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Saúde mental na universidade: um tema esquecido

Por Maria Clara Rossini (mariaclararossini@usp.br) Palestra na USP ressalta a importância de uma maior discussão A saúde mental de estudantes universitários vem ganhando foco e sendo cada vez mais discutida no meio acadêmico. No dia 06 de março de 2018 foi realizada uma palestra gratuita sobre o tema na Universidade de São Paulo (USP), a …

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Por Maria Clara Rossini (mariaclararossini@usp.br)

Palestra na USP ressalta a importância de uma maior discussão

A saúde mental de estudantes universitários vem ganhando foco e sendo cada vez mais discutida no meio acadêmico. No dia 06 de março de 2018 foi realizada uma palestra gratuita sobre o tema na Universidade de São Paulo (USP), a qual se preocupou em evidenciar a gravidade do tema, além de falhas comuns cometidas na abordagem do mesmo. Denominada “Existem transtornos mentais na academia? Como lidar?”, a apresentação foi conduzida pelo psiquiatra e psicoterapeuta Eduardo de Castro Humes, o qual abordou o assunto de maneira sensível e atribuiu-lhe sua devida importância.

O adoecimento e estigma

Diferentemente de como muitas vezes é tratado, o sofrimento psíquico não é acarretado por acontecimentos específicos como uma nota baixa ou desavença com um professor. Segundo o psicólogo, é um conjunto de fatores biológicos, ambientais e sociais que podem resultar nesse quadro. Os indivíduos que sofrem do problema percebem todo o ambiente que os cerca de forma diferente, e não apenas eventos isolados.

A visão errônea sobre o tema muitas vezes resulta no estigma, um dos principais obstáculos que impedem as pessoas de procurarem ajuda profissional. Esse estigma envolve crenças negativas acerca do portador de transtorno mental, classificando-o como agressivo, perigoso ou mesmo necessariamente dependente  do auxílio terceiros. Como exemplo, o psicólogo cita a recente fala do presidente Donald Trump, o qual decidiu culpar os portadores de distúrbios mentais pelos últimos casos de tiroteios em massa nos Estados Unidos, em vez de focar na questão do fácil acesso à armas.

Transtornos mentais na vida acadêmica

Campanha realizada pela Frente Universitária de Saúde Mental / Imagens: reprodução

O momento da graduação pode ser o gatilho para transtornos mentais não apenas pela pressão do curso ou da universidade, mas por diversas mudanças na vida do indivíduo que em conjunto podem propiciar o caso. Humes aponta quatro desses fatores em sua palestra.

O primeiro se relaciona com o fim da adolescência (idade com a qual muitos jovens entram na universidade) e o período em que o cérebro ainda está em formação. Esse momento é quando as principais e mais prevalentes doenças mentais começam a se manifestar. O segundo está na mudança de paradigmas, em que o jovem ganha mais responsabilidade e liberdade. O terceiro é o maior acesso a múltiplas drogas que afetam diretamente o cérebro, sejam essas lícitas ou não. Por fim, o palestrante cita problemas com a seleção da faculdade, visto que muitas vezes o aluno que costumava a ter destaque no ensino médio passa a não necessariamente ter o mesmo status na graduação.

Todas essas variáveis podem resultar primeiramente no Burnout, o qual pode escalar para casos mais graves de depressão, ansiedade e outros transtornos mentais. Segundo o psicoterapeuta, Burnout é uma “síndrome psicológica que ocorre em resposta a uma exposição crônica a estressores no trabalho”. Tal síndrome é resultado da exaustão, distanciamento afetivo e sensação de falta de eficácia e insucesso. Não é incomum que ele se manifeste em contextos de sobrecarga de trabalho, pouca autonomia ou outras vulnerabilidades individuais.

Também foi citado um dado chocante, mas não surpreendente: 50% dos estudantes de medicina sofrem com o Burnout. Em outros cursos é provável que a taxa não se distancie muito desse valor. Isso resulta na dificuldade de aprendizado, pensamentos sobre o abandono do curso e, em casos mais graves, depressão.

O psicólogo aproveitou para ressaltar que a depressão não é apenas uma tristeza, infelicidade ou Burnout, e sim uma doença que precisa ser tratada com auxílio médico. Essa é uma condição que pode ser crônica, diminuindo drasticamente a qualidade de vida e até levar à morte.

Ainda é pequena a parcela da população que procura ajuda, seja devido ao estigma, falta de tempo ou medo das consequências. Para aos poucos quebrar essa tendência, é necessário que o tema seja cada vez mais discutido e difundido na academia. Dessa forma, é possível diminuir o tabu e o estigma relacionados ao assunto, facilitando o diagnóstico precoce.

O psicólogo e psicoterapeuta Eduardo de Castro Humes se apresenta na Arena Santander / Imagem: Maria Clara Rossini

Prevenção

A principal mensagem que o palestrante procurou transmitir é a necessidade de se cuidar. O autocuidado é uma chave fundamental para a prevenção e tratamento. Alguns pontos citados foram a necessidade de um bom sono, boa nutrição, hobbies não relacionados a área de estudo, conhecer os seus limites e aprender a dizer não. Também é importante reconhecer o adoecimento de outros por meio de traços de mudanças em pessoas próximas, visto que quem sofre de depressão ou Burnout possui dificuldade em identificar a condição em si mesmo.

A universidade também tem a responsabilidade de reconhecer o problema cada vez mais recorrente e promover ações para amenizá-lo. Programas institucionais para lidar e orientar com situações difíceis (como violência nos campi) são exemplos. Da mesma forma, intervenções individuais e institucionais para promover o autocuidado e oferecer serviços de aconselhamento e tratamento são maneiras importantes de contornar a questão.

Muitas faculdades disponibilizam serviços médicos de graça ou a preço reduzido. Na Universidade de São Paulo é possível procurar ajuda no ambulatório de psiquiatria do Hospital Universitário (HU) ou no Instituto de Psicologia (IP). Já fora da USP, algumas opções são consultórios particulares ou com convênio, SUS ou mesmo outros locais de ensino que disponibilizam esse serviço.

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