Em comemoração ao Star Wars Day (04/05), o Laboratório preparou uma reportagem sobre a ciência (ou a falta dela) na saga intergaláctica mais conhecida do cinema
Por: Rafael Battaglia Popp (rafael.popp8ajm@gmail.com)
Pela cena inicial de Uma Nova Esperança, lançado há quase 40 anos, já dava para perceber que Star Wars entraria no imaginário das pessoas: uma nave espacial é vista voando pelo espaço, e em seguida um gigantesco Star Destroyer invade a tela, perseguindo e impondo todo o seu tamanho a já pequena primeira espaçonave.
A história criada por George Lucas foi um marco para o cinema e para a cultura pop em geral. Não por acaso, a Disney, atual detentora da marca, tem planos oficiais de expansão do universo da saga até o fim desta década. E, por mais que muitos considerem Star Wars mais uma fantasia do que ficção científica, é inegável que todo o plano de fundo para a trama principal seja um dos atrativos da série.
No entanto, apesar de as aventuras narradas se passarem “há muito tempo atrás”, estamos longe de fazer viagens que atravessem a galáxia, muito menos de empunhar um autêntico sabre de luz nos dias atuais. Ninguém obrigou que Star Wars se baseasse na ciência que conhecemos para construir sua mitologia, mas será que algum dia seremos capazes de reproduzir algumas das tecnologias apresentadas nos filmes?
O SÍMBOLO JEDI
“Uma arma elegante para uma era mais civilizada”. Obi-Wan Kenobi assim descreve os sabres de luz, a arma utilizada pelos cavaleiros jedis que rapidamente se tornou um dos ícones da série. Entretanto, na vida real, as clássicas batalhas com este tipo de espada estão bem longe de acontecer.
Partindo da ideia de que a “lâmina” dos sabres é feita com laser, a estrutura e a quantidade de energia gasta tanto para conceber quanto para manter o feixe de luz aos moldes do que é retratado nos filmes demandariam um enorme trabalho.
Os lasers nada mais são do que um amontoado de fótons, as partículas que formam a luz, organizados e concentrados através de espelhos. E, como o feixe criado é contínuo, seria impossível limitá-lo a um determinado comprimento, como mostrado em Star Wars.
Esse é apenas o primeiro dos problemas. Segundo o físico Cláudio Furukawa, do Instituto de Física da Universidade de São Paulo, seria necessária uma quantidade de energia enorme para criar os feixes dos sabres e impossível de ser armazenada em um espaço tão pequeno quanto os cabos da espada, pelo menos com a tecnologia que temos hoje.
Ainda que se desenvolvesse um modo de criar os sabres, da maneira mais parecida possível, as lutas jedis seriam barradas pelas leis da física. Como a luz pode ser refletida, qualquer um poderia se defender com um simples espelho. Além disso, como um feixe de luz não interfere na trajetória do outro, “uma espada não poderia rebater em outra durante uma luta”, explica Furukawa. O combate acabou antes mesmo de ter começado.
A DECADÊNCIA DO IMPÉRIO
Nenhuma lei da física impediria a construção da Estrela da Morte, que teoricamente é uma estação espacial gigantesca – e letal. Mas seus custos de produção, gastos de manutenção e força e tempo de trabalho necessários para sua realização provavelmente levariam a Terra à falência.
Em 2012, estudantes da Universidade de Lehigh fizeram uma estimativa de quanto custaria tamanha obra. Tomando como base um diâmetro de 140 km, o aço como material de construção e a densidade parecida com a de um porta-aviões, os alunos calcularam que seriam necessários aproximadamente 1.08 X 1015 toneladas de aço para o projeto.
Segundo o estudo, a Terra possui ferro suficiente para mais de 2 milhões de Estrelas da Morte. No entanto, levaria mais de 833 mil anos para extrair o necessário para construir apenas uma, dado o nível de produção de aço atual. Sem levar em conta as incontáveis viagens para levar o material e o contingente de trabalhadores que seria requisitado, os estudantes chegaram a um valor de US$ 852,000,000,000,000,000 (ou 852 quadrilhões de dólares), 13 mil vezes o valor do PIB mundial.
