“Aqui no meu quarto, eu faço meu pacto, de ser quem eu sei ser, não importa o que acontecer.” É esse quarteto de rimas pobres entoados pela protagonista que sintetizam a trajetória vivida por ela em Meus Quinze Anos (2017), baseado no livro homônimo da autora brasileira Luiza Trigo. O longa reúne estrelas conhecidas pelo público infanto-juvenil e tem uma fórmula feita para agradá-lo. Quando o vestido de debutante está aposentado e acumulando poeira no armário, a obra pode trazer o sabor do imaturos 14 anos e dos clichês que a idade traz.
Meus Quinze Anos gira em torno do aniversário de 15 anos de Bia, uma garota muito insegura e que se sente diferente das jovens ao seu redor. Por conta da insegurança, ela foi se fechando para os colegas, mantendo apenas amizade com Bruno, que é seu confidente e melhor amigo. A protagonista é criada pelo pai, Edu, que acompanha de perto e com cuidado o crescimento da filha. Ao entrar na adolescência, o pai tenta penetrar na paredes construídas pela confusão da idade, e numa dessas tentativas de ajudar a filha, a inscreve para um concurso no shopping da cidade, em que a vencedora ganhará uma festa de debutante dos sonhos. Ao vencer a competição, Bia terá que encarar as dúvidas das quais sempre fugiu: quem ela é de verdade e quem quer ser.
A autora do livro no qual o longa é baseado, declarou na coletiva de imprensa que sua obra era mais fraca, e viu que o roteiro deveria ser muito mais trabalhado. De fato, mesmo que consiga preencher seus 94 minutos, o enredo é fraco e mostra muitas incoerências que tornam os fatos questionáveis. Apresentada como a diferentona da turma, Bia, interpretada por Larissa Manoela (Carrossel, 2016), é mais uma típica menina comum que não se encaixa no grupo das patricinhas — que também são outro grande clichê. Apesar de reafirmar a personalidade constantemente, a mocinha deseja ser aceita pelo grupinho da forma como é. Todavia, ao se preparar para debutar, sofre forte pressão para mudar sua forma de ser, ainda sem nada muito original.
Entretanto, o longa dá um gostinho brasileiro e infantil para os clichês do gênero que estamos tão acostumados a ver no cinema americano. Meus Quinze Anos é sobre o debute da mocinha, mas vai além da noite de debutante, pois ela se permite viver mais devido à festa, passando por um amadurecimento que se insere em sua vida.
O elenco possui pontos muito altos e muito baixos que são colocados sempre lado a lado em cena. A relação entre Bia e Edu, vivido por Rafael Infante, é uma das melhores (e mais bonitas) facetas do longa. A dupla possui química e consegue tornar crível o companheirismo entre os dois. Rafael, que além de ator, é comediante, garante doces risadas com piadas dignas de um pai. Esse dueto, sem dúvidas, consegue extrair a melhor atuação de Larissa, que ainda tateia por conforto e naturalidade diante das câmeras.
O casal principal, Bia e Thiago, interpretado por Bruno Peixoto, é realmente muito bem treinado e tem todas as falas decoradas e recitadas em tela — o que não garante de forma alguma aspectos como autenticidade ou química. De fato, a dupla se esforça muito, mas falha em transmitir credibilidade. Em contrapartida, o que falta de talento no príncipe sapo, é preenchido pelo bom desempenho de Daniel Botelho, que dá vida ao Bruno, melhor amigo dela. Bruno e Bia funcionam bem em cena e nos fazem torcer pelos dois.
As participações especiais trazem chaves fundamentais para o bom funcionamento do filme.. Victor Meniel, ao lado de Polly Marinho, são o alívio cômico da trama. A dupla possui uma dinâmica própria em tela que sustenta o gênero “comédia” atribuído a Meus Quinze Anos. Na pele de José Carlos, o youtuber é uma deliciosa surpresa que consegue cativar e divertir o público a cada momento que aparece. Vale ressaltar também a participação da cantora Anitta, que interpreta a si mesma e funciona como um empurrãozinho para o empoderamento da jovem Bia.
Para todas as jovens Bias, Meus Quinze Anos cumpre seu papel de divertir e ensinar a lição de que é mais importante ser quem realmente é, se permitir descobrir em seu próprio tempo e valorizar quem se ama.
O longa estreia dia 15 de junho nos cinemas. Assista ao trailer:
por Larissa Santos
larissasantos.c@usp.br