Mister Olympia 2024 | Cbum hexacampeão e Dino fora do Top 3

Por Luiz Dias (lhp.dias11973@usp.br)

No último sábado (12), os atletas se reuniram nos palcos de Las Vegas para a decisão das modalidades masculinas, com exceção da 212 realizada na sexta-feira (11), e a categoria feminina Bikini, pelo último dia de competições do Mister Olympia 2024.

Classic Physique abre o dia com surpresas

Para a surpresa do público e dos comentaristas, Mike Sommerfeld se classificou para o Top 3 da categoria Classic Physique nas prévias, retirando do pódio alguns dos favoritos à disputa do título como o brasileiro Ramon “Dino” Queiroz, vice-campeão em 2023, e o holandês Wesley Vissers, campeão do Arnold Classic Ohio 2024, o segundo maior campeonato de fisiculturismo do mundo, realizado alguns meses antes do Olympia 2024.

“Estamos vendo algo inimaginável […] Ninguém imaginaria o Sommerfeld no Top 3”

Rubens Gomes, comentarista da OlympiaTV

Durante as finais da modalidade, Sommerfeld e Chris “Cbum” Bumstead, o atual campeão, foram isolados no palco, uma ação tipicamente tomada pelos juízes a fim de julgar a disputa de título. Segundo anúncio dos árbitros antes de divulgar o campeão, a disputa de título dessa edição foi uma das mais apertadas da categoria em muitos anos.

Chris Bumstead anuncia sua aposentadoria em discurso emocionante

Após disputa acirrada contra Mike Sommerfeld, Chris Bumstead se consagrou Mr. Olympia na categoria Classic Physique pela sexta vez, título mantido por ele desde 2019. No entanto, o hexacampeão declarou o fim de sua trajetória no Olympia. Seu anúncio de aposentadoria foi feito durante o discurso de campeão, no qual Bumstead agradeceu a todas as pessoas que o ajudaram a tornar seu sonho realidade.

“Eu espero que vocês tenham aprendido algo na minha jornada. Não foi sobre vencer, mas sobre a mentalidade de campeão, mergulhando de cabeça e desfrutando do momento. Muito obrigado.”

Chris Bumstead

Uma das principais homenageadas pelo campeão invicto foi sua esposa, Courtney King, mãe de sua filha, Bradley Shay Bumstead, que nasceu no dia 22 de abril deste ano. Cbum agradece a “uma das jornadas mais bonitas que poderia ter vivido”, mas que agora ele tem de se dedicar às pessoas que ele ama. Chris Bumstead é o segundo campeão a anunciar a sua aposentadoria nos palcos do Olympia 2024, assim como a heptacampeã Cydney Gillon nesta sexta-feira (11).

O hexacampeonato isola Bumstead como o maior campeão da modalidade de todos os tempos, à frente do segundo colocado, o bicampeão Breon Ansley [Imagem: Reprodução/Instagram:@mrolympiallc]

Os atletas que fecharam o pódio — que no Olympia é composto pelos cinco primeiros colocados — foram o alemão Mike Sommerfeld, segundo colocado, o alemão Urs Kalecinski, terceiro colocado, o brasileiro Ramon Dino, quarto colocado, e o americano Breon Ansley, em quinto lugar.

A categoria Classic Physique foi criada pela organização do Olympia a fim de resgatar os “físicos clássicos” da Era de Ouro (anos 80) da competição. A modalidade conta com uma tabela que limita o peso do atleta de acordo com sua altura, para alcançar físicos estéticos com volume muscular sem excessos, alta definição muscular e simetria entre os grupamentos musculares.

O tricampeão Frank Zane, é considerado um dos físicos mais estéticos da Era de Ouro e um dos modelos para os físicos da categoria Classic Physique [Imagem: Reprodução/Instagram:@therealfrankzane]

Ramon Dino fora do Top 3

Uma das principais surpresas da noite foi a performance de Ramon Dino, vice-campeão da edição de 2023 e um dos favoritos à disputa de título com Bumstead. Para a decepção da torcida brasileira, Dino foi retirado do Top 3 da competição pelos árbitros na primeira fase do julgamento, as prévias, terminando a competição em quarto lugar.

Segundo Bruno Correia, um dos comentaristas do evento, o físico de Dino “parecia flat e vazio”. O que pode ser resultado de um processo de “carb up” mal-executado durante a preparação, processo no qual o atleta ingere grandes quantidades de carboidratos para aumentar o volume muscular imediatamente antes da competição, após semanas de dieta extrema. Em entrevista aos comentaristas brasileiros, Dino admitiu que erros podem ter sido cometidos na fase final de sua preparação.

