pode mudar a história de um país’’, afirma o jornalista, dizendo que o esporte é capaz de promover o reconhecimento de uma nova nação ao mundo, citando por exemplo o aparecimento das Ilhas Marshall, cuja existência era desconhecida por muitos até o surgimento da seleção deste país, que apenas de disputar confrontos com outros países da oceania, (continente do qual faz parte) como Austrália, colocou eles no mapa, mesmo que não vencendo os jogos. Para complementar o pensamento, Beting, traz uma fala do diretor e roteirista americano, Spike Lee, que diz: “É impossível escrever um roteiro mais emocionante do que um jogo de futebol’’, ressaltando como o esporte é mágico, único e lindo, devido a sua imprevisibilidade e a sua infinitude de possibilidades que permitem no futebol todos terem uma chance de vencer.
O jornalista também trouxe ao debate a questão das crianças e dos juvenis no esporte. Hoje, muitos meninos de 11 anos que jogam em clubes médios e grandes do país têm contrato com fornecedores de material esportivo, sem contar aqueles que se destacam, são de alto nível, e chegam a receber salários de atletas profissionais ainda pequenos. Mauro Beting afirma que o mais complexo disso é que eles são o sustento das famílias: muitos pais largam seus empregos para cuidar dos filhos, o que não teria problema algum não fosse a pressão e a expectativa muitas vezes colocadas desde cedo em cima dessas crianças prematuramente, o que pode ser um perigo para a saúde mental e o desenvolvimento desses jovens.
Ao longo do discurso, Mauro Beting opinou sobre o desgaste de atletas no futebol brasileiro e destacou a necessidade de maior tempo de repouso entre as partidas. Beting ressalta que o futebol precisa de gestores e administradores no mercado de trabalho. Ainda pontua a entrada de pessoas que nunca imaginaram estar nesse universo como algo relevante para a indústria. Além disso, citou a SAFIEL – projeto que propõe quitar dívidas e recuperar a competitividade esportiva do Corinthians – como um exemplo do papel da gestão administrativa e econômica no futebol.

O comentarista esportivo conta que a paixão pelo futebol é o diferencial na carreira [Imagem: Jornalismo Júnior]
Conduzindo para o fim do evento, antes de abrir o momento para perguntas, Beting compartilhou algumas opiniões pessoais. Por exemplo, cita que o maior time que ele viu no mundo jogava na América do Sul: o Flamengo de 1981/1982, que tinha o Zico como referência. Revelou também ser um entusiasta da música, tanto nacional, sendo um grande fã do Chico Buarque e Tom Jobim, quanto internacional, por sua apreciação pela banda U2.
Perguntas do público
Até que iniciou-se o momento de perguntas da plateia. Quando questionado sobre o que novos jornalistas precisam fazer para conquistar credibilidade com o público, Beting destacou a importância de sempre olhar para todos os lados dos fatos. Ele ainda afirmou que, cada vez mais, o jornalismo deixa de buscar a melhor versão das coisas e das pessoas – tudo tende a ser muito negativo. O jornalista apresentou então o que chama de “Muro Beting” – trocadilho com seu nome -, explicando que, ao se colocar “em cima do muro”, é possível enxergar múltiplos lados de uma mesma questão. Beting encerrou sua resposta aconselhando que os novos profissionais sejam cada vez mais corretos e leais.
Para finalizar a palestra, Mauro Beting foi questionado sobre como se destacar no jornalismo esportivo. Ele começou a resposta destacando princípios básicos para se diferenciar no meio: respeito e empatia. O profissional criticou o péssimo costume elitista que o jornalismo adotou – subestimar a inteligência, a cultura e a educação do público. É fundamental entender o contexto em que se está inserido e adaptar a fala, mas sempre respeitando quem assiste. Ele também pontuou a dificuldade de alguns jornalistas em aceitar críticas, inclusive ele próprio. Beting encerrou revelando seu grande segredo: ouvir, estudar, se dedicar e se preparar para cada cobertura como se fosse uma grande final de Copa do Mundo.
“ Quem vive de passado não é museu, é que tem história”
Mauro Beting
*Foto de capa: Jornalismo Júnior





