Por Ana Luísa Fernandes
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Jonas, de 13 anos, cresceu em um circo itinerante, até que sua família decidiu se mudar para a cidade de Salvador, na Bahia. Lá, o menino teria que viver uma vida relativamente comum. Inconformado, decide montar um circo na própria casa (o quintal de Dona Neyde), com materiais e artistas improvisados. Os amigos viraram trapezistas e palhaços, todos coordenados por Jonas. O preço do ingresso, assim como a estrutura do circo, era modesto: R$ 1,50 para adultos e R$ 1,00 para crianças, sendo que crianças de até quatro anos não pagavam. É essa saga que acompanhamos no documentário Jonas e o Circo sem Lona (2015), que participou de diversos festivais mundo afora e agora está na competição do festival “É Tudo Verdade”, no Brasil.
Parte da história também mostra uma mãe preocupada com o futuro do filho: ela, que participou ativamente da vida circense, não quer que Jonas vá integrar o circo do tio, pois acredita que lá ele vai acabar largando os estudos. Dentro da escola, Jonas encontra mais obstáculos: a professora deixa bem claro que não concorda com a realização do filme, já que, o menino, que nunca foi bom aluno, parecia estar cada vez menos interessado nas aulas.
O choque entre o fim da infância e o começo da vida adulta, marcado pela adolescência, é evidenciado com frequência. Vemos um Jonas que brinca com os amigos na rua, que sonha em ter um circo e um Jonas que dá o seu primeiro beijo e se sente perdido no ambiente escolar. O filme, que foi gravado ao longo de um ano, captura o momento exato em que os sonhos de criança começam a se tornar inatingíveis: a vida entra no caminho.
Um dos grandes acertos da produção – que pode ser considerado erro, para outros -, é a evidenciação da câmera. Em documentários, a câmera geralmente é vista como algo a ser escondido tanto do público quanto das pessoas filmadas. Ela, afinal, pode alterar completamente um cenário, já que é muito difícil agir espontaneamente na frente de uma filmadora. A diretora Paula Gomes usa isso a favor da composição e um momento que deixa isso claro é quando Jonas diz estar envergonhado porque a equipe filmava o seu circo, que não estava dando certo. A própria Paula chega a interferir, pedindo que a mãe do menino deixasse ele partir para viver com o tio.
Jonas e o Circo sem Lona é um filme bonito em todos os sentidos. Tanto na fotografia simples, nos enquadramentos precisos, quanto na história de um garoto que poderia ser qualquer outro. O trabalho da diretora é excepcional, não só na parte técnica mas também na humana. Nas cenas finais, ela protagoniza, mesmo que só com a voz, uma das cenas mais belas do longa, em que conforta o seu protagonista. Um documentário que, definitivamente, merece ser assistido.
Assista ao trailer: