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“Cildo” questiona fronteiras entre o documentário e a vídeo-arte

Martina Cavalcanti É muito delicado decidir fazer um filme sobre Cildo Meireles, artista internacionalmente reconhecido como o ícone da arte contemporânea no Brasil. Mas Gustavo Rosa de Moura, diretor de “Cildo”, não se intimidou e, com ousadia digna do homenageado, conseguiu produzir um documentário que é, ao mesmo tempo, uma obra de arte. Para Cildo, …

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Martina Cavalcanti

É muito delicado decidir fazer um filme sobre Cildo Meireles, artista internacionalmente reconhecido como o ícone da arte contemporânea no Brasil. Mas Gustavo Rosa de Moura, diretor de “Cildo”, não se intimidou e, com ousadia digna do homenageado, conseguiu produzir um documentário que é, ao mesmo tempo, uma obra de arte.

Para Cildo, a memória é o melhor lugar para uma obra. É na memória que são fixadas as raízes do imaginário coletivo e só através dela a obra pode vencer o tempo. No filme, as lembranças de Cildo são apresentadas numa relação entre seus depoimentos e a forte influência que tiveram em seus projetos artísticos. Ficção e realidade se misturam em recordações que vão de um andarilho artesão, passando pela construção de Brasília e suas proporções monumentais até o homem pisando na Lua. Percepções simples e magistrais que permeiam os projetos do artista.

É justamente na filmagem desses depoimentos e dessas obras que o filme traça toda sua estrutura. Porém, sem cair na monotonia, a câmera torna-se o ideal do espectador contemporâneo. Ela interage com os objetos das instalações: aproxima-se, afasta-se, anda lento, corre, ouve e toca. A questão da experiência, item essencial na arte contemporânea que consiste no fazer parte da obra a partir da interação física e não apenas da contemplação, consegue ser captada com intensidade.

Optando por uma edição de imagens ousada, o filme parece querer ser Cildo, fazendo arte como ele. Sobrepõe o som da obra “Liverbeatlespool” à sua voz, e o mostra, dissertando em silêncio, mas dizendo muitas coisas através de sua produção. “Cildo” ganha autonomia e sem medo de comparações com o documentado, faz vídeo-arte.

A questão da autoria na arte contemporânea, já colocada antes por Marcel Duchamp em seus ready-mades- objetos cotidianos que se transformavam em arte com uma assinatura-, também é importante em “Cildo”. Afinal, quem faz a obra: os operários da fábrica que produziram os objetos expostos? Os funcionários da galeria que os montam? O espectador que dá significados a eles? Talvez um pouco de todos seja importante para a arte que vemos hoje, mas o que se sobressai é a idéia do artista por traz das composições.

Sejam conceitos políticos como “Inserções em Circuitos Ideológicos”, onde cola um adesivo com a inscrição “Yankess Go Home” em garrafas de coca-cola e coloca notas de 0 cruzeiro em circulação. Sejam subversões de objetos cotidianos, como a vassoura cabeluda de“La Bruja”. Sejam formais, como o estudo artístico do espaço-tempo em “Babel”, uma torre composta por vários rádios ligados simultaneamente. Um artista de conceitos que utilizou as percepções adquiridas com experiências de sua vida para fazer uma arte que só tem sentido com o envolvimento do espectador. Esse é “Cildo”.

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