Por Aline Noronha (alinenoronha@usp.br)
Nesta última quinta-feira (25/07), a estreia da seleção brasileira feminina no futebol foi marcada pelo intenso jogo contra a Nigéria. De um lado, a seleção nigeriana ganhadora de 11 edições da Copa Africana das Nações de Futebol Feminina, mas que estava há 16 anos sem participar das Olimpíadas. Do outro, a equipe do Brasil, que buscava resultados com uma nova gestão e elenco, após ser eliminada precocemente da Copa do Mundo Feminina.
Antes do início da partida, durante o hino nacional, as jogadoras da seleção brasileira já se emocionavam pela oportunidade de defender seu país em um evento tão grande quanto as Olimpíadas — a meio-campista Duda Sampaio, por exemplo, não conseguiu conter as lágrimas.
A equipe vigente conta com uma mudança radical em comparação aos anos anteriores. Das 18 atletas convocadas, apenas Rafaelle, Ludmila, Marta e Tamires já jogaram a competição anteriormente, o que trouxe a campo uma questão emocional para ser vencida também. O técnico Arthur Elias, desde os primeiros minutos de jogo, pedia às jogadoras concentração e foco para minimizar os erros e garantir os três pontos tão importantes ao Brasil.
O gol do “jeitinho brasileiro”
Durante metade do primeiro tempo, a partida estava relativamente equilibrada com 53% de posse de bola para a seleção brasileira e 47% para a nigeriana. Apesar da ligeira diferença, o espaçamento entre as linhas das jogadoras criava para o Brasil uma dificuldade na criação e finalização de jogadas em direção ao gol. Por exemplo, passes de tabela, que consiste em as atletas se locomoverem passando a bola uma para a outra, eram facilmente interceptados pelas adversárias.
A seleção nigeriana soube controlar mais o jogo usando suas principais características de velocidade e vantagem física ao seu favor, sobretudo durante os contra-ataques. O lado direito foi mais acionado pelo seu ataque, que aos 15’ obrigou que a goleira brasileira Lorena fizesse uma grande defesa.
O esquema tático do jogo foi 4-4-2, mas durante o ataque tinha a versatilidade para se tornar um 2-3-5 [Reprodução/Instagram:@gabinunes9]
Os erros táticos iniciais do Brasil se concentravam no meio de campo — a capitã Marta estava mais avançada e deixava essa região mais fragilizada —, enquanto, do lado nigeriano, as jogadoras estavam fixas em suas posições. Isso dificultava a ligação da bola das zagueiras brasileiras até as atacantes e dificultava os chutes de fora da área para o gol.
Quando se iniciava um ataque do Brasil, Ludmila, que foi destaque de velocidade e tática na partida de estreia, tinha que esperar, próxima da grande área e com grande chances de desarme, as demais jogadoras brasileiras se aproximarem. Por causa do ataque mais devagar, a equipe nigeriana conseguia elaborar melhores defesas e contra-ataques.
A seleção do continente africano, aproveitando essas brechas, estava gostando da partida e se mantendo viva, até que o passe de Antonia para Marta balançou as redes do Estádio de Bordeaux, aos 35’. Após a comemoração, o gol foi anulado por impedimento, mas o seu impacto desestabilizou a defesa adversária, que não conseguiu se recuperar rapidamente.
No lance seguinte após a anulação, aos 36’, Gabi Nunes exerceu um ótimo domínio de bola e, com o passe de Marta, balançou as redes novamente em um gol legal, que garantiu a vitória brasileira. Durante esse ataque, as linhas brasileiras estavam mais próximas e sobrecarregaram a defesa nigeriana. A esse exemplo, para que o Brasil consiga realizar mais pressão nos próximos adversários, essa parte tática e técnica precisa ser organizada de forma mais assertiva por Arthur.
“Só alegria, agradeço a Deus pelo gol e às meninas por lutarem até o final”
Gabi Nunes
Nesses dois lances, a importância de uma jogadora como Marta para a seleção brasileira foi destacada. A capitã, que está na sua sexta olimpíada, articula e potencializa o seu time pela experiência de campo adquirida e pelo fato de conhecer as regras do jogo. Ela é uma verdadeira liderança e referência às demais atletas compatriotas que iniciam suas trajetórias em competições desse tipo.
Marta não conseguiu marcar gols neste jogo com a camisa brasileira, mas apresentou o protagonismo e esforço necessários para honrar a seleção. Arriscou chutes e cruzamentos em direção ao gol, que apesar de não entrarem dessa vez, prometem ser decisivos nas próximas partidas.
Nos acréscimos do primeiro tempo, a bola bateu no braço da defesa nigeriana e, após dois minutos e quarenta segundos de análise, a árbitra sul-coreana optou por não marcar pênalti, o que fez a torcida brasileira reagir com altas vaias.
A seleção brasileira feminina segue invicta contra a seleção nigeriana: nos três confrontos, o Brasil levou a melhor [Reprodução/Instagram: @gabinunes9]
Jogadas que não vingaram e preocupações futuras
No segundo tempo, a seleção brasileira conseguiu preencher melhor os espaços entre as linhas e criou mais vantagens de gol. A Nigéria teve maior dificuldade de tirar suas adversárias do campo de ataque e, se no primeiro tempo as melhores chances para o Brasil surgiram em contra-ataques, agora as jogadoras possuíam maior versatilidade em criar jogadas mais elaboradas.
A seleção brasileira aumentou sua posse de bola para 55%, enquanto a nigeriana caiu para 45%. Marta obteve duas ótimas oportunidades para balançar as redes aos 59’, com um cruzamento que fez com que a bola realizasse um ângulo surpreendente, mas que foi de encontro ao travessão, e depois aos 72’, de frente para a goleira nigeriana, mas não conseguiu concretizá-las.
O Brasil, após suas substituições, não conseguiu manter o mesmo nível de concentração e atenção durante a metade final do segundo tempo. Isso trouxe novamente a Nigéria para o jogo, que através de bolas longas tentou se infiltrar nos espaços brasileiros, mas apesar dos sustos, não fizeram nenhum gol.
O placar final de 1 a 0 foi importante para o Brasil, mas teria sido melhor se essa diferença fosse maior, haja vista que os próximos confrontos da seleção serão com um maior nível de dificuldade contra o Japão e posteriormente a Espanha. Um saldo de gols mais expressivo poderia trazer mais confiança e segurança para as próximas rodadas brasileiras no grupo C.
Outra preocupação é o condicionamento físico das jogadoras, que será testado durante as Olimpíadas, já que o tempo de recuperação entre as partidas é menor em relação ao habitual. A saída de Tamires no primeiro tempo, pela dor no tornozelo após uma disputa de bola violenta com a jogadora Ucheibe, e a queda após uma defesa de escanteio da goleira Lorena, que sentiu dores do quadril, podem se tornar uma preocupação para o time brasileiro nos próximos jogos.
Imagem da capa: [Reprodução/Instagram: @gabinunes9]
Explorar os esquemas táticos do time brasileiro (tanto masculino, quanto feminino), é o futuro e a salvação do nosso futebol, porque técnica os times possuem