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22º Festival É Tudo Verdade – A Copa dos Trabalhadores

Este filme faz parte do 22º Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade. Para mais resenhas do festival, clique aqui. Durante a pausa para o almoço da construção de um dos estádios que sediará a Copa do Mundo de 2022, no Catar, um grupo de africanos discute sobre o que mais sentem falta da vida …

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Este filme faz parte do 22º Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade. Para mais resenhas do festival, clique aqui.

Durante a pausa para o almoço da construção de um dos estádios que sediará a Copa do Mundo de 2022, no Catar, um grupo de africanos discute sobre o que mais sentem falta da vida em seus países de origem. Num primeiro momento, alguns riem sobre a carência de mulheres, mas quando o ganense Kenneth fala sobre liberdade, o tom logo muda – o que faz ainda mais sentido quando descobrimos à frente que eles não tem tempo nem para um encontro romântico. Um deles ainda completa que a liberdade deles só chegará quando houver “uma emancipação da escravidão moral”. O que A Copa dos Trabalhadores (The Workers Cup, 2017) faz é tentar retratar um desses respiros de liberdade: o futebol.

Umesh appears in The Workers Cup by Adam Sobel, an official selection of the World Cinema Documentary Competition at the 2017 Sundance Film Festival. Courtesy of Sundance Institute.

Após ser escolhido sede da próxima Copa, o Catar definiu que uma grande parcela daqueles que ergueriam a infraestrutura do evento seriam imigrantes. Fugindo de conflitos civis ou procurando uma forma de alimentar esposas e filhos, eles viriam de países como Gana, Quênia, Nepal e Índia por melhores condições de vida. Todos eles, no entanto, ilegais se decidirem parar de trabalhar ou mudar de empresa – Kenneth, por exemplo, foi aliciado esperando jogar futebol, porém descobriu que, segundo regras do contrato, só poderia começar a pensar numa carreira após cinco anos de serviço. Frente a tantas restrições, a FIFA decide organizar um campeonato para os trabalhadores, com direito a troféu e várias fotos que ostentem a “transparência e inviolabilidade” das condições de trabalho das obras.

Para alguns, isso surge apenas como diversão. Para outros, uma oportunidade ingênua de serem descobertos por olheiros. Certos ou não, a verdade é que àqueles que nada tem, isso é tudo. Por conta disso, se a frase que o diretor da empresa diz quando a equipe perde a primeira partida (“não se preocupem, é só um jogo”), revela uma profunda falta de empatia, a garra e alvoroço com que comemoram o primeiro gol é contagiante. Infelizmente, nada disso passa, como um dos gerentes mesmo comenta, de mais visibilidade para que os aliciadores convertam em mão-de-obra e lucro.

Longes de tudo e todos, por ainda estarem bem abaixos do montante de salário necessário para conseguirem um visto para seus familiares, o que os resta é o sentimento de solidão, como desabafa o nepalês Padam. O resultado disso pode ser visto, por exemplo, na cena em que um indiano conta como teve sua perna perfurada pelo colega de quarto, que por sua vez tentava se passar por louco para poder retornar ao país de origem. Mesmo que unidos pela condição de imigrante, cada um deles têm em primeiro lugar seus próprios sonhos e preocupações.

Workers_1

E aqui, é importante pontuar como esses momentos tornam-se mais fortes pelo contraponto que fazem a felicidade das cenas de futebol. Em outras palavras, nunca cansamos das entrevistas ou do futebol, porque a montagem é precisa intercalando as duas situações, de forma a manter o interesse crescente de ambas. Interesse este que só existe pelo acesso quase que pleno que o diretor Adam Sobel e sua equipe têm mesmo das situações mais íntimas. O descolamento documentador/documentado é tão verossímil que os últimos se vem totalmente confortáveis para chorar ou brigar no telefone em frente à câmera. E se os momentos em campo são poderosos, isso ocorre por estarmos justamente no banco de reservas, assistindo ao jogo não sob a perspectiva impessoal das tomadas aéreas de coberturas esportivas, mas como mais um dos imigrantes.

Mesmo que falhe pontualmente ao tentar buscar uma dramaticidade dispensável – como quando segue Kenneth até a marca do pênalti ou filma o indiano Umesh observando por uma fresta, o shopping que divide sua área de trabalho por um tapume de madeira –, A Copa dos Trabalhadores é simples, engajante e sintomático, e como Kenneth comenta ao fim, luta para que indianos, nepalenses, ganenses e quenianos “sejam considerados como jogadores de futebol, não trabalhadores [imigrantes]”.

 

Vídeo do diretor Adam Sobel sobre o filme:

por Natan Novelli Tu
natunovelli@gmail.com

 

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