Imagem: Audiovisual – Jornalismo Júnior
Embora a bondade seja teoricamente vista como uma virtude, quando colocada em prática, pode ser julgada como vergonhosa. Fíodor Dostoiévski trata disso em “O idiota” através da vida do príncipe Liev Míchkin e André Diniz traduz esse romance para os quadrinhos. O enredo tem o mesmo estilo dos outros grandes livros do autor russo, problematizando algumas características do convívio social.
Míchkin sofre de epilepsia, passando anos internado na Suíça. Quando finalmente sai do sanatório, volta para a Rússia e encontra sua única parente viva, Lisavieta Epántchin, seguindo recomendações do seu falecido tutor. Lá, ele também conhece o restante da família: Ivan- marido de Lisavieta- e Aglaia – filha do casal.
A partir daí, o protagonista fica cada vez mais intrigado com Nastácia Filíppovna, uma moça apadrinhada por Ivan, que é massacrada pela sociedade machista por seu comportamento considerado promíscuo. Ele parece ser o único capaz de enxergar seu lado sensível e triste, por isso busca ajudá-la de diversas formas, algo que gera uma vilania por parte de Parfion Rogójin, apaixonado pela jovem.
Em resumo, o que causa a maioria dos conflitos da trama é a personalidade instável de Nastácia – fruto de uma revolta com o seu passado – juntamente com a generosidade excessiva tida por Míchkin diante de quem o cerca. A história é cheia de reviravoltas dignas de romances folhetinescos, evidenciando a grandeza mais que conhecida de Dostoiévski.
Um dos maiores méritos da adaptação foi tornar o romance mais acessível e permeável a outros públicos não tão interessados em literatura russa. A beleza da estética, a qual remete ao cordel, também é notável. Vale evidenciar que há outras vantagens nesse estilo.
As crises de epilepsia do protagonista ilustradas por André Diniz têm um impacto maior. Além de a história ser quase toda construída no silêncio, na expressão dos personagens, o que intensifica a tensão e o suspense que permeiam vários momentos da narrativa. Ou seja, as mudanças trazidas pela adaptação ressaltam alguma características do original.
Entretanto, existem também algumas perdas pela falta de diálogo somada ao traço confuso e pouco específico do ilustrador, visto que, dessa forma, as personagens secundárias ficam pouco desenvolvidas e se torna fácil confundí-las.
De qualquer forma, “O idiota – o clássico de Fiódor Dostoiévski em quadrinhos” é um livro de leitura fácil e fluída. Certamente, lê-lo será uma atividade proveitosa para quem quer se distrair com uma história cheia de crises, refletir um pouco sobre os costumes da sociedade ou conhecer um enredo elaborado pelo famoso autor russo sem se mergulhar diretamente nos seus romances.
por Mayumi Yamasaki
mayumiyamasaki@usp.br