Por Ana Carolina Mattos (a.carolinamattonsn@usp.br) e Sofia Colasanto (sofiacolasanto2@usp.br)
Em 21 de outubro, ocorreu o Red Hat Summit Connect São Paulo 2025, sediado no Teatro Santander. O evento é uma espécie de releitura do evento mundial de Red Hat, que esse ano, ocorreu em maio em Boston, Massachusetts, e aborda soluções para softwares open source no mundo empresarial — e, no atual contexto do mercado, soluções relacionadas a Inteligência Artificial (IA). A linguagem aberta permite que diversas pessoas contribuam e usufruam daquele código, facilitando a adaptação para novas tecnologias.
Em um único dia de evento, foram debatidas questões éticas, novas soluções e softwares que visam aprimorar a experiência do cliente. Além disso, os palestrantes discutiram sobre como lidar com as tecnologias emergentes.
As 09 da manhã, a mestre de cerimônias Ludmilla Bottas abriu o evento, e trouxe um importante norteador do evento, a de “FOMO IA”, da sigla em inglês para “fear of missing out”, em tradução livre, o “medo em ficar de fora” da tendência de IA.
“Nós temos visto a inteligência artificial generativa se tornar parte do nosso dia a dia. É uma onda que cresce mais rápido do que qualquer outra e a pergunta que fica é “se nós não surfarmos nessa onda, será que nós vamos ficar para trás?’”
-Ludmilla Bottas, cerimonialista do Red Hat Summit Connect São Paulo

Imagem: [Reprodução Acervo Pessoal Ana Carolina Mattos]
A palestra de abertura foi apresentada por Sandra Vaz, a presidente da Red Hat Brasil, que abordou as atuais aplicações e dificuldades da IA e os planos da Red Hat no Brasil para uma implementação de soluções seguras e precisas com base no Open Source, maior assinatura da empresa atualmente. Além disso, Sandra também falou sobre as inúmeras possibilidades de otimização de tarefas utilizando uma IA, e sobre a democratização dessa tecnologia.
Em seguida, Boris Kuszka, o Diretor de Arquitetura de Soluções da Red Hat na América Latina, apresentou uma palestra sobre a corrente transição da eraCloud (uma espécie de rede de servidores que armazenam e processam dados que tem a internet como base e forma de funcionamento) para a Era IA e as novas ferramentas do Red Hat Enterprise Linux 10, construídas para facilitar esse processo. Alguns exemplos são a RHEL Image mode, para gerenciamento do sistema operacional, e o Linux Lightspeed, um agente de IA criado para auxiliar o Red Hat Enterprise Linux. Kuzka ainda adicionou que “ondas não somem, se somam”, sobre o novo momento na indústria de Softwares empresariais.
Na sessão seguinte, Rodrigo Canhissare, Gerente de Arquitetura de Soluções, apresentou a Platform Engineering da Red Hat, abordando principalmente a migração de máquinas virtuais — um computador baseado em um software capaz de rodar sistemas operacionais com rede de armazenamento próprios — para o OpenShift Virtualization. “Faremos uma análise desse seu ambiente, entender o que é mais complexo, o que tem mais valor e a partir daí, elegemos um caso de uso e faremos uma prova de conceito. Uma vez que isso migre funcionando e aprendendo as lições, nós expandimos e fazendo isso em massa, migrando tudo”, apresentou Canhissare. O Gerente também destacou a importância de uma plataforma unificada para a otimização da IA e automação do dia a dia das operações dos clientes Red Hat.
“A Inteligência Artificial deixa de ser um tema nichado
e passa a ser função dentro das nossas empresas.”
-Gabriel Sampaio, Especialista Líder IA para o Brasil na Red Hat.
Sampaio seguiu a apresentação de Canhissare com o dilema “como se prepara para o sucesso da IA”? O especialista apontou que a IA está cada vez mais presente no dia a dia dos indivíduos. “Isso não acontece da noite para o dia, é uma jornada pela qual todos nós vamos passar, construindo essas ferramentas e aprendendo a utilizá-las da melhor forma”, aponta. Boa parte da apresentação foi dedicada a como tornar a IA mais eficiente, que tem sido a prioridade de organizações digitais, além de demonstrar como ela é aplicada de fato no contexto empresarial.
Em seguida, Andrea Cavallari, Diretora Sênior do Mercado de Serviços para a Red Hat Brasil, abordou as soluções de IA. Ela explica que a Red Hat auxilia clientes na sua jornada de transformação e treinamento da Ia, de maneira a minimizar desperdícios de tempo e recurso.. A Diretora ainda ressaltou a necessidade de uma equipe integrada e familiarizada com a tecnologia e entre si, para evitar prejuízos. “A tecnologia não anda sozinha, ela precisa de pessoas que levem isso para dentro da empresa”, afirmou.