O prêmio do Mr. Olympia vai para…

O grande campeão da noite, que levou o troféu Eugen Sandow e o título de Mr. Olympia 2024, foi o britânico Samson Dauda. O título na categoria Open é um dos mais disputados e tradicionais do fisiculturismo, tendo como seu primeiro campeão Larry “A Lenda” Scott, em 1965.

Além do título de Mr. Olympia, Dauda leva para casa o prêmio de U$600 mil dólares. [Imagem: Reprodução/Instagram:@mrolympiallc]

Samson Dauda conquistou seu primeiro título no Mr. Olympia derrotando os ex-campeões Hadi Choopan, campeão em 2022, e Derek Lunsford, campeão em 2023, que assumiram a segunda e terceira colocação, respectivamente. Completam o quadro de medalhistas o americano Martin Fitzwater e o nigeriano Chinedu Obiekea (Andrew Jacked). Dauda também ganhou o troféu de People ‘s Champion (Campeão do Povo), prêmio dado por votação da plateia.

A Categoria Mr. Olympia, também chamada de Open Bodybuilding, é a categoria mais extrema e disputada do fisiculturismo. A modalidade — que tem entre seus vencedores Arnold Schwarzenegger e Ronnie “The King” Coleman — exige o máximo condicionamento dos atletas, não havendo restrições de tamanho ou de altura, cujo principal diferencial entre os competidores é o tamanho e o volume, o que rende aos atletas dessa modalidade o apelido de “mass monsters” (monstros de massa ou gigantes musculosos).

O troféu Eugen Sandow, marca registrada do Mr. Olympia é modelado em homenagem ao atleta homônimo, considerado o pai do fisiculturismo [Imagem: Reprodução/Instagram:@samson_dauda]

Disputa acirrada marca final da Men’s Physique

Ryan Terry conseguiu o bicampeonato em 2024 em uma disputa apertada contra o afegão Ali Bilal. O desempenho do vice-campeão foi uma surpresa, após ficar de fora do Top 5 na última edição. Em entrevista à equipe brasileira de comentaristas, Ryan Terry afirmou que Bilal foi uma ameaça real ao título, e que não estava em seu desempenho completo, com algumas deficiências em seu físico, como a linha de cintura, que quase renderam o título ao rival afegão.

O quadro de medalhistas da categoria Men’s Physique foi composto, além de Terry e Bilal, pelos americanos Erin Banks e Emmanuel Hunter, em terceiro e quarto lugar, respectivamente, e o brasileiro Edvan Palmeira, em quinto lugar.

O campeão Ryan Terry no centro, com Alil Bilal à sua esquerda e Erin Banks, à sua direita. [Imagem: Reprodução/Instagram:@ryanjterry]

A categoria Men’s Physique é a única modalidade que os atletas posam de bermuda, sendo uma das categorias que surgiram a partir da Open, com o objetivo de atrair físicos com aparência mais saudável e estética, em que os competidores devem apresentar um “físico de praia”. Os principais critérios da categoria são a cintura fina e a silhueta desenhada em diagonal, a fim de desenhar uma forma de “V”, partindo das dorsais e terminando em ombros largos e arredondados.

Ascensão de uma nova campeã na categoria Bikini

A canadense Lauralie Chapados, após sete anos de atividade nos círculos profissionais, conquistou seu primeiro título de Mister Olympia na categoria Bikini. A canadense também detém o tricampeonato da modalidade no Arnold Classic Ohio, que, somados à sua vitória recente, marcam Chapados como um dos principais nomes em atividade da categoria no mundo.

Lauralie Chapados compete no Olympia desde 2018. Até esse ano, sua maior colocação era o vice-campeonato em 2018 [Imagem: Reprodução/Instagram:@lauraliechap]

As campeãs que completam o Top 5 em conjunto com Lauralie Chapados são as americanas Ashley Kaltwasser em segundo lugar, Jasmine Gonzalez em terceiro lugar, Aimee Delgado em quarto lugar e Vania Auguste em quinto. As competidoras brasileiras Elisa Pecini, campeã em 2019, e Angélica Teixeira, campeã em 2017 e 2018, ficaram de fora do Top 5.

