Pelo jeito a nova tendência na sétima arte é ter cada vez mais filmes produzidos por serviços de streaming. Impulsionados pela Netflix, tais estúdios muitas vezes trazem uma abordagem mais realista e independente em suas obras. Se de um lado, a Netflix chegou em peso nas grandes premiações com Roma (2018), os estúdios da Amazon vem ganhando mais relevância com Guerra Fria (Cold War, 2018), por exemplo. Assim, mantendo-se em evidência, a Amazon lança mais uma obra baseada em fatos históricos.
Dirigido pelo renomado Mike Leigh, Peterloo (2018) segue os eventos ocorridos na Europa durante o início do século XIX. Mais especificamente, o espectador pode acompanhar os detalhes do Massacre de Peterloo, em que tropas inglesas mataram diversos manifestantes pacíficos na cidade de Manchester, em 1819.
Logo nos primeiros minutos do longa podemos notar um dos maiores cuidados de sua produção: a construção de época. Nesse sentido, podemos dizer que o filme faz um trabalho eficiente. Uma bela fotografia, cores que refletem a melancolia de classes mais pobres e uma trilha sonora satisfatória vão marcar positivamente a experiência do público.
Ultrapassando fatores mais técnicos, chegamos à abordagem do roteiro. A intenção aqui é retratar a burocracia, a concentração do poder e o funcionamento da política inglesa da época de maneira fidedigna. E esse é um aspecto acertado. Contudo, ainda é possível questionar o caminho escolhido pelos escritores da obra.
No momento de lidar com o contexto da época, que envolve conflitos sociais e a religião nas entranhas da política, Peterloo é bem executado e pode muito bem ser usado para uma análise mais histórica daquela conjuntura sociopolítica. Ao mesmo tempo, diálogos longos e pedantes, que aparecem como elementos contextualizadores, terminam como principais responsáveis por desconectar o espectador do espetáculo.
Como resultado, o filme traz uma sensação de cansaço a seu público, principalmente pelas árduas e repetitivas quase duas horas e quarenta de filme, acrescidas de diálogos expositivos e exagerados que tentam ensinar a respeito do funcionamento daquela sociedade. Para uma aula, é uma boa aposta, mas será que é essa a proposta ideal que um filme deve seguir?
Uma vez que o espectador descobre o que foi o Massacre de Peterloo, praticamente todo o restante da narrativa soa como desperdício. Um fato histórico tão interessante, que representa tão bem a tensão social dos últimos dias do Antigo Regime na Inglaterra, merecia uma representação mais inspirada. Assim, é raro sentir o peso daquele evento.
Por parte dos personagens há quase um paradoxo. Todos aqui se apresentam com performances empolgadas, caráter até conveniente já que o filme se passa em uma época tão romantizada. Porém, eles acabam se transformando em caricatos, pouco memoráveis e unidimensionais. Alguns até perdem sua importância com o decorrer do enredo.
Para compensar esse problema, o longa apela para violência explícita em mirabolantes sequências de ação para injetar um ânimo inexistente no restante da narrativa. É através dessas cenas que se espera o sentimento de empatia por certos personagens. Ainda assim, o efeito não é tão efetivo. Somado a uma montagem pouco inventiva, são poucos momentos de fato emocionantes e surpreendentes. O motivo pode ser o orçamento reduzido se comparado às grandes produções? Talvez. Mas ainda é possível fazer melhor.
Peterloo funciona como relato de fatos históricos, mas suas cenas redundantes, diálogos expositivos e personagens pouco inspirados tornam boa parte de sua trama cansativa e monótona. Perde-se uma boa chance de dramatizar melhor eventos tão representativos para uma época tão importante na história.
Peterloo chega aos cinemas no dia 12 de setembro. Confira o trailer abaixo: