Costumo dizer que poesia é uma das formas mais abstratas de se fazer arte. Ela é subjetiva e impacta cada pessoa de uma forma completamente diferente e única. O Melhor Está Por Vir (Le Meilleur reste à venir, 2018) é assim: fora da caixinha e único.
O filme conta a história de dois amigos que não se parecem em nada, como dois pólos opostos de um ímã. Você se questiona como é possível que estejam juntos com tantas diferenças, mas a beleza da relação e a importância de um na vida do outro se torna cada vez mais clara no desenrolar da obra.
A trama começa quando Arthur (Fabrice Luchini) descobre que seu melhor amigo, César (Patrick Bruel), tem um câncer terminal. No entanto, ao tentar contar a triste novidade ao amigo, ele não é claro, dando a entender que quem está cada dia mais perto da morte é ele.
César passa a dedicar sua vida a cuidar e fazer com que os supostos últimos dias de seu amigo sejam incríveis, enquanto Arthur tenta – e falha miseravelmente – encontrar a melhor forma de esclarecer o mal entendido.
Acompanhar a jornada dos dois é sinônimo de reflexões e, acima de tudo, risadas. Eles são divertidos, espontâneos e cômicos. Ver como ambos se importam um com o outro é emocionante. Um enredo que não consigo imaginar em um filme que não seja francês. O longa tem aquele toque de sofisticação dos franceses mesmo quando é tosco, é direto, mas complexo, o essencial está nos detalhes e foge aos olhos dos desatentos.
Por falar em França, é em Paris que a maior parte da história acontece. Pouco se vê da cidade, já que as gravações focam nos rostos a maior parte do tempo, como se o telespectador fosse uma abelhinha tendo uma visão privilegiada de cada conversa.
Quando a cidade aparece, todavia, é difícil reconhecê-la. Não parece a bela Paris que estamos acostumados a ver em romances e feeds do Instagram. O lugar é filmado a partir de outra perspectiva, de um lado mais poluído, cinza e menos bonito, mas ainda sim poético, da cidade.
O longa não é uma obra prima do cinema, seu enredo não tem nada de inovador, o que surpreende são os planos em que é gravado, esse é o ponto alto da película. Contraditório o que vou dizer: é bonito, mesmo sendo feio. É bonito não em beleza, mas em simplicidade, harmonia e admirável execução.
Não acredito que seja um filme que vá ser o divisor de águas na vida de alguém, só é gostoso o suficiente para se assistir numa tarde chuvosa de domingo tomando chocolate quente.
O Melhor Ainda Está por Vir estreia no dia 5 de março. Assista o trailer: