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O que toca na Sala33: Mulheres

8 de março é o Dia Internacional das Mulheres, o que faz todos pararem por pelo menos alguns segundos para pensar sobre a luta que é ser mulher em um mundo que foi estruturado e é guiado pela lógica masculina. Porém, ao contrário da maioria do mundo, o feminino não pode deixar para pensar nisso …

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8 de março é o Dia Internacional das Mulheres, o que faz todos pararem por pelo menos alguns segundos para pensar sobre a luta que é ser mulher em um mundo que foi estruturado e é guiado pela lógica masculina. Porém, ao contrário da maioria do mundo, o feminino não pode deixar para pensar nisso apenas um dia por ano, tendo que travar batalhas constantes e incansáveis para atingir o mínimo de direitos e o respeito por parte dos homens.

As artistas femininas aproveitam o mundo da música para divulgar um pouco mais as ideias dessas lutas e mostrar indignação pelo que veem ao redor do mundo. Por tudo isso, fizemos uma seleção de músicas cantadas por mulheres e que falam um pouco sobre as dores de ter que lutar pelo respeito do mundo diariamente.

 

 

Kesha – Praying (Maria Carolina)

Essa é uma música que me toca muito. Primeiro, pela história que a precede. Kesha foi abusada tanto física quanto mentalmente por seu ex-produtor Dr. Luke e passou por uma longa batalha judicial para provar isso. Ela literalmente passou pelo inferno, como diz na música. Mas se reergueu. E é disso que essa música trata. Após tudo isso, ela conversa com o seu abusador de maneira crua e sincera, dizendo que espera que a alma dele mude.

Segundo, pela letra que dói de ouvir.

Terceiro, pela maneira que ela canta. É uma voz tão cansada e, ao mesmo tempo, tão potente que eu fico arrepiada todo vez em que ouço. Kesha passou por uma situação horrível, conseguiu se reerguer lutando por si mesma e agora conta a história para que possa ajudar outras pessoas que passam pelos mesmos problemas. Para mim, esse é o significado de girl power.

Liz Phair – 6’11”

PJ Harvey – 50 ft Queenie  (Fredy Alexandrakis)

No tópico de mulheres grandonas-pra-caralho, queria deixar duas indicações de músicas do mesmo ano. Foi em 1993 que ambas PJ Harvey e Liz Phair soltaram discos já lendários: Rid of Me e Exile In Guyville, respectivamente. Com eles, as duas se posicionaram firmemente no centro da conversa sobre rock alternativo da época. A música delas era mais desafiadora e barulhenta do que a de muitos dos seus colegas homens que dominavam a cena, e de quebra abordava temas de sexo e gênero em letras ousadas até para os padrões de hoje. Mas também indico essas duas faixas juntas por seu conteúdo lírico: as duas veem as roqueiras proclamando a sua própria superioridade usando metáforas sobre tamanho. Em “6’1″”, Phair mostra que não se deixou diminuir por um cara que passou por sua vida (“I kept standing 6’1″ instead of 5’2″ / And I loved my life / And I hated you”). Em “50ft Queenie”, Harvey toma uma rota ainda mais irreverente e inverte um discurso falocêntrico para falar que ela é uma rainha grandona mesmo – e se alguém quiser medir os documentos dela, estão mais que convidados.

The Runaways – Queens of Noise (Mel Pinheiro)

Se até hoje é difícil encontrar bandas de rock formadas só por meninas que encontraram um razoável sucesso, imagine nos anos 70. The Runaways abriram espaço para várias outras que vieram a seguir, desde Girlschool até as meninas do movimento riot grrrl dos anos 90, como Bikini Kill e Sleater Kinney. Em 1977, elas lançaram esse hino de empoderamento feminino e mostraram que eram sim as rainhas do barulho.