Fora toda essa infraestrutura, a Estrela da Morte de Star Wars é também uma arma de destruição em massa, “capaz de dizimar planetas inteiros”. Pois bem, atingir a enorme quantidade de energia para isso é simplesmente inviável. “Estima-se que seriam necessários por volta de 2 x 1030 joules de energia para explodir e fragmentar a Terra”, diz Furukawa. “Esta energia seria equivalente a energia liberada na explosão de cerca de 2 x 1017 bombas atômicas simultaneamente”, complementa.
O NASCER DOS SÓIS
Luke Skywalker, personagem central da trilogia original, é apresentado ao público em Tatooine, um planeta predominante desértico que, faz parte de um sistema constituído por duas estrelas, como mostrado em uma das cenas mais emblemáticas de Uma Nova Esperança.
Apesar de estranho à primeira vista, este é um fenômeno comum galáxia afora. Com o satélite Kepler, lançado em 2009, foi possível observar os sistemas binários. Em agosto do ano passado, cientistas da Universidade Estadual de San Diego anunciaram a descoberta do décimo planeta que orbita em torno de duas estrelas, batizado de Kepler 453-b.
Outra questão que parecia improvável dizia respeito às luas habitáveis do universo Star Wars. Tanto em Yavin quanto em Endor, ambas palco de combates decisivos da trama, havia uma biosfera parecida com a da Terra. Ao que tudo indica, não parece uma ideia muito distante da realidade.
Satélites naturais de grande porte e que cujo planeta esteja localizado nas chamadas zonas habitáveis (onde o nível de radiação é o ideal) podem ser uma alternativa viável. “Pesquisadores acreditam que a lua Europa de Júpiter pode conter oceanos parecidos com os da Terra, que poderiam abrigar vida humana”, acrescenta Furukawa.
UMA LONGA VIAGEM
Se toda essa conversa sobre sistemas de duas estrelas e de luas como nossa futura casa pareceu dar certa credibilidade científica a Star Wars, hora de mostrar o quão improváveis são alguns dos elementos da saga. Sim, estamos falando das viagens espaciais na velocidade da luz.
“Nada pode viajar com a velocidade da luz; a não ser a própria luz”, afirma Furukawa. Para ele, tomando como base a Teoria da Relatividade Geral, proposta por Albert Einstein no início do século XX, caso um corpo acelerando atingisse velocidades próximas a da luz, sua massa tenderia a aumentar infinitamente. “Com a sua massa tendendo ao infinito seria necessária uma força também tendendo ao infinito para manter a aceleração e, portanto, haveria a necessidade de combustível (energia) também infinito”, completa.
Outro problema é a rapidez com que as viagens espaciais são feitas nos filmes. O corpo humano suporta grandes acelerações, mas apenas por um curto período de tempo. “Uma aceleração de 16g’s (16 vezes a aceleração da gravidade) na direção vertical durante um minuto pode matar uma pessoa, pois o sangue desce para as pernas podendo provocar danos no cérebro”, diz Furukawa. O físico ainda ressalta que uma aceleração de 5 g’s nesta mesma direção já é o suficiente para causar desmaios.
Nosso corpo consegue aguentar maiores acelerações (e por um tempo maior) na direção horizontal, mas mesmo assim seria inviável manter esta pressão por mais do que alguns minutos. Nesse caso, uma alternativa poderia ser viajar com uma aceleração próxima à da gravidade na Terra, para que os tripulantes não fossem prejudicados. O problema é que, acelerando a 10 metros por segundo, levaria em torno de um ano apenas para conseguir alcançar a velocidade da luz.
Se não há como viajar desta forma, a única opção seria a de criar “atalhos” com a criação de buracos de minhoca, ou pontes de Eistein-Rosen. Com isso, ao invés de percorrer toda uma distância, as naves criariam tais encurtamentos no espaço, podendo viajar através do hiperespaço. A ideia do encurtamento de distâncias talvez possa explicar o orgulho de Han Solo ao dizer que a Millenium Falcon completou a corrida de Kessel em 12 parsecs, uma unidade de medida de comprimento, não de tempo.
Contudo, todos estes conceitos são, por ora, especulações teóricas e, portanto, impossíveis de serem utilizadas. Felizmente, temos hoje milhares de cientistas preocupados em desvendar os mistérios acerca do universo, empenhados em provar tais teorias, ou ainda encontrando novas e substituindo as anteriores. Mas tudo a seu tempo. Afinal, não foi da noite para o dia que os jedis aprenderam a controlar A Força, não é mesmo?