Considerada a modalidade de entrada para o fisiculturismo feminino, a categoria Bikini possui atletas com volume e definição muscular baixos em comparação às demais categorias, com aparências mais naturais e menos agressivas. Alguns dos principais critérios de julgamento são cinturas finas, que projetam um físico em formato de ampulheta, aparência feminina e músculos arredondados, como os ombros e glúteos.

Kong retoma seu reinado na categoria Wheelchair

Harold “Kong” Kelley derrotou o antigo campeão, o polonês Karol Milewski, e retomou o posto de Mister Olympia na Wheelchair, a categoria para atletas em cadeiras de rodas. A posição foi mantida por Kelley desde 2018, com a única exceção sendo a vitória de Milewski na edição de 2023.

Com a vitória, Harold Kelley acumula seis vitórias no Mister Olympia [Imagem: Reprodução/Instagram:@haroldkelley071]

Os demais atletas que compõem o quadro de medalhistas da Wheelchair são o francês Kevin Secundino em segundo lugar, o ex-campeão Karol Milewski em terceiro lugar, o italiano Gabriele Andriulli em quarto lugar, e o brasileiro Josué “Gorila Albino” Monteiro em quinto lugar.

Desempenho dos atletas brasileiros

Com dez medalhistas na edição de 2024, o Brasil se torna a segunda maior potência do campeonato, atrás dos Estados Unidos da América (EUA). A segunda posição é detida pelo Brasil desde as classificatórias, sendo o segundo país com a maior quantidade de classificados para o mundial, 50 atletas, atrás apenas dos EUA, com 119 atletas classificados.

Os atletas brasileiros mantiveram um desempenho similar a 2023, com uma pequena queda de um atleta em relação à edição de 2023 que contou com onze medalhistas [Imagem: Jornalismo Júnior/Luiz Dias]

A lista de atletas brasileiros que alcançaram a premiação no Top 5 do Mr. Olympia 2024 inclui:

Isabelle Pereira, primeira colocada na categoria Wellness.
Francielle Mattos, segunda colocada na categoria Wellness.
Eduarda Bezerra, terceira colocada na categoria Wellness.
Giselle Machado, quinta colocada na categoria Wellness.
Natalia Abraham Coelho, segunda colocada na categoria Women’s Physique, possui dupla nacionalidade brasileira-americana.
Zama Benta, quinta colocada na categoria Women’s Physique.
Vitor Porto, quinto colocado na categoria 212.
Ramon Dino, quarto colocado na categoria Classic Physique.
Edvan Palmeira, quinto colocado na categoria Men’s Physique.
Josué “Gorila Albino” Fabiano, quinto colocado na categoria Wheelchair.

A expressão do Brasil como mercado consumidor de fisiculturismo e polo exportador de atletas chamou a atenção da organização do evento. Terrick El Guindy, árbitro do campeonato e CEO da Promotora Musclecontest, voltou a comentar sobre a possibilidade de sediar o Mister Olympia no Brasil durante a transmissão oficial, assunto cogitado por ele desde 2023. Essa seria a primeira edição do evento realizada fora dos Estados Unidos.

Aumento da diversidade na 60ª edição do campeonato

Essa edição chamou a atenção pelo aumento da diversidade de nacionalidades presentes, indicando o crescimento da popularidade do esporte fora dos EUA, local de origem e principal polo do fisiculturismo. Rubens Gomes, comentarista do evento, ressaltou essa tendência durante a categoria Bikini, em especial com as atletas asiáticas, cerca de 14 nesta edição. Segundo ele, o número de atletas vem aumentando, junto da qualidade dos físicos e da beleza das competidoras.

A atleta chinesa Wenjun Duan foi uma das estreantes que chamou atenção nessa edição [Imagem: Reprodução/Instagram:@wenjun_duan_ifbbpro]

Novas tradições no Mister Olympia

A organização do evento anunciou que irá aderir a uma tradição norte-americana comum em diversos campeonatos esportivos: premiar os campeões com anéis exclusivos. Essa tradição é adotada por quatro das maiores ligas esportivas dos EUA: a MLB (beisebol), NBA (basquete), NFL (futebol americano) e a NHL (hóquei).

Para a realização do anúncio dessa nova tradição, foram convidados alguns antigos campeões da categoria Open, a principal categoria do campeonato, para receber os primeiros anéis exclusivos, sendo alguns dos campeões: o oito vezes campeão, Ronnie “The King” Coleman, o tetracampeão Jay Cutler, o campeão Dexter Jackson, o campeão Samir Bannout e o octacampeão Lee Haney. Esses foram os primeiros ex-campeões a adquirirem o novo anel exclusivo da competição.