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Mostra Internacional de SP: Califórnia

Por Carolina Ingizza carol.ingizza@gmail.com Este filme faz parte da 39ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Para conferir a programação completa clique aqui Lavando a calcinha da primeira menstruação e buscando absorventes escondida no quarto da mãe. É assim que começa Califórnia (2015), o mais novo filme de Marina Person. Desde os primeiros instantes de projeção, …

Mostra Internacional de SP: Califórnia Leia mais »

Por Carolina Ingizza
carol.ingizza@gmail.com

Este filme faz parte da 39ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Para conferir a programação completa clique aqui

Lavando a calcinha da primeira menstruação e buscando absorventes escondida no quarto da mãe. É assim que começa Califórnia (2015), o mais novo filme de Marina Person. Desde os primeiros instantes de projeção, percebemos que o longa vai falar sobre crescer, amadurecer e descobrir o mundo. Ou como sugere a música tema do filme, Caterpiller (do The Cure), a obra busca retratar o desabrochar de uma menina que está saindo de seu casulo.

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A atriz Clara Gallo, que interpreta Estela, ao lado de Caio Horowicz, que interpreta JM

Ambientada nos anos 80, a história é sobre Estela (Clara Gallo), mais conhecida como Teca, uma menina de 17 anos que trocou a festa debutante por uma viagem para a Califórnia com seu tio Carlos (Caio Blat). Ele é um jornalista musical que mora nos Estados Unidos, completamente idolatrado pela sobrinha, com quem mantém uma doce relação de amizade.

No entanto, enquanto ela se prepara para a viagem, entre festas com colegas da escola e preocupações acerca da primeira vez, o tio precisa voltar para o Brasil para cuidar da saúde.

Nesse meio tempo, Estela se envolve com um garoto do colégio, Xande (Giovanni Gallo), um surfista bonitinho e não muito interessante. A menina está apaixonada a ponto de buscar fazer simpatias para conquistar o rapaz, num retrato engraçado dos costumes da época. Enquanto o romance entre eles começa a não dar certo, surge JM (Caio Horowicz), um menino que entra no colégio no meio do ano letivo e atrai a atenção de todos por sua excentricidade. Rapidamente surgem boatos de que ele teria sido expulso da escola por transar com a diretora e que, na verdade, ele era gay.

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Assim, o filme se desenrola. Estela busca lidar com a doença do tio, com as confusões internas que possui por conta dos romances de colégio. Ao mesmo tempo, ela sofre pressões das amigas por namorar e perder a virgindade, além de tentar entender JM, que a intriga e se recusa a responder completamente suas perguntas.

A trama só é possível por conta do empenho dos atores. Clara Gallo está muito empenhada no papel, buscando dar camadas para sua Estela, tentando transparecer toda a confusão mental pela qual a personagem passa. Caio Horowicz está confortabilíssimo na pele de JM, age com naturalidade e consegue manter o expectador interessado em seu papel. Giovanni Gallo, Letícia Fagnani e Lívia Gijon (que interpretam as melhores amigas de Teca) seguem o que o roteiro pedia deles, já que os três personagens não possuem grandes conflitos e exercem um papel propositalmente fútil e não muito complexo. No entanto, disparadamente, a melhor atuação vem de Caio Blat, que constroi um Carlos com várias nuances, um personagem que tenta esconder seus problemas da sobrinha, com gestos delicados e um carisma alto. Há cenas, por exemplo, em que só percebemos o estado de saúde dele por meio da maneira trêmula com que ele segura o cigarro.

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Clara Gallo ao lado de Caio Blat, que interpreta o Carlos, o tio de Estela

Apesar dos atores, o maior problema do filme é o roteiro. A trama desenvolvida é extremamente convencional, há dezenas de filmes sobre adolescentes que tratam dos mesmos aspectos abordados nesse longa: a menina legal interessada por um cara comum, até que chega o garoto interessante que vai mudar sua vida. Contudo, o filme se equilibra justamente por não tentar inovar. Ele só quer fazer o público-alvo se identificar com a história de Teca, e isso ele faz muito bem.

Há diálogos que fazem qualquer um que já esteve na adolescência enrubescer. Conversas animadas sobre David Bowie, uma discussão sobre o fato de ninguém nunca ler Pé na Estrada, de Kerouac, por inteiro e até mesmo uma cena hilária sobre dúvidas quanto ao uso de absorvente interno. Além dos diálogos bons, há também o carisma dos protagonistas, especialmente o de JM, que, por exemplo, ao ser questionado sobre sua suposta homossexualidade, diz que não chutaria Mick Jagger de sua cama.

Outros ponto que merece elogios é a direção de arte, feita por Ana Mara Abreu, que se empenhou para deixar todos os objetos, desde posters na parede até itens na estante, da forma como eram nos anos 80. Parte deles, inclusive, junto com o figurino de Estela, foram doados pela própria Marina Person. Além da arte, a fotografia do filme, feita por Flora Dias, também encanta por seu uso de cores vibrantes em todas as sequências, sem nunca parecer exagerado ou fora do lugar.

Recheado com uma trilha sonora composta por clássicos do pós-punk, como Joy Division, The Cure, New Order, Echo and the Bunnymen e The Smiths, Califórnia encanta o expectador. Não por ser uma história inovadora, mas por conseguir reunir todos os elementos necessários para que quem assista se identifique. Seja pela década de oitenta, seja pela música ou até mesmo pela maneira verdadeira com que os problemas de adolescente são mostrados, o filme se destaca.

Assista ao trailer:

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