Uma história de amizade e altruísmo — esta é a ideia por trás de 15h17 – Trem Para Paris (The 15:17 to Paris, 2018), o lançamento mais recente do consagrado diretor Clint Eastwood. Baseado em fatos reais, o longa relata a trajetória de três amigos que impediram um atentado terrorista durante viagem no trem de alta velocidade entre Amsterdã e Paris, no dia 21 de agosto de 2015. O drama tem seu roteiro baseado no livro autobiográfico The 15:17 to Paris: The True Story of a Terrorist, a Train, and Three American Soldiers, de autoria compartilhada entre o escritor Jeffrey E. Stern e os “três soldados americanos” em questão: Anthony Sadler. Alek Skarlatos e Spencer Stone.
O filme acompanha o trio de protagonistas desde suas infâncias conturbadas, onde a indisciplina escolar faz com que se conheçam após frequentes visitas à sala do diretor do colégio primário. Apesar desse estopim tortuoso, a amizade entre os meninos se fortalece de fato graças a duas paixões que nutrem em comum: armas e guerra.
O surgimento e desenvolvimento da relação são abordados de forma rápida e superficial, terminando repentinamente com a mudança de Skarlatos e sua família para outra cidade. Essa ruptura brusca, somada ao grande lapso de tempo que ocorre na sequência, incutem no espectador a impressão de que os três garotos não foram mais que apenas eventuais colegas.
Já na casa dos 22 anos, cada um dos amigos traçou um rumo diferente em sua vida: Sadler está em seu último ano de faculdade, Skarlatos faz parte de uma ocupação militar no Oriente Médio e Stone passa a integrar a força aérea americana em Portugal. A partir deste segmento os personagens principais passam a ser interpretados por si mesmos, fazendo com que a inexperiência destes na atuação e a nítida diferença de desempenho entre o trio e seus pares, atores de ofício, comprometam significativamente a qualidade do filme.
Com as férias de Sadler e a dispensa de Skarlatos de sua missão, os amigos se encontram na Itália para o início de uma viagem pela Europa. Entra em cena mais um componente padrão para o bom herói americano: a fé. Em diversos momentos, Stone comenta com seus colegas que “algo superior” os reunia ali, que nada acontecia por acaso e que cada pessoa tem uma missão designada para si, praticamente antecipando o que viria a acontecer no desfecho da película.
Os vinte minutos finais, aliás, são quando os protagonistas melhor desempenham seus papéis. Devido à sequência ser muito mais baseada na ação que nos diálogos, e por ter sido exatamente a situação pela qual eles passaram anteriormente, a atuação torna-se mais crível. O embate contra o terrorista, o socorro a um passageiro ferido e a condecoração honrosa na França acabam redimindo parcialmente a fragilidade da trama.
Apesar de certamente não figurar entre os melhores filmes da carreira de Eastwood, 15h17 – Trem para Paris cumpre de forma razoável a função de homenagear os três companheiros que evitaram a morte de mais de 500 pessoas a bordo do trem holandês. Consequentemente, o filme acaba também prestando um grande tributo ao conhecido arquétipo do herói estadunidense: patriótico, religioso e que carrega o senso de dever acima de tudo.
15h17 – Trem para Paris estreia dia 08 de março nos cinemas brasileiros. Confira o trailer:
por Renato Navarro
renatonavarro@usp.br