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‘O Bastardo’: a aposta dinamarquesa para o Oscar 2025

A obra surpreende ao flutuar por momentos familiares, tristes, sanguinários e decisões controversas
Por Bernardo Carabolante (bernardom0411@usp.br)

Embora inspirado em fatos reais sobre a vida do capitão dinamarquês Ludvig Kahlen (1704 – 1774), o filme O Bastardo (Bastarden, 2023) se baseou no livro Kaptajnen og Ann Barbara (2020). O diretor Nikolaj Arcel conta em entrevista:  “Eu estava adaptando uma obra de ficção baseada em fatos reais. Portanto, fui leal primeiro ao livro e à visão de Ida Jessen (escritora do livro)”.  Desde o dia 12 de setembro, os brasileiros têm a chance de assistir a mais um excepcional filme  estrelado por Mads Mikkelsen.

A obra apresenta Ludvig Kahlen, um ex-militar que chega nas terras da Jutlândia e se interessa em colonizar uma área em que, até então, ninguém conseguiu cultivar. Apesar de julgar a ideia como loucura, o Tesouro Real libera, com o aval do Rei, para que Ludvig tente plantar. A partir deste ponto, que entendemos que mesmo uma terra não tão habitada tem seus perigos e mentiras, nos mostrando o contraste entre o que é ser da realeza e um homem que busca fazer parte dela. 

Este é o primeiro filme dirigido por Nikolaj Arcel desde seu último lançado em 2017
[Imagem da capa: Divulgação/IMDB]

Ao longo de toda a história, o espectador vê a transformação de Ludvig, ao ponto de quebrar leis da realeza para conquistar o que busca, abandonar pessoas importantes, arriscar tudo e até mesmo desistir de sonhos por ego. E durante os 127 minutos de filme, estas mudanças se revelam por meio de mais uma atuação fantástica de Mads Mikkelsen, que muito transparece e conta sem ao menos falar — o Ludvig do começo não é nem de perto o mesmo ao final da história.

Durante sua jornada em busca de se tornar alguém importante que não apenas um bastardo, explícito no título do longa, Ludvig conta desde o princípio com a ajuda do padre Anton (Gustav Lindh), os fugitivos Johannes Eriksen (Morten Hee Andersen) e a governanta Ann Barbara (Amanda Collin), que buscam reiniciar sua vida após escaparem de Frederik de Schinkel (Simon Bennebjerg), o homem mais importante das redondezas.

Mads Mikkelsen ganhou o prêmio de melhor ator no European Film Awards [Imagem da capa: Divulgação/IMDB]

Ao longo do filme, há um contraponto para uma área tão solitária e vasta: Anmai Mus (Melina Hagberg), a pequena criança adotada por foras da lei, traz ao filme em poucos segundos de tela seu carisma, que rouba a cena e faz boa dupla com a seriedade de Ludvig Kahlen, que não sabe lidar com crianças e nem mulheres. Quem também se destaca é Frederik de Schinkel, que em poucos momentos se mostra um homem mimado e disposto a trocar tudo por poder.

“Deus é caos. A vida é caos.”

– Frederik de Schinkel

O personagem se utiliza desta frase para justificar algumas de suas loucuras, pensamentos e provocações a Ludvig ao longo da trama. Este comportamento é reforçado quando sua prima, Edel Helene (Kristine Kujath Thorp), protege o ex-militar de algumas ofensas vindas de seu primo.

Apesar da história se passar na Dinamarca, as filmagens foram feitas na República Tcheca [Imagem da capa: Divulgação/IMDB]

A experiência do filme é imersiva, devido à ótima fotografia que dá a noção tanto da região vazia e inóspita em que os personagens estão, quanto a quão chique é um enorme palácio. E pontua-se a semiótica nas cenas, seja um beijo no escuro por ser proibido, ou quando um personagem é dimensionado em um local vazio por estar sem rumo.

Até as cores das cenas podem transmitir uma mensagem diferente a cada momento, como a paleta de cores frias em momentos de solidão e decadência do personagem ou as inúmeras cores saturadas dentro de uma mansão onde não parece faltar nada externo ao vazio de alguém. 

A escritora do livro que inspira o filme, Ida Jessen, também participou como roteirista no filme [Imagem: Divulgação/IMDB]

Os pontos fortes da obra dinamarquesa se devem às atuações dos atores, o que facilita as transições do filme entre momentos de drama, momentos de família e momentos tensos .Tudo isso combinado com uma ótima trilha sonora, que dá o tom necessário às cenas, além do excelente roteiro que não dá ponto sem nó, onde até o menor pedaço de graveto tem um significado para a história. 

Por passar no século 18, o roteiro aborda diversas questões problemáticas atualmente, mas que um dia já foram comuns. Ao longo da trama, aparecem associações raciais à má sorte, situações análogas à escravidão, e sequências misóginas, além de mortes e assassinatos explícitos, o que podem incomodar espectadores.

Apesar de ter estreado em 2023, o longa só chega aos cinemas brasileiros este ano
[Imagem da capa: Divulgação/IMDB]

O filme dinamarquês não é nenhuma inovação, mas excede no que está ao seu alcance, fazendo com que as 2 horas e 7 minutos passem rápido devido ao envolvimento com a história e com a ótima fotografia.

O filme já está em cartaz nos cinemas. Confira o trailer

*Imagem de capa: Reprodução/IMDb

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