Por Beatriz Cristina
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Ver, olhar e enxergar são sinônimos usados para expressar a função de um dos nossos sentidos. A visão é um dos sentidos sensoriais mais importantes do corpo humano. Para termos uma maior noção de sua importância, é com ela que assistimos filmes e séries, reconhecemos lugares e pessoas, conseguimos ler e entender significados. E mais da metade das informações do nosso consciente são proveniente de algo que já vimos.
Até mesmo na poesia, a visão é algo transcendental e cheia de mistérios, mas ela não se restringe apenas a abrir e fechar os olhos para “enxergar a alma do outro”: é um processo biológico e físico, como um sistema de engrenagens dependente da luz, dos músculos e do sistema nervoso para funcionar corretamente.
Devido a uma certa complexidade envolvida, poucas vezes obtemos respostas para as questões relacionadas ao assunto. Por esse motivo, o Laboratório pesquisou muito e conseguiu explicações importantes para compreendermos melhor sobre o funcionamento da visão humana.
Várias partes com um objetivo em comum
A primeira coisa que vem na nossa mente quando pensamos na visão são os olhos. Também chamados de bulbos oculares, estão inseridos nas órbitas cranianas, revestidos por membranas e preenchidos por elementos transparentes especiais em seu interior, além dos anexos oculares que garantem a proteção contra corpos estranhos.
A Esclera (ou conjuntiva) é a parte branca dos olhos que dá formato e rigidez ao órgão. Em sua parte externa encontra-se a córnea, responsável pela cobertura da pupila e abertura da íris. A córnea, por sua vez, trabalha juntamente com o cristalino (também chamado de lente) no processo de concentração de raios luminosos da pupila para a retina. Por um tipo de lente que refrata a luz, o cristalino repassa essas “informações’’ para a retina de modo invertido.
O coroide encontra-se abaixo da esclera. Constituído por uma rede de vasos sanguíneos, consegue suprir a retina com nutrientes, e ainda, é onde se encontram a íris e a pupila. Na pupila há uma regulação da entrada de luz em direção à retina feita pelo tecido muscular da íris, ou seja, dependendo da quantidade de luz recebida, a íris faz a pupila se contrair ou dilatar:
No meio de tantos nomes e funções não há espaços vazios que não estejam devidamente preenchidos. Por exemplo, entre o cristalino e a córnea há humor aquoso que oferece proteção, nutrição e regulação da pressão ocular. E entre a retina e o cristalino, o humor vítreo faz a função de preenchimento.
A retina está na parte mais interna do olho e tem a função de “converter” as ondas de luz em impulsos nervosos para o nervo óptico, sendo assim, conta com aproximadamente 100 milhões de células fotorreceptoras entre cones (percebem cores) e bastonetes (percebem o branco, o preto e tons de cinza). Devido ao seu formato, conta com regiões no centro capazes de captar maiores detalhes e dimensão visual, chamados de mácula lútea e fóvea central. Sabe aquela história de que comer cenoura faz bem para os olhos? É bem verdade, já que as proteínas formadoras das células da retina necessitam da vitamina A para sua formação, que ser obtida através da ingestão de alimentos como cenoura, espinafre, fígado bovino, manga,etc.
A colorida Irís
Já falamos acima sobre a função da íris na regulação da entrada de luz na pupila, mas se maioria dos componentes oculares não possuem cores específicas, por que a íris é colorida? A resposta pode parecer complexa, mas é fácil de ser entendida. Segundo o médico oftalmologista Ricardo Tomoyoshi Kanecadan, a retina tem na parte da superfície externa um revestimento formado por células que possuem pigmentos, como a melanina, para absorver um pouco da própria claridade , sendo a musculatura responsável pelo movimento apenas da parte interna. A sua cor está relacionada aos genes hereditários ligados à deposição de melanina.
Como funciona a visão?
A luz é o principal elemento que possibilita enxergarmos não só a cor, como também a forma e a dimensão daquilo que está à nossa frente. Estamos tão acostumados a enxergar os objetos iluminados por fontes de luz que, evolutivamente, estamos adaptados aos ambientes diurnos e de muita luminosidade.
Essa luz emitida no objeto chega até o cérebro através da córnea, humor aquoso, pupila, cristalino e humor vítreo. Esses raios luminosos surgem cruzados até o humor vítreo, formando uma imagem invertida com cor e dimensão na retina. As células fotorreceptoras da retina convertem a energia da luz recebida em sinais elétricos que são enviados para o cérebro através do nervo óptico. A imagem é enviada de forma invertida até o cérebro, pois sofreu o processo de refração no percurso, sendo ajustada e interpretada de forma correta.
Você não precisa chorar para estar com os olhos lubrificados.
Mesmo quando não estamos chorando, nossos olhos estão sendo constantemente lubrificados. A lágrima produzida tem a função de lubrificar e evitar o ressecamento, pois a córnea precisa estar sempre úmida.
“Os olhos precisam estar sempre úmidos, como qualquer mucosa. Quem produz a lágrima são as glândulas dos cantos próximos ao olho e o piscar espalha essas lágrimas sobre os olhos. Só que essa lágrima é produzida constantemente, então precisa ser drenada para fora, por canais lacrimais até o nariz.” Afirma Ricardo. “ Por isso, quando choramos, o nariz acaba escorrendo ou quando pingamos colírio o seu gosto pode ser sentido na boca. São dois sistemas: um para produzir e o outro para drenar,como em dois sistemas de caixa d’água em que um leva a água para a torneira e o outro leva embora.”
