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Linda de Morrer: o espectador não morre (nem de rir e nem de tédio)

por Heloísa Iaconis helo.iaconis@hotmail.com Estética feminina, fotografia, relação mãe-filha e risadas: pode-se dizer que este quarteto sustenta o enredo de Linda de Morrer (2015), que estreia no dia 20 de agosto. A história gira em torno de Paula (Glória Pires), uma renomada cirurgiã plástica e criadora de uma fórmula que, segundo a própria médica, faria …

Linda de Morrer: o espectador não morre (nem de rir e nem de tédio) Leia mais »

por Heloísa Iaconis
helo.iaconis@hotmail.com

Pôster do longa Linda de Morrer
Pôster do longa Linda de Morrer

Estética feminina, fotografia, relação mãe-filha e risadas: pode-se dizer que este quarteto sustenta o enredo de Linda de Morrer (2015), que estreia no dia 20 de agosto. A história gira em torno de Paula (Glória Pires), uma renomada cirurgiã plástica e criadora de uma fórmula que, segundo a própria médica, faria com que as mulheres perdessem a “indesejável” celulite. Todavia, a doutora ingere uma de suas pílulas “milagrosas” e falece em decorrência dos efeitos nocivos gerados pelo produto. O espírito de Paula, preocupado com os danos causados por seu invento, resolve, então, pedir ajuda a Daniel (Emílio Dantas), um psicólogo-médium, para que o comprimido enganoso fosse retirado do mercado.

Tendo em mente o fio condutor da narrativa, faz-se possível tecer comentários acerca de alguns personagens e assuntos do filme:

Um Milagra mortífero: o ideal estético posto em cheque

Atrás de piadas e diálogos despretensiosos, a película coloca em pauta a beleza feminina. Ou melhor: o padrão estético que atormenta milhares de mulheres. Gordurinhas? Estrias? Celulites? No âmbito do modelo Barbie, isso não é aceito. Sem adentrar a fundo no problema e respaldado por um tom descontraído, o longa apresenta o risco de se mergulhar em uma cegueira, fruto da procura incansável pela dita “perfeição”. Paula é traída por sua criatura, o Milagra, denominação que mistura o vocábulo “milagre” com o termo Viagra, símbolo relacionado a mais um estereótipo fincado nas entranhas sociais: o desempenho sexual masculino. Outras personagens, as quais também fizeram uso do comprimido, esboçam mudanças comportamentais. Só após a morte, a médica percebe que a sua fixação por um ideal estético de nada valeu e que a sua busca era, na verdade, falaciosa.

Salienta-se que, em segundo plano, encontram-se singelas pinceladas críticas ligadas ao universo médico, ao mercado da beleza e à mídia. No que tange a esfera dos jalecos brancos, a credibilidade médica é abordada devido ao fato da cirurgiã plástica ter oferecido uma fórmula que, de acordo com ela, não teria efeitos colaterais. Porém, os danos são maiores do que a vã filosofia de Paula poderia supor e, assim, a sua reputação profissional é manchada (apesar da médica ter acreditado, de fato, que a sua invenção era isenta de complicações à saúde). Na caça desenfreada por vendas e lucro, o sócio da doutora, Francis (Ângelo Paes Leme), mesmo sabendo das consequências do consumo do Milagra, preocupa-se apenas em tirar proveito desse mercado alimentado por mil e uma receitas da “beleza perfeita”. Por fim, a mídia é cutucada na representação de um programa televisivo, o qual serve de plataforma para que Paula divulgue a sua novidade. Através da propaganda da pílula, o produto midiático é responsável pelo florescimento, em várias mulheres, do desejo de ingerir o comprimido. Como uma parte considerável da mídia real, o programa construído na obra cinematográfica vende, sem remorso, o ideal estético feminino.

