Sirenes, correria, o exército nas ruas, tudo está destruído. Tudo mesmo? Nos filmes de Zumbi sempre há um grupo de sobreviventes que, em um cenário apocalíptico, luta pela vida contra estas criaturas aterrorizantes do pós-morte.
Zumbis, mortos-vivos, errantes, enfim. Estas são aquelas criaturas ex-humanas que Hollywood adora caçoar em filmes que misturam o horror da morte e das epidemias, com a comédia pastelão. Sempre é nesta hecatombe, em que ninguém sabe ao certo o que está acontecendo, que os filmes com esta temática se inserem no imaginário do espectador.
Suas fórmulas já estão saturadas, há a garantia de muito sangue e vísceras num humor mórbido em que a sensação de riso vem junto à uma morte bastante dolorosa – ou suja de tinta vermelha.
Entre o grotesco e o cômico
Um clássico do cinema trash, Fome Animal (Braindead / Dead Alive, 1992) conta sobre uma possível epidemia zumbi provocada pela mordida do “macaco-rato da Sumatra”.
Lionel (Timothy Balme) é filho da primeira vítima deste animal, e se vê responsável por cuidar de sua mãe e suas vítimas, que se tornaram também mortos-vivos, em sua mansão familiar. Após ser mordida no zoológico, sua mãe começa a convalecer e, com efeitos que parecem ser emprestados do já conhecido A Bolha Assassina (The Blob, 1958), jatos de pus e sangue são espalhados em cenas asquerosas.
O filme segue neste tom grotesco até sua resolução final. Várias personagens se transformam em zumbis. Uma das cenas de morte mais conhecidas do cinema está neste filme. A sequência gravada em um cemitério, mostra um rapaz agarrado pelos genitais enquanto urinava no túmulo da mãe de Lionel. Depois de morto, é arremessado ao longe pela mãe-zumbi que adquire poderes sobre-humanos.
Peter Jackson é quem assina esta obra de terror cômico. Muito diferente do atual O Hobbit (The Hobbit, 2012), o diretor provoca espanto ao apresentar esta produção tipicamente trash, desde as atuações forçadas, aos efeitos de baixo orçamento – que em nada se aproxima da beleza fotográfica e da complexidade em que se inserem as sagas da Terra Média.
Terror que faz rir
O filme Todo Mundo Quase Morto (Shaun of the Dead, 2004) é outro que junta a ficção de um apocalipse zumbi com o humor sarcástico das películas britânicas. Neste, Shaun é um vendedor que todos os dias faz a mesma coisa. Acorda cedo, trabalha e vai ao mesmo pub de sempre com sua namorada – o que acaba por desestabilizar sua relação com Liz (Kate Ashfield).
O filme tem uma introdução – um tanto quanto longa – que evidencia quão tediosa é a vida cotidiana do protagonista. São cenas que se repetem algumas vezes para motivar esta sensação banal. Quando os primeiros casos de infectados começam a aparecer, o protagonista decide se pôr em uma situação de fuga ao resgatar a mãe (Penelope Wilton) e namorada que se encontravam em perigo.
O humor da obra sempre se sobressai à barbárie desta catástrofe. Shaun (Simon Pegg), que é considerado um fracassado antes da epidemia, torna-se um herói das circunstâncias. Em um certo momento os atores precisam passar por um volumoso grupo de andantes, estes se fingem de zumbis e caminham emitindo gemidos e mancando, o que pode arrancar boas gargalhadas dos amantes do pastelão.
Manual de sobrevivência Zumbi
O recente Zumbilândia (Zumbieland, 2009) é um grande sucesso entre a nova onda dos mortos-vivos. O filme segue uma proposta do tipo “manual” que, com traços de humor, ajudaria a qualquer um como se virar nesta hecatombe.
Novamente o protagonista é um “loser”, tipo eternizado pelo cinema norte americano. Em situação de fuga constante, Columbus (Jesse Eisenberg) – os nomes das personagens fazem referência às cidades de cada um – acaba fazendo parte de uma equipe de desconhecidos encontrados durante a jornada.
Tudo o que se espera das personagens é derrubado. O cowboy do Tallahassee (Woody Harrelson), por exemplo, se mostra bastante humano e infantilizado ao se empenhar na busca pelos Twinkies (bolinho recheado com creme). Abigail Breslin (Little Miss Sunshine, 2006) reforça sua presença nas comédias como a irmã mais nova (e pentelha) de Whichita (Emma Stone).
Como qualquer outro clássico norteamericano, sugere-se o relacionamento amoroso entre Wichita e Columbus desde o primeiro momento em que se encontram – o que define de maneira ativa as soluções encontradas para situações-problema neste ambiente apocalíptico. Como quando o herói volta ao parque cheio de zumbis para salvar Wichita e sua irmã.
Com muito sangue, miolos e gemidos. Os mortos-vivos têm tudo para ser trash, e é por isso que a indústria investe na produção de comédias desta hecatombe em que a melhor solução é rir para não chorar.
por Fabio Manzano
frmanzano1@gmail.com