Além do sistema de lubrificação, temos também as pálpebras para “finalizar” o movimento das piscadas e os cílios e as sobrancelhas para evitar a queda de agentes externos nos olhos, o que pode gerar coceira e inflamação da conjuntiva.
Não podemos ser ciclopes
Encontramos muitas histórias mitológicas relacionadas a ciclopes, seres que possuem apenas um olho. Salvo exceções ocorridas por más-formações, o ser humano possui um par de olhos devido à capacidade de enxergar espacialmente ao nosso redor: “O par de olhos nos dá uma tridimensionalidade. Para olhar uma coisa não olhamos na mesma direção porque temos que centralizar, ou seja, cada um vai olhar cada lado do objeto, as imagens serão transmitidas ao cérebro e ele vai fundí-las. Essa fusão é que dá a visão tridimensional.” Outro mecanismo usado pelo cérebro ocorre na troca de foco (entre um objeto e outro, por exemplo), quando o sistema nervoso deixa de receber informações visuais por cerca de 0,1 segundo. Por causa disso, o cérebro preenche esses momentos com imagens artificiais que nos dão a sensação de movimento contínuo que acreditamos estar realmente enxergando e não percebemos o ponto cego.
Quando enxergar se torna um problema
Nem sempre a visão é totalmente perfeita e sem problemas. A partir do nascimento ou ao longo da vida podem surgir problemas que afetem desde a forma como enxergamos objetos, cores e até mesmo a visão completa. Muitas das alterações já possuem tratamentos bastante conhecidos, outras estão relacionadas com o estilo de vida e idade e algumas ainda estão sendo estudadas.
Os problemas em relação à focalização da imagem que recebemos, entre eles a miopia e a hipermetropia, são corrigidos com o uso de óculos ou lentes. Ainda de acordo com Ricardo, esse problema de focalização ocorre na retina: “ A miopia ocorre quando a focalização é fraca. Os raios param no meio do caminho e não conseguem chegar ao fundo, por isso é preciso compensar com o grau que está faltando nela para que chegue até o fundo da retina. Já a hipermetropia ocorre quando as imagens caem atrás do olhos, ou seja, passa de onde deveria chegar. Então, é necessário usar as lentes que ‘puxam a imagem pra frente”.
Outros problemas de focalização, como o astigmatismo e a presbiopia, possuem o mesmo tipo de tratamento com o uso de óculos e lentes. O astigmatismo pode surgir em qualquer idade e apresenta como principal característica o embaçamento do limites das imagens, enquanto a presbiopia (ou vista cansada) está ligada à idade, em sua maioria a partir dos 40 anos, com a dificuldade de enxergar com nitidez.
Algumas pessoas não enxergam as mesmas cores que a maioria da população devido a um distúrbio genético ligado ao cromossomo X que afeta os cones da retina, doença conhecida como daltonismo. Para entendermos melhor como ele ocorre, é preciso voltar ao processo da fecundação e divisão celular: na divisão e formação dos genótipos, podemos dizer que a doença é condicionada por um alelo mutante no cromossomo X do gene responsável pela produção de um dos pigmentos visuais. Ela geralmente ocorre em pessoas do sexo masculino (XY), já que em pessoas do sexo feminino (XX) a possibilidade de manifestação do gene recessivo é menor. Falando a grosso modo, é como se “um alelo compensasse outro”, como podemos ver no heredograma abaixo:
Existem vários tipos de daltonismo, classificados pela dificuldades de enxergar certos conjuntos de cores e diagnosticados por um oftalmologista que incluem:
- Daltonismo Acromático: também conhecido por monocromacia, é o tipo mais raro, onde a pessoa enxerga a preto, branco e cinza, não vendo outras cores;
- Daltonismo Dicromático: a pessoa não possui um receptor de cor e, por isso, não consegue identificar uma das seguintes cores: vermelha, verde ou azul;
- Daltonismo Tricomático: é o tipo mais comum, em que há uma leve dificuldade em distinguir as cores, já que a pessoa tem todos os receptores de cores mas não funcionam bem. As cores que geralmente são afetadas são vermelho, verde e azul com suas diferentes tonalidades.
Ainda há uma doença em que a pessoa não consegue distinguir algumas cores. A Acromatopsia pode impedir totalmente de observar outras cores além de preto, branco e alguns tons de cinza. E ao contrário do daltonismo, não está ligada aos genótipos, mas à tumores lesões e alterações genéticas, afetando os cones da retina.
A perda parcial ou total da visão associada a doenças pode ser reversível, como é o caso da catarata (opacidade do cristalino), da enxaqueca e do descolamento da retina. Outras já possuem caráter irreversível, como o glaucoma (alteração do nervo óptico que danifica as fibras nervosas), a deficiência grave de vitamina A e complicações ocasionadas pela diabetes e nascimentos prematuros. O mapeamento do números de casos de deficiência visual total ou parcial pelo mundo também apontam a doença como um problema social. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), 90% dos casos de cegueira ocorrem nas áreas pobres do mundo e a cada ano 500.000 crianças ficam cegas no mundo, com apenas 10% desses casos em países desenvolvidos.
Não conhecia o site de vocês. Achei espetacular e muito rico de informações com uma linguagem extremamente didática.
Agradeço e prometo acessar mais vezes. Professor de Física em cursos pré-vestibular e ensino médio com ceteza vou indicar aos meus alunos.
Obrigado.