Bastidores do filme Linda de Morrer:

O belo nas fotos de uma “Sebastiana Salgada”

Alice (Antonia Morais), filha de Paula, é o oposto da mãe. Desprovida de uma vaidade exacerbada, a garota frequenta um curso de fotografia e produz imagens que retratam, com sensibilidade, o que ela enxerga de belo em pessoas que são deixadas à margem da sociedade. Para a personagem de Glória Pires, as fotos não são bonitas, já que retratam indivíduos “feios”. As imagens, uma fonte de beleza natural que contrasta com a artificialidade das cápsulas desenvolvidas pela médica, poderiam ter sido mais exploradas durante a película.

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Alice (Antonia Morais) e a sua paixão pela fotografia.

Vínculo mãe-filha: um tempo sem tempo no meio do caminho

No cotidiano de Paula, o ideal de belo era protagonista e a sua filha tornava-se coadjuvante. A cirurgiã perdeu momentos preciosos do crescimento de sua menina e mal conversava com Alice. A reconciliação surge por intermédio da morte, já que, quando Alice consegue comunicar-se com o espírito de Paula, as duas reparam arestas e descartam mágoas. Em uma sequência, a estudante, saudosa devido ao falecimento materno, expõe um trabalho no qual há fotos da médica sem maquiagem, dormindo, relaxada, sem estar carregada de artifícios estéticos. Com essas imagens, Alice homenageia a sua mãe e a beleza natural dela. Pertinente notar que Gloria Pires e Antonia Morais são, fora da ficção, mãe e filha e que o longa em questão marca a estreia de Antonia no cinema.

Gloria Pires e Antonia Morais: mãe e filha dentro e fora das telonas.
Gloria Pires e Antonia Morais: mãe e filha dentro e fora das telonas.

Pitadas de humor clichê e boas sacadas

A comédia mescla, em suma, piadas previsíveis com algumas tiradas interessantes. O longa garante uma dose considerável de risadas, mas nada que faça, por exemplo, doer a barriga. A morte é o principal gancho para as anedotas que, em certos casos, ficam repetitivas. Algumas cenas foram gravadas no cemitério São João Batista, em Botafogo, mais um recurso para brincar com elementos ligados ao falecimento. Linda de Morrer é dotado de um humor leve e palatável e, dentro dessa concepção, executa a sua proposta com êxito. A obra não crava extensas reflexões sobre as temáticas delicadas; e, certamente, o público não se surpreende com isso e não espera outra estrutura. Destaque para a atuação de Vivianne Pasmanter: a atriz, no papel de uma paciente desiquilibrada de Daniel, em poucas cenas, provoca risos.

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Paula (Gloria Pires), Daniel (Emílio Dantas) e Alice (Antonia Morais).

Susana Vieira: a cereja do bolo

Susana Vieira, definitivamente, merece um parágrafo à parte. Na pele de Mãe Lina, a veterana, que não tem paciência para quem está começando, é mais um enfeite na história e não é essencial para o desenvolvimento da trama. A mãe de santo possui três funções na obra: deixar de herança para o seu neto, Daniel, a mediunidade; acompanhar Paula em direção ao além-mundo; trazer à tona um elemento humorístico nato: a própria Susana. Com os seus trejeitos, o seu modo espalhafatoso e a sua figura, a atriz por si só é motivo de risos. Amada por 130 milhões de brasileiros e padroeira universitária, ela rende burburinho entre os espectadores. Dá-lhe, Santa Susana!

Mãe Lina (Susana Vieira) em um ritual com o seu neto Daniel (Emílio Dantas).
Mãe Lina (Susana Vieira) em um ritual com o seu neto Daniel (Emílio Dantas).

O filme, que zomba da morte, ancora-se em problemáticas bem vivas e passa a mensagem de que “beleza é uma questão de espírito”. Não fugindo ao estilo da maioria das comédias com globais, tem o ponto positivo de ser mais uma micropeça no cenário de indagações sobre o (mal)dito ideal estético feminino. Afinal, é crescente o número de mulheres que questionam o molde padronizado que, há tanto tempo, deixa a beleza feminina encurralada. “Não estou disposta a aceitar esse padrão”, exclama uma moça lá e outra acolá. E você? Gritará também?

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Confira o trailer do longa:

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