Jornalismo Júnior

Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

Refugiados se conectam ao poder transformador do esporte

Completamente distantes de suas origens, os refugiados asilados nos mais diferentes países do mundo buscam atravessar a falta de compreensão da sociedade por meio da ação de instituições e de pessoas públicas que estimulam o contato com aquele que se demonstra divergente culturalmente. Tendo que lidar constantemente com essas diferenças culturais, os refugiados buscam aproveitar …

Refugiados se conectam ao poder transformador do esporte Leia mais »

Completamente distantes de suas origens, os refugiados asilados nos mais diferentes países do mundo buscam atravessar a falta de compreensão da sociedade por meio da ação de instituições e de pessoas públicas que estimulam o contato com aquele que se demonstra divergente culturalmente. Tendo que lidar constantemente com essas diferenças culturais, os refugiados buscam aproveitar todas as oportunidades em seus países de asilo. Muitas vezes o esporte se torna uma delas, muito pela confiança que eles depositam em instituições que vêm promovendo esse primeiro contato e auxílio. 


Os primeiros movimentos de inclusão

O esporte para muitos desses refugiados é uma ferramenta de inclusão, adaptação e proteção em seus países de asilo. Ainda assim, com todas essas soluções encontradas na prática esportiva, se tornará difícil escapar das dificuldades que encontram para terem melhores condições de sobrevivência e trabalho – e, principalmente, de encararem a distância que os separa de seus povos, cultura e famílias.

Os Jogos Olímpicos começaram a contar com uma equipe de caráter inclusivo desde os Jogos de Barcelona, em 1992. Ela foi denominada de Equipe de Atletas Independentes, tendo em vista que foi elaborada para a incorporação dos atletas denominados “sem pátria” e que representavam a já extinta Iugoslávia (massacrada pela guerra nos conflitos com internos no pós-Guerra Fria).

A equipe existe até hoje no movimento olímpico para acolher atletas de delegações impedidas de participar dos Jogos. Mas, até certo momento, nunca se havia levado em conta que talvez a população de esportistas desamparados em todo mundo não se concentrasse somente na zona de conflito de separatistas iugoslavos.


O início da repercussão e o momento em que os atletas chegam as competições

A primeira competição para refugiados foi criada em 2014 com o intuito de proporcionar inclusão esportiva de pessoas em situação de refúgio no mundo. A Copa do Mundo de Refugiados e Imigrantes é um evento internacional que reúne atletas amadores de futebol de diferentes nacionalidades  para competirem, se unirem e trazerem apoio a causas pró-refugiados. “Trabalhamos na construção dessa competição pelo nosso objetivo da valorização do humano que o esporte pode revelar a todos”, comenta Abdulbaset Jarour, um dos criadores  – juntamente com o irmão congolês – do evento precursor na causa.

Somente em 2016, com a intensificação da crise política envolvendo o crescimento geral do fluxo de refugiados no mundo, as organizações esportivas começaram a se unir por uma melhor compreensão da realidade social que afetava quem praticava ou buscava praticar alguma modalidade.

Nesse mesmo ano houve um aumento de mais de 12% no número de cidadãos reconhecidos como refugiados no Brasil. No mundo, o número ultrapassava a marca de 16 milhões, segundo os dados do relatório Refúgio em Números, lançado pelo CONARE (Comitê Nacional para os Refugiados) em parceria com a ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados). Também segundo o CONARE, que é vinculado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, as nacionalidades com o maior número de refugiados reconhecidos e de solicitações de refúgio no país em 2016 foram: Síria, República Democrática do Congo, Paquistão, Palestina e Angola.

Foi justamente nesse ano que o COI (Comitê Olímpico Internacional), juntamente com a ACNUR, decidiu propor a criação de uma Equipe Olímpica de Refugiados. Os Jogos Olímpicos de 2016, realizados em terras sul-americanas pela primeira vez, geraram um entusiasmo muito grande em atletas e organizadores. Diante da certeza que tinham no sucesso das Olimpíadas do Rio de Janeiro e do destaque que a causa dos refugiados tinha ganhado durante o ano, acreditaram que aquele era o momento mais propício para criar uma equipe que representasse essa comunidade.

A partir de um conjunto de 43 atletas de diversas nacionalidades e modalidades esportivas, a organização do evento elegeu dez nomes para representarem os atletas em condição de refúgio de todo o mundo. Na abertura dos Jogos, a delegação de refugiados foi escolhida para ser a penúltima a desfilar no Estádio do Maracanã, sendo ovacionada pelo público espectador.

Time Olímpico de Refugiados desfila na abertura dos Jogos Rio 2016
Time Olímpico de Refugiados desfila na abertura dos Jogos Rio 2016 [Imagem: Getty Images]
À época, o presidente do COI, o alemão Thomas Bach, deu uma declaração  positiva em relação à recente equipe formada. Ele reforçou que o movimento olímpico deveria demonstrar, de todas as maneiras, esforços para que os atletas refugiados do mundo se sentissem acolhidos e reconhecidos como aptos para a participação nas competições esportivas.