Carne Doce – Falo (Bárbara Reis)

Apesar de Salma, vocalista e compositora da banda, não gostar da alcunha de “hino do feminismo” que essa música ganhou, é difícil desapegar dessa associação. “Falo”, do segundo disco da banda, Princesa (2016), é uma canção afiadíssima sobre o machismo cotidiano, especialmente no que diz respeito à tentativa de calar e deslegitimar mulheres. Alguns exemplos tratam especificamente dos desafios enfrentados por uma mulher que se coloca no ambiente marcadamente masculino do mercado musical. Todos os versos são de arrepiar e dão vontade de sair berrando na rua, especialmente a estrofe final. Nos shows da banda, é um momento de catarse total que lava a alma mas ouvir em casa pode te dar uma amostrinha dessa sensação também.

Nina Simone – Feeling Good (Bruna Arimathea)

The freedom is mine and i know how i feel. Assim, Nina Simone termina a icônica Feeling Good, uma música que o próprio instrumental arrepia e mostra a força protagonizada por uma mulher que lutou a favor dos direitos civis e dos negros norte americanos. A canção imponente foi a primeira que me veio à cabeça nesse tópico porque me traz uma sensação muito grande de controle da própria vontade. Invocando diversas situações, o que importa é como você se sente, é a chegada do novo e o que ele traz pra protagonista, só para ela. Esse certo ‘egoísmo’ do sentir que muitas vezes é negado à mulher pela pressão de trabalho ou filhos aqui é ressaltado e entrega o empoderamento durante os 2:54 minutos de música.  

Ana Cañas – Respeita (Sabrina Brito)

Toda mulher do mundo sabe que o que mais falta quando se trata da forma como o mundo nos enxerga é respeito. Essa música fala disso e, acima de tudo, do empoderamento que é tão importante pras minas todas.

Ana Tijoux – Antipatriarca (Gabriela Bonin)

O motivo pelo qual escolhi essa música fica óbvio ao ler a letra de toda a canção. Ana Tijoux é uma cantora chilena que conheci no ano passado em uma aula de espanhol. Essa música é, em minha opinião, um resumo do feminismo em que acredito. Gosto muito da força da língua espanhola e é incrível ouvir uma mulher cantar em espanhol a seguinte letra: ‘eu não vou ser a que obedece, porque meu corpo me pertence / eu decido o meu tempo como eu quero e onde eu quero / independente eu nasci, independente decidi / eu não ando atrás de você, eu ando em par‘. Além da letra, o clipe é sensacional, protagonizado por diversas chilenas, únicas em suas peculiaridades.

KT Tunstall – Suddenly I See (Giovana Christ)

Essa música, dependendo de como você escuta, não fala diretamente sobre feminismo. Mas, sua letra fala de uma mulher admirando a outra por sua liberdade e seu jeito de lidar com os outros. De início, o eu lírico não entende o porquê de tanta admiração (Why the hell it means so much to me?), entretanto, logo percebe que é isso que quer para si mesma.

Para mim, essa é uma das maiores consciências que os movimentos das mulheres traz: o poder de mudar a ideia de competidoras para companheiras, que podem colaborar uma com as outras. Quer melhor inspiração, do que uma mulher livre? She makes me feel like I could be a tower / A big strong tower, yeah

U.S. Girls – Pearly Gates (Daniel Medina)

