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Shaolin do Sertão (e dos clichês)

O Brasil não tem uma cultura, tem inúmeras. A cada qual corresponde uma língua: gauchês, mineirense, amazonês… E o irreverente cearenses. Ligeiro feito calango, sagaz feito jararaca. Sob este regionalismo que o diretor, Halder Gomes, se apoia para tecer a trama de O Shaolin do Sertão (2016). Assim como o fez em Cine Holliúdy (2012), …

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O Brasil não tem uma cultura, tem inúmeras. A cada qual corresponde uma língua: gauchês, mineirense, amazonês… E o irreverente cearenses. Ligeiro feito calango, sagaz feito jararaca. Sob este regionalismo que o diretor, Halder Gomes, se apoia para tecer a trama de O Shaolin do Sertão (2016). Assim como o fez em Cine Holliúdy (2012),  mas com menos inspiração e sensibilidade.

Aloízio Li (Edmilson Filho) trabalha como padeiro. No interior do Ceará, nutre o sonho de se tornar um mestre shaolin e conquistar o amor da filha do patrão. Sobre esta, bem, não se pode dizer muito, já que as dimensões dramáticas de sua personagem são tão fartas quanto chuva no sertão.

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Nos pixelados anos 80, lutadores de vale-tudo desempregados fizeram turnês de lutas amadoras. Pelo interior do país, provocaram o frágil ego masculino dos habitantes locais.  Gomes resgata esta peculiaridade como gatilho da narrativa. Quando Li vê a iminência do desafio, parte em busca de um mestre. Após uma breve procura, encontra um sertanejo (Falcão) que se finge chinês para lhe arrancar uns trocados. Segue-se então o lugar-comum do treinamento, embora revestido pelo vocabulário e paisagens do estado de José de Alencar. Paralela a isto, a pequena cidade prepara o palco da contenda. O que envolve disputas eleitorais com direito a “meus povos e minhas povas!”.

A narrativa, por si, é previsibilíssima.  A proposta do filme, no entanto, é reverenciar desde os Western Spaghetti até as antigas películas de luta de Hong-Kong, além, claro, de projetar o cearense na tela. “Eu tento colocar isso nas minhas obras. O nordestino já nasce na adversidade. É um povo batalhador, que tem histórias fantásticas. Eu quero contá-las”, declarou Gomes durante a coletiva de imprensa que o Cinéfilos acompanhou.

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O diretor traz de volta o linguajar e a alegria do cearense ― desta vez, sem a necessidade de legendas. “No Cine Holliúdy, você escuta um cearenses avançado. Agora decidimos ir com mais calma”. Os diálogos são muito bem construídos, salpicados de piadas rápidas e eficientes. É difícil não ficar desconcertado com a astúcia do jogo de palavras. Outro aspecto que compõe a assinatura de Gomes é a mudança da fotografia, no caso, para um filtro com chuvisco, à lá VHS, para representar os devaneios de Li. Estas inserções inserem um “quê” poético na obra, evidência da afetividade pelas artes marciais ― tanto Filho quanto Gomes são mestres de taekwondo.

O humor e a obra como um todo, peca por se restringir apenas à voz da atuação. A movimentação em cena, a composição, a dinâmica da câmera só prestam para o encadeamento da narrativa. Não seria estranho o espectador se perguntar, durante a sessão, se comprou um ingresso para o teatro ou para o cinema. Além disso, o tal escudo da homenagem não deveria servir de justificativa para a criação de uma obra cravada de clichês e coadjuvantes tão estereotipados. A estes, inclusive, é concedido um raso desenvolvimento. O suficiente para servirem de motivação ou obstáculo para o protagonista. Neste quesito, é notável Anésia (Bruna Hamú) ser um mero troféu de Li, no desfecho de uma cena final demasiadamente prolongada.

“Sempre vi a cultura do Ceará representada de maneira fragmentada. Normalmente por terceiros. Quero unificá-la nos meus filmes”. Halder Gomes traz as idiossincrasias do cearense à tela e sabe contar boas piadas. Em Cine Holliúdy, mostra domínio da linguagem cinematográfica. Em O Shaolin do Sertão, porém, seu estilo se esgota num enredo desbotado de tanto sol que já tomou.

O filme estreia em 27 de outubro. Confira o trailer:

por Daniel Miyazato

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