A segunda parte do evento foi inaugurada por um painel guiado por Eduardo Shimizu, Diretor de Ecossistemas de parceiros da Red Hat. Ele contou com dois importantes clientes Red Hat, o Gerente de TI do Hospital Albert Einstein, Antonio Valadares, e Cassio Silva, diretor da Microsoft Azure. Valadares discorreu sobre as pressões e diferentes necessidades de um hospital: segundo ele, a modernização tecnológica acelerou o processo de entrega e de soluções digitais para pacientes e médicos, principalmente em casos de desospitalização e trabalhos de coleta de exames em empresas. “A facilidade de implementação e baixa necessidade de um grande time de engenharia foram grandes atrativos [do Openshift], e a forte necessidade de entrega e cobrança por aceleração de novas funcionalidades que o hospital cobra do time de tecnologia foram os principais motivos da adoção”, explica o Gerente de TI.
O Painel seguinte, também conduzido por Eduardo Shimizu, foi composto por Ricardo Paz, Coordenador de Virtualização do Banrisul, e Ulysses Pacheco, Diretor da vertical de finanças do Governo, sobre a parceria Red Hat e AWS. Segundo Ricardo, a Red Hat abre o caminho para unir o financeiro ao tecnológico e otimiza a entrega e eficiência operacional da implementação de soluções de IA.
Depois, o professor Carlos Piazza trouxe uma discussão ética sobre a IA, seu valor, as expectativas sobre essa nova tecnologia, e a sensação de sempre estar defasado na era de FOMO IA. “A palavra inteligência diz respeito a computadores biológicos, não a computadores digitais. O ser humano tem um computador central que é absolutamente analógico e por isso, seu cérebro humano é infinitamente melhor do que qualquer inteligência artificial ou qualquer outro computador que você possa ter na sua mão”, apontou Piazza. Ele também destacou a importância de uma cognição afiada para o desenvolvimento de novas tecnologias, e que sua principal fonte de alimento é o pensamento humano.
O último painel no período da manhã foi o “Aplicando Ia na prática”, que contou com Carlos Piazza, Alexandre Duarte, Vice-Presidente de serviços para a Red Hat na América Latina e Gilson Magalhães, Vice-Presidente e General Manager para a América Latina na Red Hat. A ideia principal era explorar o ponto de convergência entre tecnologia e filosofia — uma conversa entre um filósofo e um tecnólogo que explorasse um olhar mais sensível sobre as atuais questões tecnológicas; Um importante norteador da discussão foi “como a inteligência artificial impulsionada pelo código aberto pode gerar valor real?”
No período da tarde, ocorreram palestras simultâneas, que se dividiram entre os temas OpenShift e IA Experience. Os convidados, profissionais da Red Hat ou parceiros da empresa, expuseram em curtas apresentações as novidades do mercado direcionadas para quem já é da área.
As exposições sobre IA apontaram que os principais erros na utilização da tecnologia são: ser ambíguo nos comandos, exigir uma tarefa com múltiplos passos e fornecer uma base de dados pouco estruturada. Para uma melhor experiência, é necessário introduzir modelos para que a ferramenta entenda o padrão da produção e orquestrar os processos — afinal dizer apenas “melhore” para a IA “não aprimora seus algoritmos matemáticos”.
O evento também demonstrou a criação, o uso e o melhoramento de agentes de IA. Os agentes, diferentemente das inteligências generativas como o ChatGPT, agem de maneira autônoma, tomando decisões e realizando tarefas sem depender de comandos diretos dos usuários. Os agentes conseguem executar operações de TI, manutenção de softwares e atendimento ao cliente, elevando a tecnologia ao patamar de um serviço em si, não apenas de um suporte.

Ao longo da tarde, diversas empresas que utilizam o OpenShift subiram ao palco para demonstrar as diversas formas de utilizar a tecnologia. Alguns dos exemplos foram para diagramação do Diário Oficial, a integração de dados biométricos do TSE em outros sistemas e o melhoramento do Sistema Integrado de Gestão de Assistência à Saúde (SIGA), que gere os serviços prestados pela Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo.
Em entrevista à Jornalismo Júnior, Tarcísio Oliveira, arquiteto de soluções na Red Hat, contou que a Inteligência Artificial permite que muitas tarefas manuais sejam automatizadas. “Ela não permite que eu tirar férias por metade do meu dia, mas sim aproveitar melhor o meu tempo”, diz. Para ele, o evento é importante pois demonstra as tecnologias que estão sendo desenvolvidas e oferece ao Brasil a possibilidade de estar na vanguarda da tecnologia.