Nos últimos dias tenho ficado em êxtase com o álbum da Meghan Remy aka U.S. Girls — In a Poem Unlimited. É uma mistura incrível de diferentes estilos e atinge uns patamares de melodia que me deixam muito feliz. As batidas dançantes e intensas são uma espécie de camuflagem para letras de crítica e exposição que se fazem presentes no álbum como um todo, a respeito do viver feminino — e por isso a escolha da música. “Pearly Gates” é, ao meu ver, um dos pontos mais altos do álbum. A começar pela sonoridade, a música é talvez a maior e mais prazerosa viagem do disco: uma batida que recorda o hip-hop primordial da década de oitenta e noventa e dialoga fortemente com o funk e R&B da de sessenta, ainda conversando com o glam de cores vibrantes da era disco. A letra é construída em torno da aparição de São Pedro nas portas do paraíso (retratado com exuberantes cores neon no videoclipe), numa metáfora inspirada no diálogo em que um homem tenta convencer uma mulher a transar sem proteção porque ele seria “ótimo a parar no tempo certo” — que mais serve para evidenciar cruamente o contexto sociocultural responsável por imprimir uma ideia de inferioridade a mulheres. “Never, never be safe / even if you’re in the Gates  / Give it up, you’re just some man’s daughter”. Prestes ao fim, a extrapolação sentimental mais uma vez ganha auxílio da fina voz de Remy, que com entoação pungente e repetida se encarrega de mostrar indignação sem amarras.

Beyoncé ft. Chimamanda Ngozi Adichie –  ***Flawless (Gabriel Bastos)

Por que pautar Beyoncé mais uma vez? Pois no meu olhar “leigo” e sem qualquer lugar de fala, consigo ver nesta brilhante artista um forte poder e visibilidade na luta por direitos iguais. Ela que é mulher, negra, e uma das pessoas mais famosas e veneradas do mundo, fez de sua música e sua imagem grandes holofotes para as causas das quais levanta a bandeira. Vejo e sinto que há uma injeção de autoconfiança quando a cantora exalta a mulher, proclamando a perfeição de sua existência. Flawless também mostra sua força com a inserção de um trecho de um discurso marcante da autora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie atualmente, uma das maiores vozes do feminismo no mundo. Somados a isso, temos a deliciosa musicalidade de Beyoncé com sua fábrica de hits, que conseguem unir o útil/importante (levar ao público o debate sobre o feminismo) e o *muito* agradável, que é suas batidas maravilhosas que poderiam ser escutadas por horas e mais horas.

Karol Conká – Lalá (Fernanda Teles)

Muito se fala em feminismo, mas mesmo assim, ainda pouco se fala sobre liberdade sexual feminina. O tabu persiste e o machismo o reforça com piadinhas constantemente: se você ousar ser livre sexualmente, você é uma “vadia” (ou qualquer variação de vocabulário, que tenta nos fazer sentir vergonha de algo natural). Nessa música, Karol Conká fala sobre o tema. Afirma a cada verso que mulher nenhuma deve ter vergonha ou medo quando assunto é sexo. Elas deve ousar fazer tudo o que querem e do jeito que querem.

Ah, e além disso, a cantora faz questão de deixar claro: homens, vocês não são tão bons assim quanto pensam.

Joan Baez – Diamonds And Rust (Carolina Unzelte)

Esse não é o típico hino do empoderamento feminino, mas traz aspectos interessantes para discutir a condição das mulheres em relações heterossexuais. Joan Baez se relacionou com Bob Dylan e essa canção, de 1975, é uma referência a esse relacionamento: nela, a cantora conta sobre uma ligação telefônica que recebeu de seu ex, que “vem como um fantasma novamente” e lembra que Dylan fazia pouco caso de sua poesia. Baez se recorda dessa relação ruim e parece sair dela mais forte, o enxergando com uma lucidez que não tinha na época. E tudo isso antes da popularização da expressão “relacionamento abusivo”.

Francisco, El Hombre – Triste, Louca ou Má (Júlia Vieira)

Um homem não te define. Sua casa não te define. Sua carne não te define. Você é seu próprio lar!

Uma canção de empoderamento e força feminina, que grita o que silenciam. Uma música que eu queria cantar para cada mulher desse Brasil, para cada mulher que não tem acesso à informação e continua presa nas garras do machismo, para cada mulher que acha que precisa seguir a receita cultural para ser aceita, para cada mulher que tem medo de seguir a receita e ser menos feminista por isso. Ela fala o que nós, mulheres, queríamos dizer a todas as outras.

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