“O refugiado no Brasil ainda encontra diversas dificuldades”, comenta Abdulbaset Jarour,  refugiado sírio no Brasil e vice-presidente da ONG África do Coração (organização fundadora e uma das promotoras da realização da Copa dos Refugiados). Ele ainda cita a grande importância do esporte no processo de acolhimento: “nos esportes, principalmente no futebol aqui no Brasil, os refugiados encontram uma linguagem universal, diferentemente de quando são expostos às dificuldades enfrentadas no aprendizado de uma nova língua, como no caso do português – ou quando sofrem uma perseguição xenofóbica, LGBTQIFóbica e racista, o que acontece constantemente em todo o mundo”.

Abdulbaset Jarour é engajado na causa de inclusão de refugiados pelo futebol desde sua chegada no país, em 2014
Abdulbaset Jarour é engajado na causa de inclusão de refugiados pelo futebol desde sua chegada no país, em 2014 [Imagem: Douglas Fritscher]


Desigualdade: um fator que ameaça os verdadeiros ideais do esporte

A integração através da atividade esportiva começa a gerar repercussão quando os participantes da mais simples competição se sentem confortáveis em manterem o regulamento proposto, respeitando a humanidade que há no atleta estrangeiro – um dos princípios do torneio de futebol citado anteriormente.

No ano passado ocorreu a sexta edição da Copa de Refugiados e Imigrantes, com o tema “Reserve um minuto para ouvir uma pessoa que deixou o seu país”. O evento começou em São Paulo, mas já acontece em diversas cidades do país, proporcionando que sonhos de jovens atletas imigrantes e refugiados sejam fomentados. 

O futebol tem sido a maior porta de entrada dos refugiados no esporte no Brasil, contando, até, com equipe profissional atuando no país. “No Brasil há um histórico de paixão pelo futebol. Isso já difere muito da situação de um atleta que não tinha tanta oportunidade de jogá-lo em seu país natal em comparação com o menino brasileiro, que já tem contato com a bola desde cedo. Temos que aproveitar toda essa força de vontade do torcedor brasileiro para que se mobilizem ações de inclusão, como a promovida pela Copa dos Refugiados.”


A prosperidade almejada será alcançada por passos

Thomas Bach, representando o mundo desportivo e o movimento olímpico, entrega a condecoração à ACNUR
Thomas Bach, representando o mundo desportivo e o movimento olímpico, entrega a condecoração à ACNUR [Imagem: COI/Christophe Moratal]
Logo no início de 2020, o COI condecorou a ACNUR com a Taça Olímpica: uma honraria criada pelo fundador do movimento olímpico, Pierre de Coubertin, no ano de 1906, que é concedida a organizações que atuam com êxito na promoção dos ideais olímpicos. Jarour também quer alavancar ainda mais seu projeto: “O estatuto da ONG é o único no Brasil que só permite cargos para refugiados, porque nós acreditamos que é o refugiado que tem que demonstrar seu potencial nas suas atividades. Claro que o apoio de brasileiros também é muito importante para que cada vez mais o projeto ganhe força internacional, como essa e outras iniciativas apoiadas pela ACNUR”, conclui ele.

Em Buenos Aires, em sua 133ª sessão, o COI tomou a decisão de manter a equipe de refugiados nos Jogos de Tóquio, adiados por conta da pandemia. Ainda há uma preocupação sobre como a vulnerabilidade da população refugiada do mundo resistirá à devastação causada pela doença. Abdul perdeu a mãe, Khadouj  – refugiada no Brasil há pouco mais de um ano –, para a Covid-19 no dia 13 de maio.

Alguns dias antes, no Dia das Mães, ele foi ao hospital com um cartaz para homenagear e oferecer seu apoio à Khadouj, que estava internada. Abdul tentava diminuir a distância que, infelizmente, era inevitável. “Minha família se espalhou pelo Iraque, Canadá, Líbano, Alemanha, Turquia, sobraram apenas minha mãe e minha irmã caçula na Síria. Mas, no Natal de 2018 consegui trazê-las para o Brasil. Elas não se adaptaram muito aqui. Infelizmente, minha família perdeu ela para a Covid-19”, desabafa Abdulbaset sobre a perda.

Mobilizar-se para transformar e reunir refugiados através de ações sociais – mantendo-os compromissados com a sua própria inclusão – é uma atitude que, portanto, leva a uma adaptação em outras áreas que não seja somente pelo esporte. Tornar viável a atuação de trabalhos responsáveis é importante para promover outros tipos de capacitação e oportunidades à essa população constantemente esquecida nas sociedades.

1 comentário em “Refugiados se conectam ao poder transformador do esporte”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima