A repórter do Nexo Ana Freitas fala sobre a reinvenção do jornalismo a partir das mídias digitais
Por: Daniel Miyazato (danielmiyazato@gmail.com)
As mídias digitais possuem um grande efeito no modo de se fazer jornalismo. Há, neste contexto, uma relação ainda conflituosa entre as novas formas de transmitir informação e os meios tradicionais. Em meio a isso surgem veículos que tentam tirar o máximo proveito da internet para se destacarem no mercado e de comunicação.
A Jornalismo Júnior entrevistou Ana Paula Freitas para falar sobre como estas novas diretrizes do meio jornalístico estão se consolidando. Freitas escreve sobre contemporaneidades para o Nexo, jovem jornal online que apresenta um respiro de modernidade para a mídia brasileira.
Lab – O público consumidor de conteúdo jornalístico está acostumados a não pagar pelo acesso às notícias?
Ana – A ideia é que o conteúdo não precisa ser pago, o mesmo que acontece com a música. Há cinco, seis anos atrás, uma pessoa de classe média não pagava por música. Isso é estabelecido, o conteúdo não ser pago. Talvez a sociedade, em médio a longo prazo, por meio de uma política pública, pudesse ser educada do contrário, mas não vejo muita perspectivas nesse sentido. Acho que modelos de negócio precisam ser explorados, não acho que exista um único caminho. Cada modelo se adequado ao tipo de público que se busca.
Lab – É comum ver nas redes sociais um grande número de empresas, como Netflix e McDonalds, ou mesmo órgãos públicos, como algumas prefeituras, se dedicando a manter um relacionamento virtual próxima com seus seguidores. Esta aproximação, pelas mídias sociais, tem feito o público menos crítico?
Ana – Sim, é complicado porque toda marca busca em social media a ideia de personificação, de que não é uma empresa que está lá, mas uma pessoa. Se por um lado isso gera a possibilidade de gerar conteúdos fodas, por outro, como comunicação, pode confundir as pessoas e elas se esquecerem que são empresas, que possuem um interesse econômico e político por trás.
Lab – Nexo, Vox e Vice possuem uma preocupação notável pelo design dos conteúdos. Por que os meios de comunicação maiores parecem não se importar tanto com este quesito?
Ana – Existe essa preocupação nos jornais da mídia tradicional também, talvez o que você queira dizer é um conteúdo com uma estética mais jovem. Existe uma diferença de identidade visual, que reflete a diferença de propósito dos jornais. Mas falta, nos grandes jornais, uma capacidade de mudança para um conteúdo mais visual, como infográficos.
Lab – Como você chegou no Nexo?
Ana – Fui convidada pela Tatiana Dias, que trabalhou comigo no Estadão. Na Galileu, ela era editora e eu era repórter in loco, isso em 2013, 2014. Depois, ela foi para o Brasil Post. Quando eu recebi a ligação para ir trabalhar no Nexo tinha acabado de assinar para trabalhar de “freela” para o Estadão — decidi voltar para lá por conta do convite do Camilo Rocha, que eu já conhecia, e estava procurando uma estabilidade econômica nesse período de crise. Eu falei que não poderia ir para o Nexo, mas então liguei para o Camilo e ele me falou que tinha ido para o Nexo também, assim como outros amigos, e eu não quis ser a última a apagar a luz. Liguei para Tati, perguntando se a vaga ainda estava a aberta e vim para cá.
Lab – A redação do Nexo é diferente da de veículos tradicionais? Por exemplo, você tem mais liberdade quanto às pautas?
Ana – No Estadão, teve uma vez que a minha pauta foi barrada. Uma fonte me passou um furo sobre uma falha no sistema da Telefônica, que possibilitava o vazamento de informações dos clientes, mas meu editor recebeu uma ligação, vetando a matéria. Ele ficou bravo, disse que a apuração estava correta, mas a pauta não saiu. Depois que eu fui para parte de tecnologia [do Estadão] este tipo de episódio não aconteceu mais. No Nexo, as pautas são mais tolidas, porém por critérios de qualidade. Temos quatro editores, fazemos o acompanhamento antes, durante e depois da produção. A pauta cai se a gente vir que não pode sustentar a matéria, se a fonte não é tão firme, por exemplo. Na redação tem mais gente jovem e acho que mais luz natural talvez (risos). De maneira geral, é bem parecida com a de um jornal tradicional.